Casados há 25 anos, o violonista Lúcio Yanel e sua esposa Sueli enfrentam há 11 os males trazidos pelo Alzheimer. Ela está na fase mais grave da doença, não consegue mais andar, falar ou se alimentar sozinha e costuma passar o dia inteiro na cama. Ele, que é uma das principais referências da música gaúcha, é muito discreto em relação à amada, mas há algumas semanas publicou no Facebook uma foto emocionante dos dois juntos.
Sentados um em frente ao outro, Yanel aparece tocando violão para Sueli. Desde que ela chegou a este estágio da doença, todas as tardes ele entoa serenatas e entre uma canção e outra procura tranquilizar o olhar perdido da esposa. “Para que me sinta ao seu lado, minhas serenatas diárias. Ela é Sueli de Fátima, amada companheira, tu é o meu melhor público”, disse ele na publicação.
A foto já foi compartilhada quase 65 mil vezes e repercussão surpreendeu Yanel. Em entrevista à BBC ele contou que publicou a foto despretensiosamente e que não imaginava que tantas pessoas veriam. “Eu sempre vivia ocultando a situação da minha mulher, porque é muito melindroso para um artista fazer esse tipo de publicação. As pessoas podem pensar que é algo piegas”. Mas ele diz que aparentar alegria tem sido cansativo e que tem acompanhado a esposa sofrer sem poder fazer muito mais para evitar sua dor.
Os desafios da doença enfrentados com o amor
Para cuidar de Sueli, Yanel deixou para trás parte de sua carreira como músico, fazendo menos apresentações pelo Brasil, do que costumava anteriormente. “Preciso cuidar dela, então não posso deixá-la sozinha” disse à reportagem da BBC. No apoio está o filho do casal, Pedro e uma cuidadora (dos seus primeiros casamentos, Yanel tem cinco filhos e Sueli, três). Antes de Sueli perder totalmente os sentidos, ela chegou a manifestar que não se lembrava dos dois. Mas isso não os incomodava.
Hoje, Lucio prefere acreditar que a esposa se lembra sim deles, apesar não poder manifestar qualquer reação, a não ser o choro que vem e vai durante o dia. “Tenho pra mim que ela me reconhece, porque eu peço um beijo, me aproximo e ela me beija. Ela também beija nosso filho na bochecha”, comenta Yanel. Essa certeza do músico vem das tardes de serenata.
Yanel conta que diante da ausência de medicamentos que evitem a evolução da doença, ele optou por ter atitudes carinhosas com Sueli, para tornar esse período o mais tranquilo para ela. “Desde que a minha esposa descobriu o Alzheimer, faço serenatas para ela praticamente todos os dias”, diz. “Fiz isso de forma intuitiva, para alegrá-la. Depois, descobri que é uma boa alternativa para aliviar os sintomas da doença”, avalia.
Sueli costuma chorar várias vezes ao longo do dia, mas se silencia quando Yanel começa a tocar seu violão. O choro é bastante comum nos pacientes com Alzheimer avançado. As serenatas costumam ser feitas no quarto dela, mas quando Pedro está em casa, eles conseguem levá-la para fora e foi num desses dias que a foto da publicação foi feita.
Com a repercussão de sua história, Yanel espera conseguir mais respostas para melhorar a qualidade de vida de sua amada. Para a BBC ele disse que espera que a medicina avance no futuro, mas confessou que hoje, seu desejo é não deixar que a esposa sofra tanto. “Mesmo com as dificuldades, eu jamais vou pensar que quero que Deus a leve. Por mais difícil que seja, quero que ele deixe a minha esposa aqui, porque eu me encarrego de cuidar dela”.
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