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Em 10 minutos de conversa, uma pessoa mente em média três vezes. Pode parecer muito, mas esse foi o resultado de uma pesquisa feita pelo professor de Psicologia da Universidade de Massachusetts, EUA, Robert Feldman, através da análise de conversas de 50 pares de pessoas que haviam acabado de se conhecer. Em um dia inteiro, calcula Feldman, uma pessoa pode ouvir mais de 200 mentiras.

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Boa parte dessas mentiras diárias não deve ser enquadrada como mentira prejudicial, feita deliberadamente para obter vantagem pessoal ou prejudicar o outro, mas sim como “mentiras brancas” ou “mentiras sociais”, que auxiliam no bom convívio entre as pessoas, evitando mágoas e desentendimentos desnecessários. É o que acontece quando dizemos ter adorado um presente que, na verdade, nos desagradou para não magoar quem nos presenteou. Ou quando dizemos estar bem mesmo que estejamos nos sentindo péssimos diante de um “como vai?”.

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Na avaliação do filósofo da Universidade de New England, EUA, David Livingstone, essas mentiras seriam “um pilar das relações sociais”. No livro Why we lie, ao falar sobre o quanto a mentira está ligada à natureza humana, ele defende que “não teria sido inadequado chamar o homem de Homo fallax (homem enganador) em vez de Homo sapiens (homem sábio)”.

No entanto, mesmo no caso das mentiras sociais é preciso moderação. O fato de não querer magoar o outro não pode ser uma desculpa para adotar a mentira como regra. Em assuntos importantes, a veracidade e a sinceridade devem prevalecer. Quando dita com ternura e respeito ao outro, mesmo a verdade mais dura é ouvida sem mágoa.

Bom exemplo em casa

Nossa família é o primeiro e principal meio de socialização. Isso significa que as lições fundamentais sobre interação são aprendidas através do contato com mãe, pai e irmãos. Por isso, se no ambiente familiar prevalece a mentira, é provável que a criança também aprenda a mentir. De nada adianta exigir que os filhos digam sempre a verdade se os pais costumam mentir o tempo todo. O melhor é dar bom exemplo. Ao atender um telefone, em vez de mentir que alguém não está em casa – uma das “mentiras brancas” mais comuns –, o melhor seria dizer que a pessoa não pode atender a ligação.

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Um dos grandes problemas da mentira é o efeito bola de neve que as pequenas mentiras cotidianas podem ter. Em alguns casos, pode-se chegar a relacionamentos totalmente baseados em enganos que, mais cedo ou mais tarde, acabarão expostos.

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É o caso, por exemplo, de casais que não conseguem estabelecer um diálogo verdadeiro, em que a sinceridade é a regra, e que têm dificuldade para enfrentar os problemas do relacionamento. “Devemos ser mais verdadeiros e demandar a honestidade”, ressalta Robert Feldman.

Quando a mentira se torna doença

Existem casos em que mentir se torna uma compulsão. Na chamada mitomania ou síndrome de Wallace, a pessoa tem um transtorno psicológico e passa a contar mentiras de forma compulsiva. Em casos mais graves, há dificuldade até para lembrar o que é verdade e o que é invenção. Nesse caso, é preciso buscar tratamento especializado para tentar descobrir qual é a origem do problema e a melhor forma de tratamento.

O comportamento oposto, ou seja, jamais mentir sobre nada e ser totalmente sincero em qualquer situação, também pode ter origem biológica. Um exemplo são pessoas com síndrome de Asperger, que podem apresentar uma sinceridade exagerada, falando o que pensam e sentem sem se importar com regras sociais ou conceitos politicamente corretos.

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