Uma carreira bem-sucedida, com um bom salário e certa estabilidade financeira, ficou para trás. Foi um sentimento de fazer mais pelos outros que levou a catarinense Scheila Frainer Yoshimura a largar a profissão para se dedicar à Casa de Acolhimento Semente Viva, na praia dos Ingleses, em Florianópolis (SC).
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O espaço tem capacidade para dez crianças, de um a 17 anos, e desde de 2011 acolhe aqueles que, por negligência, violência ou abuso, são retirados da família pela justiça e precisam de um lugar para ficar até que seja encontrada uma solução. “É a casa delas [das crianças]. Elas têm o quarto delas, a cama delas, as roupas delas, elas têm a individualidade respeitada”, afirma a coordenadora voluntária e, como ela mesma se intitula, defensora dos direitos da criança e do adolescente.
Scheila explica que quando uma criança ou adolescente precisa sair de casa por determinação judicial porque aquele não é mais um ambiente seguro, a casa lar acolhe e, mais do que um teto, oferece suporte. “Quando elas chegam aqui começa um processo judicial. São duas alternativas. Voltar para a família biológica, depois de estudar todas as possibilidades. Esgotadas essas possibilidades, vai para adoção”, esclarece.
Novo rumo
Tudo começou com um grupo de mulheres ligadas à Igreja Evangélica Palavra Viva, criada na cidade. O que, a princípio era para ser uma creche na região norte da cidade, se tornou uma casa lar, pela demanda de uma das regiões mais vulneráveis de Florianópolis. “Tive casos de criança de cinco anos que não sabia ler e escrever, mas sabia as cédulas de dinheiro e sabia contar porque era usada como mula no transporte de drogas”, revela Scheila.
Lidar com as histórias de cada criança que passa pela instituição não é fácil, mas o objetivo é dar outro rumo para vida de quem perdeu a segurança do lar. “Essas crianças são invisíveis para a sociedade e todo investimento tem retorno garantido. A criança que é bem tratada aqui, lá na frente a gente vai ser um problema a menos para o poder público”, diz. E para isso há todo um plano de ação e uma equipe multidisciplinar para garantir o sucesso, inclusive, de doações tardias, de crianças com nove, 12, 14 anos.
"O amor sempre vence"
Para ajudar, também, as famílias que moram na região, e não têm com quem deixar os filhos enquanto não estão na escola, a casa oferece atividades de contraturno escolar. São cerca de 50 crianças que participam de atividades recreativas e esportivas e que, assim, deixam de se envolver com o tráfico de drogas, um problema bastante comum, de acordo com a voluntária.
O trabalho é tão sério e dá tão certo que, entre os funcionários, há um exemplo de sucesso. Mari é uma das educadoras e foi moradora do lar. Ela ficou na casa até os 17 anos, e hoje, aos 26, é uma das funcionárias e ama o que faz. “Nosso lema é: o amor sempre vence. Com amor a gente consegue ressignificar as histórias. É um poder curativo, transformador”, conclui Scheila.