Ter em mente que dali em diante será um dia de cada vez e contar com o apoio familiar são algumas estratégias.| Foto: Bigstock
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A rotina da cearense Jessica Dantas era tranquila. Os pais e a irmã estavam sempre por perto, os amigos a ajudavam no que precisasse e ela tinha uma carreira sólida na área de Recursos Humanos em uma empresa de 3 mil funcionários na cidade de Fortaleza.

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No entanto, bastou um telefonema para que tudo mudasse. “Uma tia muito próxima foi diagnosticada com câncer de mama, precisava se tratar em Curitiba e eu era a única pessoa da família que poderia se mudar para ajudá-la”, recorda a jovem de 27 anos, que deixou tudo para trás e passou a viver na capital paranaense em agosto de 2017.

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Enquanto cuidava da tia, ela procurava um novo emprego, tentava fazer novos amigos e se esforçava para adaptar-se ao novo ambiente. No entanto, não era fácil recomeçar. “As pessoas em Curitiba são mais fechadas, eu não estava acostumada com a comida, e o clima também é bem diferente com as quatro estações em um dia só”, comenta a jovem.

Assim como ela, muitas pessoas que mudam de cidade, de emprego ou se aventuram em um novo relacionamento também sentem dificuldade para acostumar com as novas situações e afirmam que tudo seria mais fácil se as coisas continuassem como eram antes. De acordo com o psicólogo Marcos Roberto Garcia, isso acontece porque as mudanças causam ansiedade, “nos dando a sensação de estarmos agarrados a fatos do passado”.

No entanto, ele garante que o ser humano possui uma imensa capacidade de mudar e pode utilizar essa característica para seguir em frente e aprender com o que já viveu. Para isso, não adianta tentar “esquecer” o passado, mas focar os esforços em aproveitar o presente. “Devemos vivenciar as situações do dia a dia e ter clareza de que sempre será um dia de cada vez”. Afinal, o processo para vencer as situações do passado depende das novas experiências que forem vividas.

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Segundo o especialista, isso vale para as mudanças intencionais – como trocar de emprego por não estar satisfeito com o anterior – e para as situações não planejadas, como doenças e a morte de um ente querido. “Nesse caso, o sofrimento se torna ainda maior porque poucos estão preparados para perder alguém, e o processo de esquecimento também estará atrelado à experiência”, afirma.

Por isso, Jessica fez o possível para se alegrar com a tia e aproveitar os dias que passava com ela. “Quando eu conquistava alguma coisa, ela se emocionava muito. Então, apesar das lutas, a gente comemorava os pequenos detalhes e aquilo me impulsionava a continuar”, relata a jovem, que começou a trabalhar como secretária, cantava em eventos evangélicos e até foi convidada para iniciar a gravação de um CD. “Não era fácil, mas eu tinha o amor dela e ela tinha o meu”.

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Apoio da família

Além disso, a jovem conversava muito com os pais por meio de chamadas de vídeo e garante que o apoio, mesmo à distância, foi fundamental. Essa força, de acordo com Garcia, ajuda o indivíduo a passar pelo sofrimento e a ter segurança para seguir em frente. “A família deve se colocar ao lado daquele que sofre, não criticar e procurar auxiliá-lo a encontrar soluções para o problema que estiver passando”, pontua o professor de Psicologia, que também orienta os parentes a observarem as ações da pessoa no cotidiano.

Isso é necessário porque há situações em que o indivíduo não consegue aceitar as circunstâncias ou lidar com a ansiedade que surge diante das mudanças. Então, se esse familiar tiver dificuldades para seguir sua rotina porque fica apenas remoendo situações do passado, será necessário buscar a ajuda de um psicólogo.

No caso de Jessica, o apoio da família e o foco em detalhes simples como os sorrisos da tia foram suficiente para que ela se esforçasse no novo emprego, fizesse novos amigos e se acostumasse com a cidade de Curitiba. “Eu não ficava pensando no que tinha deixado para trás porque sabia que tudo aquilo contribuiria para meu amadurecimento”, relata.

Para ela, a experiência lhe trouxe mais força, coragem e novas oportunidades. Além disso, fez com que percebesse que é possível se adaptar às dificuldades e se doar pelo outro. “Dois dias antes de morrer, minha tia agradeceu tudo que eu tinha feito por ela e disse que torcia por mim”, lembra. “Ali eu percebi que tudo tinha valido a pena e que os ciclos da vida nos fazem crescer”, finaliza Jéssica, que decidiu continuar morando no Paraná.