Divulgação/Fight The New Drug| Foto:

O acesso a conteúdo pornográfico mudou muito nas últimas décadas. Se há mais de vinte anos um adolescente estava limitado a manter escondida alguma revista ou ficar acordado até tarde para ver cenas rápidas de sexo em filmes comuns, o jovem de quinze anos atrás já podia baixar algumas fotografias em sua internet discada no computador da família e salvá-las em algum disquete.

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Mas a geração atual pode ver mais mulheres nuas em seu próprio telefone em apenas dez minutos do que muitos homens mais velhos viram em sua vida inteira. Podem ainda ver cenas que a maioria das pessoas jamais tinha imaginado e muito menos testemunhado. E é exatamente isso que eles escolhem fazer. O governo norte-americano, que está lentamente acordando para o problema, divulgou um relatório em 2012 que diz que um em cada três meninos entre 10 e 13 anos já viu conteúdo explícito online, com quatro de cada cinco deles se tornando consumidores regulares antes dos 16 anos.

Um número cada vez maior de homens de vinte e poucos anos, que cresceram alimentados por essa dieta de pornografia ilimitada, têm reportado alguns efeitos colaterais, que incluem perda de interesse em sexo “de verdade”, dificuldades de ejaculação e disfunção erétil. Simultaneamente, as mulheres também têm sofrido as consequências nos relacionamentos: expectativas irreais a respeito do sexo e uma pressão para que elas se portem como porn stars.

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Nenhuma dessas denúncias é nova. A diferença é que agora elas não ganham voz apenas nas igrejas ou em alguns grupos feministas: vêm dos próprios jovens.

Quais as consequências de uma exposição ilimitada à pornografia?

Em maio de 2012, foi postada no YouTube uma palestra do TED chamada The Great Porn Experiment. Desde então, ela foi vista mais de 7 milhões de vezes. Nela, o professor aposentado de fisiologia Gary Wilson afirma: “O amplo uso de pornografia online é um dos mais velozes experimentos globais já conduzidos”. O seu argumento é que nós não sabemos o que acontecem com jovens quando eles têm à disposição uma quantidade ilimitada de pornografia – tanto em volume quanto em variedade – antes de terem qualquer tipo de experiência sexual na vida real. Não há precedentes na história. Somente agora as cobaias da era virtual estão atingindo uma idade em que podem contar o que acontece.

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Um dos principais lugares em que eles estão se reunindo para compartilhar as experiências sobre isso é uma comunidade online chamada NoFap (“fap” é uma gíria em inglês para masturbação), um grupo de apoio e de recursos para qualquer um que queira largar a pornografia. A comunidade propõe o desafio de não consumir pornografia nem se masturbar durante noventa dias – duas práticas que raramente existem uma sem a outra para a geração da internet.

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Durante esse período de abstinência, os usuários dizem que primeiro se experimenta uma “linha reta”, quando o seu interesse por sexo desaparece quase por completo, e depois começam a experimentar “superpoderes”, que incluem desde um maior interesse no sexo oposto e uma melhora na autoconfiança até mais energia e vivacidade no dia-a-dia. Na plataforma, os usuários – mais de cem mil – postam atualizações do seu progresso, compartilham dificuldades e pedem ajuda quando sentem que uma recaída é iminente.

Por trás deles estão histórias realmente perturbadoras e frequentemente tocantes de jovens que acreditam que a pornografia faz mal, geralmente por dois motivos: o tempo gasto com ela – com frequência algumas horas de cada vez, normalmente tarde da noite – e a própria natureza do conteúdo. Um usuário da plataforma, Will, um jovem britânico de 25 anos, explica como pouco a pouco se viu atraído por fetiches incomuns, graças ao uso de pornografia: “Eu me vi gravitando em direção ao lado mais escuro dos fetiches particulares – coisas como alimentação forçada e homens sendo amassados por mulheres obesas. Havia vídeos de atrizes pornô tão obesas que mal podiam andar. Pensar nelas me excitava”.

Cada vez mais pesado

A história de Will segue um padrão comum entre os usuários do NoFap. O consumo de fotos de mulheres nuas e vídeos simples de sexo enjoa e dá lugar, pouco a pouco, ao desejo de consumir conteúdo extremo ou de nichos.

Outro vídeo do YouTube popular no meio é uma palestra do TED de um estudante de gênero israelense chamado Ran Gavrieli, que explica por que decidiu parar de ver pornografia. “Eu parei porque o consumo de pornografia injetou uma raiva e uma violência nas minhas fantasias sexuais que antes não existia”, ele começa. “O que a pornografia nos mostra, em 80-90% do tempo – é sexo sem as mãos. Sem toque, sem carícia, sem beijo. As câmeras não estão interessadas em gestos sensuais: elas focam apenas na penetração. Não é isso que genuinamente desejamos”.

