Expor ideias e opiniões nas redes sociais é muito mais fácil que apresentá-las pessoalmente a alguém, principalmente quando o outro pensa de maneira diferente. No entanto, a troca de um rosto real pela tela do celular ou do computador pode prejudicar a capacidade de comunicação off-line e ainda incentivar o uso de palavras e expressões negativas que dificilmente fariam parte do vocabulário se o diálogo ocorresse face a face.
Em um artigo para o site de pesquisa Family and Media, Cecilia Galatolo afirma que isso é resultado da ilusão de controle que existe nas redes sociais, já que o indivíduo pode parar de escrever a qualquer momento, deixar de seguir uma postagem ou bloquear um contato inconveniente. “Mas que consequências isso pode ter na nossa maneira de se comunicar, de nos aproximarmos do outro ou de dizermos o que pensamos?”, questiona.
Segundo ela, ainda que pareçam não nos afetar negativamente, as interações online trazem resultados dentro e fora das redes. Por isso, é necessário analisar o próprio comportamento virtual com frequência para evitar arrependimento por algo que escreveu. Afinal “se você não teme a reação do outro e se não vê consequências ‘tangíveis’ de suas ações, corre o risco de refletir menos sobre o que faz”, aponta ela, que cita os cinco principais perigos ao escrever nas redes sociais.
“Se você não teme a reação do outro e se não vê consequências ‘tangíveis’ de suas ações, corre o risco de refletir menos sobre o que faz”
1. Não pensar antes de escrever
O primeiro deles é exatamente escrever demais antes de pensar o suficiente. De acordo com um estudo conduzido pelo professor em psicologia John Super, da Universidade de Cambridge, a sensação de invisibilidade nas redes remove barreiras psicológicas do usuário, podendo incentivar comportamentos desagradáveis, agressivos e pouco convencionais.
Com isso, o indivíduo trata a tela como uma espécie de escudo que o protege de dormir com um olho roxo, por exemplo, e isso faz com que escreva tudo o que pensa, principalmente em páginas muito visitadas. “Por mais que corramos riscos, continuamos sendo ‘um de muitos’, especialmente quando discutirmos assuntos controversos e de interesse geral, que são perdidos entre centenas”, comenta Cecilia. “Pense em uma criança que acha que não é vista por sua mãe”.
2. Ser arrogante
A sensação de que não existem consequências no mundo online e de que é possível dizer tudo o que vem à mente sem pensar antes de escrever também pode levar o usuário a usar um tom arrogante e não filtrar as palavras. Com isso, a quantidade de conflitos verbais, reclamações, insultos e xingamentos nas redes se torna muito maior do que na vida real, já que na presença de outras pessoas a conversa tende a manter um tom moderado.
3. Ignorar que há uma pessoa por trás de determinada postagem
Ao realizar comentários e críticas em sites e nas redes sociais, o usuário esquece que há uma pessoa por trás daquela postagem e que esse sujeito também possui sentimentos, uma história, qualidades e defeitos. “Acabamos atacando ferozmente o interlocutor, o que, provavelmente, não faríamos se estivéssemos cara a cara”, pontua Cecilia. “Na prática, vamos atacar a opinião e a pessoa como se fossem a mesma coisa”.
4. Esquecer regras básicas de convivência social
A sensação de distância entre as pessoas no mundo virtual também faz com que o usuário deixe de lado regras básicas de convivência que seriam comuns em um passeio com amigos, no trabalho ou durante compras no mercado. “Pessoalmente, somos ‘retidos’ pelo pensamento de manter os relacionamentos vivos e sabemos que, para fazer isso, não podemos atirar em quem temos ao nosso lado”, explica Cecilia, que não vê o mesmo cuidado na internet. Ali “as conversas ocorrem sem filtros, o que não seria imaginável se os interlocutores estivessem sentados à mesa de um restaurante”.
5. Preferir a comunicação online
Por fim, essa percepção de menos responsabilidade e compromisso ao usar as redes sociais pode fazer com que a pessoa prefira conversar pela internet e a use como fuga da realidade ou pretexto para não se aproximar pessoalmente de outros indivíduos. Mas “conhecer esses perigos pode nos ajudar a não cair nessa e a refletir mais antes de ‘disparar’ nossos comentários”, aponta Cecilia.