Um instrumentador cirúrgico pode ser considerado o “braço direito” do médico. E apesar de ser um profissional que precisa ter agilidade com as mãos e atenção redobrada, essas habilidades ficaram pequenas diante da persistência da curitibana Cássia Rocha, de 20 anos, que não tem o braço esquerdo e não enxerga com o olho do mesmo lado. Ela conseguiu recentemente instrumentar pela primeira vez uma cirurgia no Hospital São Lucas, em Curitiba, mesmo com essas limitações físicas, superando mais um desafio em sua vida.
A perda do braço e dos movimentos do lado esquerdo do corpo de Cássia aconteceu depois de um grave acidente de carro, em 2017, quando a jovem voltava do curso de Fisioterapia que fazia na Universidade do Contestado, em Mafra (SC). “Fiquei no hospital durante um mês, em coma”, contou ela ao Sempre Família.
Ele construiu com lego uma prótese para seu braço: “hoje posso fazer tudo o que você faz”
Após esse período internada, habituar-se à nova vida cercada de limitações não foi fácil, já que em pouco tempo, todos os planos de Cássia haviam sido interrompidos. “Planejava naquele ano tirar minha habilitação e concluir o curso, mas minha vida mudou da noite para o dia”, recorda. Cássia entrou em uma depressão profunda e precisou do apoio da família para superar essa fase difícil. “Fiquei assustada, não queria falar com ninguém, mas depois de conversar muito com Deus, tudo mudou”, garante.
Oito meses depois de sair do hospital, ela teve a consciência de que viver com uma deficiência não seria nada fácil, mas que somente ela poderia tomar rédeas da própria história. Agora, dois anos depois do acidente que sofreu, a curitibana retomou algumas atividades, conseguiu sua carteira de habilitação e até começou a nadar. A faculdade, infelizmente precisou ser deixada de lado, mas uma nova paixão profissional surgiu.
Instrumentação
No começo deste ano, Cássia decidiu enfrentar alguns medos e superar de vez limitações físicas. Ao invés de reclamar da fase complicada, se inscreveu no curso técnico em Instrumentação Cirúrgica, do Grupo Educacional Seduc Intec.
Fazer esse curso estava nos planos da jovem para depois da conclusão da graduação em Fisioterapia. Mas quando ela se viu em uma sala de cirurgia, na época do acidente, o desejo de se tornar uma instrumentadora ficou mais forte. Hoje, após sua primeira instrumentação, Cássia não tem mais dúvida alguma de que escolheu o caminho certo.
“Quero ser o braço direito do meu médico”, diz ela com firmeza
“Fiquei um pouco nervosa, claro, porque é a vida de uma pessoa ali. Se a gente faz algo de errado prejudica a vida de um paciente”, explica. “Mas é surreal entrar no centro cirúrgico e não ser a paciente, podendo observar do outro lado e ajudar quem precisa”, vibra a curitibana, que com dedicação tem acompanhado bem as aulas.
Prova disso, foi o reconhecimento da coordenação do curso, pelo ótimo desempenho dela durante a cirurgia da especialidade de ortopedia. “Ela é muito determinada e competente. Quando a professora sugeriu a participação dela no primeiro procedimento não pensei duas vezes e liberei. O resultado foi ótimo”, explica a coordenadora do curso, Jessica Halices.
A atividade faz parte apenas do estágio obrigatório, mas deixou Cássia ainda mais animada com seu futuro. “Quero sempre fazer o melhor em tudo o que faço. É assim na natação, foi assim durante o curso de Fisioterapia e agora farei o mesmo com a Instrumentação. Sei que é um longo caminho de adaptação que preciso percorrer, mas estou segura de que fiz a melhor escolha”, assegura.
O que faz um instrumentador cirúrgico?
O instrumentador é um profissional indispensável em qualquer procedimento cirúrgico, seja de risco ou não, porque ele é o responsável por fornecer , ordenar e controlar os materiais que o médico e o enfermeiro necessitam para o trabalho. Além disso, é ele quem faz a assepsia de tudo, para prevenir infecções. É um trabalho de grande responsabilidade, mas que não intimida Cássia. “Quero ser o braço direito do meu médico”, diz ela com firmeza.
Atenção e trabalho em equipe são qualidades imprescindíveis para desempenhar bem a função. E segundo a professora, essas características Cássia já trouxe de casa. “Agora é só buscar aperfeiçoamento”, explica Jessica. “Sempre admirei a agitação de centro cirúrgico e depois do acidente mais ainda. Estive de um lado como paciente e agora quero muito estar do outro lado como profissional da saúde”, observa Cássia.
O curso devolveu a esperança para ela. “Depois que sofri o acidente prometi a mim que não deixaria alguém ser preconceituoso comigo, pela minha deficiência. Quero mostrar às pessoas que elas podem fazer o que quiserem independentemente de suas limitações”, destaca Cássia. “Instrumentar é mais uma meta cumprida em minha vida. Participar disso é um reconhecimento enorme”, diz ela ao agradecer a ajuda da instituição de ensino. “Nosso objetivo é que ela saia do Seduc pronta para trabalhar”, garante Jéssica. “Para mim é uma grande conquista”, agradece a curitibana.
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