Como melhorar a experiência de alguém que está em um lugar indesejado? Como oferecer uma dose de alívio e alegria para uma pessoa que está enfrentando um momento extremamente difícil? Esse era o desafio da equipe assistencial do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
A resposta para essas perguntas surgiu em 2016 com o Projeto Yes, we care (em português, “sim, nos importamos”). A ideia é realizar os desejos de pacientes que já estão há algum tempo internados no hospital, principalmente pacientes em tratamento de câncer ou em estado terminal.
Já foram mais de 780 momentos inesquecíveis que tiveram como cenário o interior do hospital. Um jantar romântico, uma festa de aniversário, uma emocionante cerimônia de casamento, a visita de um parente distante, de um bichinho de estimação que está fazendo falta ou até mesmo daquela pessoa que mudou para sempre sua vida.
E para que tudo isso fosse possível, o hospital optou por uma organização do time assistencial um pouco diferente da tradicional, fazendo com que médicos, equipe de enfermagem, fisioterapia, nutrição e farmácia fizessem parte de um mesmo time para cuidar do paciente desde a internação até a alta.
Além dessa equipe foi criado um grupo multidisciplinar que envolve também a parte administrativa para cuidar do programa. Segundo a gerente de relacionamento com o cliente, Patrícia Angélica, os profissionais que se dedicam mais de perto no cuidado diário com o paciente, “acabam estabelecendo um vínculo com aquele paciente e, consequentemente, conhecendo melhor suas necessidades”, explica Patrícia.
De acordo com Fátima Gerolin, diretora executiva assistencial do hospital, o cuidado com o paciente deve estar fortemente baseado no estabelecimento de uma relação de confiança entre os profissionais, o paciente e seus familiares. “Essa relação de confiança com a equipe faz com que o paciente e o familiar se sintam mais à vontade não só para falar das suas necessidades específicas assistenciais ou relacionadas a algum alívio de sintoma, mas também para falar sobre os seus anseios, sobre sua história de vida”, explica Fátima. “Tudo isso para que a gente possa entender esse paciente não só enquanto alguém doente, mas como uma pessoa que tem uma história”.
“Nos importamos”
Cerca de dois anos atrás, um paciente que já estava sendo acompanhado pela equipe de cuidados paliativos expressou o desejo de oficializar a união com sua esposa, com quem já tinha filhos e netos. “Foi um momento muito bonito e marcante”, recorda Fátima sobre a cerimônia organizada por sua equipe. Segundo ela, o paciente faleceu cerca de uma semana depois. “Algumas colegas e eu chegamos a ir até o quarto para conversar com a família e expressar nosso sentimento, dizendo o quanto eles eram importantes para nós e que eles também estavam fazendo parte de uma história, que é a nossa história”, lembra a diretora. “De vez em quando eu encontro com a esposa daquele paciente no meu bairro e, toda vez, sinto que ela tem um carinho muito grande e uma boa recordação daquilo que o hospital foi capaz de proporcionar num momento tão difícil para ela”.
Recentemente, o Sempre Família também contou a história da Gabriela Palheta, uma estudante paulista que decidiu antecipar o casamento e realizá-lo dentro do hospital para que seu pai pudesse participar da cerimônia. O piloto de avião Glauco Palheta, que tinha 56 anos e lutava contra um câncer agressivo, faleceu no dia seguinte da celebração. A ação também só foi possível graças a equipe do Yes, we care que, mesmo em tempos de pandemia, organizou a cerimônia e cuidou da segurança das poucas pessoas que participaram. “Compreendemos que aquela realização era extremamente importante para a Gabriela, que tem uma vida enorme pela frente”, afirma Fátima. “Fiquei muito feliz por termos conseguido ter esse discernimento e, apesar da pandemia, pudemos realizar algo tão importante tomando todos os cuidados necessários, agindo de uma forma inteligente e respeitando a necessidade dos dois”.
Mesmo os momentos mais simples ganham um toque especial. Patrícia se recorda com carinho de um jantar italiano que a equipe preparou para um casal de idosos. O marido já estava internado há alguns meses sem poder ter um momento especial com a esposa. “Foi algo simples. As meninas colocaram uma toalha xadrez na mesa, a nutrição serviu uma macarrona ao sugo e, para simular o vinho, serviram suco de uva”, lembra a gerente.
A diretora executiva complementa lembrando que esses momentos simples “fazem com que as pessoas criem um vínculo ainda maior com a equipe e com uma estrutura que, na verdade, elas nem gostam, mas têm a necessidade de estar, que é dentro de um hospital”.