Entristecer-se diante de uma situação ruim ou até sentir raiva pelo que está acontecendo é normal. Mas passar a viver esse sofrimento continuamente, remoendo aquela frustração por muito tempo, pode trazer consequências até para a saúde física.
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Já pode ter acontecido com você: depois de uma grande decepção, dores no estômago ou falta de apetite começam a ser frequentes. Essas são as chamadas doenças psicossomáticas e o ato de perdoar a pessoa que causou aquele problema pode ser um grande aliado na cura delas.
“A doença psicossomática é considerada multideterminada, com a influência de fatores psicológicos no corpo da pessoa”, diz a psicóloga Josiane Knaut. De acordo com a especialista, hoje são considerados ainda outros fatores para determinar se determinada doença tem relação direta com as emoções. “Agora levamos também em conta o ambiente, o aspecto psicossocial e o organismo como um todo. É uma conjugação de fatores dos organismos e das vulnerabilidades próprias dele, das emoções que influenciam o corpo e a interação com o meio em que se vive”, explica.
Um estudo realizado por Charlotte Van Oyen Witvliet, professora de Psicologia do Hope College, em Michigan, nos Estados Unidos, no ano de 2004, mostrou como o sofrimento e o perdão têm influência direta no organismo das pessoas. Na ocasião, Charlotte pediu a 71 voluntários que se lembrassem de algo que os tivesse feito sofrer. Foram detectadas pressão sanguínea, batimentos cardíacos e tensão muscular semelhantes às que acontecem quando se sente raiva. Depois disso, a professora pediu que eles tentassem se imaginar perdoando aquelas pessoas que as ofenderam. Aos poucos, a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos foram diminuindo.
Segundo Ivana Coimbra Freire, psicóloga clínica e terapeuta familiar, esse ato de lidar com as emoções é importantíssimo. A pessoa precisa entrar em contato com essas mágoas e sentimentos para que possa entender o que acontece com ela e com o outro e assim poder perdoar. “A partir do momento que entro em contato com as mágoas eu vou podendo me colocar no lugar do outro, sendo empática, isso facilita o processo de perdoar”, diz.
Causas e consequências
Quando um evento aversivo ou algo ruim acontece, a pessoa se sente injustiçada e uma série de emoções negativas passam a fazer parte daquele momento. Segundo Josiane, sem o perdão e o alívio daquele sentimento, há um estresse emocional que começa a desgastar o organismo. “Esse desgaste promovido pelo estresse provoca alterações no sistema imunológico, o que se torna a porta de entrada para algumas doenças”, comenta.
As doenças que podem ser sentidas fisicamente, com as dores de cabeça e estômago, por exemplo, ainda podem ser seguidas de alguns transtornos. “Conforme a pessoa vai guardando essas emoções, ela desenvolve também a síndrome do pânico, ansiedade, depressão. Se a pessoa não perdoa e guarda mágoas ela desenvolve transtornos mentais”, explica.
Perdoar pode ser um ato difícil para boa parte das pessoas. Quem está com alguma doença relacionada a mágoas e tristezas nem sempre receberá apenas a recomendação de se medicar, mas também de colocar para fora o sentimento que a incomoda. Nesse processo de contar a alguém o que sente, o perdão passa a ser algo possível. “Um psiquiatra pode entrar com a medicação e o psicólogo irá então acompanhar o desenvolvimento da questão”, explica Ivana. “Não se trata a doença, trata-se o doente”, completa Josiane.