MaryBeth Moore Zocco e seu filho Ryan Moore. | Facebook/The FRoM Project| Foto:
Meryl Kornfield, The Washington Post
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Mary Beth Moore Zocco tinha o costume de enviar caixas surpresa ao seu filho, Ryan. Em dezembro de 2018, dias antes de Ryan morrer de overdose, aos 25 anos, sua mãe lhe enviou um pacote com itens divertidos, com temática de inverno: ingredientes para fazer chocolate quente, um enfeite e um cobertor vermelho.

Ryan, que lutou contra a dependência química por pelo menos sete anos, enfrentando vitórias e recaídas, morreu ao se injetar heroína, sem saber que a substância que usou continha fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais nocivo que a heroína.

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Na dor e no luto de perder o filho, Mary Beth teve uma ideia inesperada. Alguns pais podem sentir vergonha quando seus filhos morrem dessa maneira, por causa do estigma da dependência. Mary Beth decidiu que não faria parte desse grupo e que a história do seu filho era muito maior do que as drogas que o mataram.

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“Como pais, não deveríamos ser segregados pela forma como nossos filhos morreram”, diz a mãe, de 54 anos. Ela sabia que há muitos pais que sentiam a mesma profunda tristeza que ela sentia. No ano anterior à morte do seu filho, quase 30 mil pessoas morreram devido ao fentanil e a outros opioides sintéticos nos Estados Unidos – o dado é dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Já não podendo enviar os pacotes ao filho, Mary Beth decidiu preencher esse vazio de um jeito diferente. Agora, a moradora de Orlando, na Flórida, envia cartões a outros pais em luto que perderam os filhos para as drogas. Ela conta a eles a história de seu filho, que vivia em Plainfield, em Connecticut, e oferece um ombro amigo, exortando-os a não sentir vergonha.

Mary Beth estima já ter enviado 700 cartões desde que começou o projeto, em abril. Ela encontra os destinatários em grupos de apoio e sites voltados a famílias em luto. “Queria fazer algo para ajudar outras mães e pais que perderam os filhos para a dependência química, para assegurar a eles que não estão sozinhos”, conta.

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Ela chama seu projeto de FRoM Project – as maiúsculas significam “Forever Ryan’s Mom” (“mãe do Ryan para sempre”) e o nome brinca com o termo “from” (em inglês, “de”, no sentido de remetente de uma carta). Cada cartão é feito a mão, com uma mensagem personalizada a cada destinatário.

“Penso em vocês e envio o meu abraço enquanto vocês recordam o seu filho, hoje e sempre”, é um exemplo das mensagens que ela escreve. Em cada cartão, ela inclui um resumo da vida do filho, citando seus hobbies e seus objetivos de carreira. Segundo Mary Beth, ela faz isso para encorajar os pais enlutados a se abrir sobre a vida dos seus filhos para além do vício.

“Como um jovem de 25 anos, Ryan amava a vida e tudo que ela tinha a oferecer”, escreve ela em cartões decorados com adesivos, papel colorido e fitas. “Ryan amava ouvir música, tocar bateria e ir a shows”.

Para Mary Beth, focar na morte e no vício de seu filho não faz jus ao todo da narrativa – é só restringir-se ao pior capítulo de sua vida. “Ele era um garoto divertido que trabalhava e fazia outras coisas. Ele não era apenas a sua dependência”, afirma ela. “Ele era muito mais”.

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Na época em que morreu, Ryan trabalhava na cozinha de um restaurante italiano, esperando se tornar um chefe como seu pai tinha sido. Ele tocava bateria e contrabaixo, ia a shows de rock e gostava de se exercitar. São esses os detalhes sobre a sua vida que a sua mãe quer que as pessoas recordem.

Mary Beth adora falar e escrever sobre o seu filho, porque isso a faz se sentir próxima de sua memória. Ainda assim, ela confessa que dialogar com outros pais pode ser emocionalmente desafiador. Ela conta que enviou cartões a mães cujo fardo era muito mais pesado do que o seu: pelo menos três mães com as quais entrou em contato perderam, cada uma, quatro filhos para overdoses. “Não sei como elas ainda respiram”, diz.

Uma das destinatárias que receberam cartões de Mary Beth é Jennifer Slater, de 57 anos, que mora em Wooster, Ohio. Em agosto, dias depois de uma cerimônia pelo primeiro aniversário do falecimento de seu filho Sean, de 25 anos, ela foi até a casa em que vivia verificar se havia correspondências – ela não tinha voltado à casa desde que Sean tinha tido uma overdose no local. Jennifer passou a morar com os pais, perto dali.

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Ela esperava encontrar apenas contas e panfletos. Mas o único envelope na sua caixa de correio era endereçado pessoalmente a ela, em letra de mão. Era a carta de Mary Beth. Quando ela leu o cartão, com a história de Ryan, sorriu. Sentiu que alguém a entendia.

“O cartão me fez querer lutar para chegar até o outro lado dessa dor”, diz Jennifer. “Ele me acendeu o desejo de fazer algo mais”.

As respostas positivas de outros pais mantêm Mary Beth em seu objetivo. Ela quer agora registrar o nome do projeto e dar continuidade aos envios. Isso ajuda a manter o seu filho vivo e presente em seu coração. “Nunca me senti tão segura em fazer algo”, resume.

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