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“Antes da pornografia, eu costumava fantasiar sobre um cenário em que eu encontraria uma mulher, pensava no que eu diria a ela e o que ela me diria. Mas a pornografia conquistou minha mente. Perdi minha habilidade de imaginar”, diz Gavrieli. “Eu tentava desesperadamente pensar em algo humano e não conseguia, porque a minha mente tinha sido bombardeada por todas aquelas imagens de mulheres sendo violentadas”.

Em seu escritório em Londres, o doutor Thaddeus Birchard, especialista em terapia psicossexual, atende homens com todo tipo de vício sexual, incluindo pornografia na internet. Ele fundou o primeiro programa de tratamento para viciados em sexo do Reino Unido. “O cérebro humano implora por novidade”, explica ele. “É por isso que casais têm uma relação sexual quando fazem uma viagem de um fim de semana mesmo estando abstinentes há meses. E você encontra novidade sem fim na internet”.

Birchard compara o funcionamento do cérebro com uma máquina de caça-níqueis: “Você procura por pornografia na internet e não sabe quando vai ter aquele clique. Você pode ver uns dez vídeos e ter o clique de repente. Ou ver cem e não ter nada”. Essa busca por novas experiências explica por que usuários de pornografia pesada buscam conteúdo cada vez mais extremo. Esse mecanismo é ainda mais poderoso porque durante a excitação sexual estamos programados para não pensar se sentiremos culpa mais tarde.

“A excitação desliga a nossa capacidade de pensar sobre as consequências”, diz Birchard. “Está programada assim. A natureza quer que você multiplique o seu DNA, e você faz isso ejaculando frequentemente no maior número de lugares possível. É literalmente um desligamento, então você para de pensar na sua esposa, no trabalho amanhã cedo, e fica na internet até as quatro da manhã”.

A relação com as mulheres “reais”

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Porém, a quantidade de tempo que a pornografia toma ou a culpa que os homens sentem por aquilo a que assistem não é o problema real da maioria dos homens no NoFap. O problema real é como isso afeta o seu comportamento com as mulheres.

O programador Alexander Rhodes, de Pittsburgh, EUA, lançou a plataforma meio que brincando alguns anos atrás, mas agora leva a sério a tarefa de ajudar jovens a deixar a pornografia. Aos 24 anos, ele diz que a pornografia é a versão para a sua geração do tabaco: algo nocivo e viciante cujas consequências estamos aprendendo apenas depois de experimentá-las.

A pornografia age como uma droga no cérebro

A sua própria história, que ele expõe abertamente, exemplifica o que realmente assusta os jovens que o seguiram na abstinência. Enquanto muitos dos usuários da plataforma são claramente desajustados sociais que perceberam que deixar a pornografia lhes deu confiança para se aproximar de uma mulher pela primeira vez, outros são como o personagem de Joseph Gordon-Levitt em Como não perder essa mulher – seu filme a respeito do vício em pornografia: caras normais que já ficaram com mulheres estonteantes, mas que descobriram que preferem a pornografia ao sexo.

Como quase todo homem da sua geração, Rhodes começou a ver pornografia por volta dos 11 anos e aos 19 “estava assistindo ao conteúdo mais extremo e em maior resolução disponível”. “Eu gostava de ver mulheres serem humilhadas”, diz ele. “Durante anos eu não conseguia ter um orgasmo durante o sexo. Era necessário que eu me masturbasse com a parceira, com frequência enquanto eu pensava em pornografia. Não havia nenhum foco na linda mulher real diante de mim – era apenas uma corrida para o orgasmo. Mesmo que eu me considerasse um bom namorado, eu simplesmente separava e despersonalizava a minha parceira como um instrumento para atingir o orgasmo”.

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“A minha mente separava completamente emoção, empatia, intimidade, amor, afeto e tudo o mais do sexo. E minhas expectativas faziam minha parceira se sentir objetificada, usada e insuficiente”, conta Rhodes. Assim como Will e outros usuários do NoFap, ele diz que o consumo de pornografia não apenas causou o fim do seu relacionamento, como o próprio prazer com o sexo. E a maioria são jovens que sequer passaram dos vinte e cinco anos de idade.

Uma mensagem positiva

Apesar de todos os relatos tristes de relacionamentos arruinados e excitação perdida, a mensagem dominante que emerge do NoFap e de outros sites antipornografia similares é muito positiva. Mais do que qualquer coisa, eles querem falar sobre como deixar a pornografia mudou as suas vidas.

De acordo com a psicologia, o padrão sexual masculino é estabelecido entre os sete e os nove anos, antes de ser ativado na adolescência. É durante esses delicados anos que toda uma vida de gostos e expectativas sexuais serão criados.

Uma mensagem central de sites como NoFap, Fight The New Drug e Your Brain On Porn é que deixar a pornografia pode “resetar” os danos causados no cérebro e fazer a sexualidade voltar a níveis saudáveis. É o que os usuários comemoram nos fóruns: alcançam novas metas de abstinência e festejam as conquistas.

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Com informações de Esquire.

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