No caminho para a escola, a pequena Nika via duas realidades bem diferentes e que a incomodavam. Primeiro ela passava por um muro cheio de animais coloridos pintados e pouco mais à frente se deparava com um cenário cinza, sujo e com marcas de pichações. “Porque esse é tão lindo e aquele não?”, perguntou ela um dia ao pai. “Eu queria um muro bonito também”, completou a menina.
Um pedido singelo como esse, vindo de alguém tão puro, não poderia ser negado. O pai, Allysson Kudo, de 37 anos, começou então a planejar uma mudança que afetaria não só sua filha, mas toda a região do CEI Suzana Campos Tauil. Ele aproveitou que sua outra filha, Lira, faria um ano, e trocou a festa, por um ato de gentileza: reformou e pintou o muro da escola.
Já é um costume na família Kudo realizar boas ações nos aniversários. Segundo Allysson, sempre que Nika ganha muitos presentes, ela vai junto com os pais doá-los a outras crianças. “Para o aniversário da Lira eu estava pensando o que fazer. Tinha uma boa quantia e queria fazer algo legal”, contou ao Sempre Família. “Queríamos fazer algo para plantar uma semente do bem. Para ‘soprar um dente de leão’”.
A ideia de Allysson foi prontamente acolhida pela comunidade escolar. Pouco tempo antes, o lugar havia passado por uma reforma interna que se estendeu até a calçada, mas o muro não foi contemplado. “Levei o projeto até a diretora, fiz contato com o artista plástico que fez a arte do muro que a Nika gostava e começamos o trabalho”, diz o pai.
Mãos à obra
O artista plástico responsável é Reynaldo Berto, de 54 anos. Ele conta que recebeu a proposta para o trabalho e a incumbência de pintar os 140 metros de muro, em 20 dias. Seria um desafio, mas um desafio bom. A escola se encarregou de deixar o espaço pintado de branco, para que Reynaldo pudesse colocar sua arte ali. “Eu sou apaixonado pela cultura nordestina e achei que o cordel, com seus ‘traços simples’, conversaria com as crianças e homenagearia o povo que fez São Paulo crescer ”, diz Reynaldo.
Sozinho, o artista trabalhou 20 dias direto, para deixar a fauna e a flora do Brasil em evidência no muro. Mas Nika, apesar de sua pouquíssima experiência em artes plásticas, quis ver o andamento do projeto todos os dias. E contribuiu: quem passa pelo local pode ver flores azuis em um estilo diferenciado, comprovando que a menina esteve atenta ao trabalho feito ali.
Menina de 10 anos troca seus brinquedos por 400 galões de água para vítimas de terremoto
O muro que a princípio dá a sensação de divisão, se tornou um ponto de encontro para pais, vizinhos, amigos, estudantes da Faculdade de Artes próxima, e deu novos ares à região. “Os pais que antes só deixavam os filhos na porta da escola, agora chegam antes para ver e conversar sobre os bichos, flores e frutos representados ali”, conta Reynaldo, animado com a repercussão positiva de seu trabalho.
Quanto a Allysson, ficou a certeza de que os valores passados por seus pais estão sendo retransmitidos às filhas e também a todos que com sua família convivem. “Minha mãe sempre disse que devemos fazer boas ações. Já meu pai incentivava a mim e meus irmãos, a não esperar os outros, a lutar pelo que queremos”, diz. “Espero que essa notícia, de um ato tão simples, plante a semente da doação de tempo, do esforço pelo outro”, finalizou.
***
Recomendamos também:
***