Carla Bastos Dias, especial para o Sempre Família
A gravidez pode ser uma surpresa ou algo esperado com muita expectativa. Para alguns casais, poucos meses de tentativas é o suficiente para ter o sonhado positivo. Mas para outros, a jornada é bem mais longa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a infertilidade é detectada após um ano de relações sem métodos contraceptivos. Estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas no mundo sofram com o problema. No Brasil, são cerca de 8 milhões.
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Para a enfermeira obstétrica Cristina Topala, integrante do grupo Quatro Apoios – Parto Domiciliar Planejado, as pressões externas acabam tornando a questão da gravidez uma obrigação, um peso. Uma coisa que era para ser natural e prazerosa se transforma em algo mecânico, com expectativas e exigências em relação ao outro no que diz respeito ao casal. Além disso, as tentantes passam por situações parecidas com as das gestantes, recebendo conselhos a todo o momento e sendo assombradas pelas experiências alheias. “Sempre tem alguém que vai contar uma história e dizer que você tem que fazer assim ou assado porque com ela deu certo e contigo também vai dar”, diz Cristina. “Ao mesmo tempo em que essa fala gera esperança, também causa o efeito contrário, fazendo surgir a preocupação de que acontece com todo mundo, menos com você e de algo pode estar errado com sua saúde”, ressalta.
Quanto mais tempo o casal está à espera da gravidez, mais profundo é o efeito que as palavras têm sobre ele. Cristina observa que no primeiro ano, quando está dentro do período esperado pela medicina para a concepção, os comentários são praticamente irrelevantes. A partir do segundo ano de tentativas, existe uma preocupação, o casal começa a fazer exames para investigar o que está acontecendo e a fala das outras pessoas passa a ter importância. Karen Estevam Rangel, que também atua como enfermeira obstétrica, conta que convive com casais que estão há muito tempo tentando ter um filho e a cobrança externa é cruel. “Frases pequenas causam um transtorno mental enorme. E a cobrança é sempre para o lado feminino. Não é à toa que a mulher é quem sempre busca tratamento antes”, destaca.
Não seja indelicado
Talvez a intenção não seja ruim, mas a maneira como suas palavras são colocadas pode de fato ferir o casal que está tentando engravidar. Por isso, Cristina e Karen nos dão algumas dicas do que deve ser evitado dizer neste momento:
– Frases do tipo “vocês estão praticando?”, “sabem como é que faz?” ou “estão se encontrando?” devem ser evitadas. Mesmo em tom de brincadeira, isto fere a intimidade do casal.
– Perguntas como “quando vem o neném”, “estão tentando?”, “por que vocês ainda não tiveram filhos” ou “descobriram o problema?” são desnecessárias, já que este é um assunto particular do marido e a esposa. Afinal, ninguém é obrigado a explicar suas atitudes e sua vida íntima para os outros.
– Evite compartilhar histórias pessoais ou até mesmo de outras pessoas sobre o que deu certo e o que deu errado. Isso pode gerar ainda mais ansiedade e angústia.
– Dizer coisas como “tudo tem seu tempo”, “no momento que você desligar, não pensar mais, esquecer, daí acontece” também não ajudam. Não existe fórmula mágica para esquecer algo que é tão desejado.
– Comentários como “você vai conseguir”, “você vai engravidar” e “vai dar tudo certo”, apesar de positivos, devem ser evitados. Ninguém pode ter certeza do que realmente vai acontecer e estas frases acabam reforçando a necessidade de engravidar.
Estar pronto para ouvir é a melhor forma de apoiar
Segundo Cristina, quem sabe sobre as tentativas do casal deve reforçar seu apoio e se colocar a disposição caso o homem ou a mulher precise desabafar ou peça algum tipo de ajuda. É fundamental estar pronto para ouvir, sem julgamentos. Karen ressalta que o desabafo deve acontecer com alguém que realmente acolha ou que passou pela mesma situação. “A escuta e o acolhimento são o que fazem sentido. Há tantas reflexões para serem feitas junto com esse casal, encontrar possibilidades e respostas juntos, ser apoio de verdade”, acrescenta.
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