Com dificuldade financeira e pouco conhecimento a respeito da alimentação saudável, os catadores de recicláveis José Carlos e Thais Aparecida viram seus dois filhos apresentarem sintomas de subnutrição. “Nosso mais velho de 12 anos foi diagnosticado com obesidade e o bebê de 9 meses não estava ganhando peso”, relata a mãe, que há seis meses é atendida pelo Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren), e já viu a situação da família mudar.
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Segundo ela, seus meninos receberam acompanhamento nutricional gratuito e a família ganhou cestas com diversos alimentos saudáveis como ovos, peixe e verduras para preparar em casa. “Até a minha alimentação melhorou”, comemora a mulher de 28 anos.
E são resultados assim que motivam o trabalho do Cren desde a década de 1990, quando pesquisadores mapearam as comunidades da Zona Sul de São Paulo e perceberam que existiam diversos casos de pessoas obesas e subnutridas na mesma família. "Essa revelação mudou as pesquisas na área, pois, até então, ninguém sabia que a subnutrição também poderia levar à obesidade”, explicou a gestora de relações institucionais do Cren, Sônia Maria Bonici.
A partir dessa descoberta, voluntários se uniram em 1993 para atender crianças com defasagem nutricional por meio de visitas, distribuição de alimentos saudáveis e acompanhamento gratuito com nutricionistas. “No início, a estrutura era bem reduzida, mas crescemos e ultrapassamos 5 mil atendimentos em 2021”, comemora Sônia, ao citar que o trabalho é essencial para prevenir a mortalidade prematura.
Além disso, ela afirma que uma boa nutrição – principalmente nos primeiros anos da criança – evita excesso de peso, desaceleração do crescimento, hipertensão e até colesterol e triglicérides elevados. Sem contar “alterações do açúcar no sangue, deficiência de vitaminas e problemas na fase adulta, como diabetes e diversos tipos de câncer”.
Só que muitas famílias não têm conhecimento a respeito do assunto e nem acesso a alimentos adequados que possam oferecer aos filhos. “Principalmente devido à insegurança alimentar”, explica, ao citar que as famílias em situação de vulnerabilidade social são encaminhadas à organização sem fins lucrativos por unidades de saúde, escolas, amigos que conhecem o projeto ou por ações realizadas diretamente nas comunidades carentes.
Atendimentos
Com isso, as famílias recebem assistência gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e são acompanhadas em regime de semi-internato na sede do projeto, em São Paulo, ou nos dois ambulatórios do Cren. E todas contam com a visita frequente de nutricionistas voluntárias como Elizabeth Silva Mendes, que acompanham o desenvolvimento de bebês, crianças e adolescentes.
Inclusive, “ quando vamos a essas visitas domiciliares que percebemos a real situação do paciente, a condição sanitária da família e como poderemos tratar cada criança”, comenta a paulista, ao citar que o cuidado nutricional começa bem antes da introdução alimentar.
“Um dos casos que mais marcou, por exemplo, foi o de um bebê de 3 meses que estava subnutrido, com baixo peso e baixa estatura para a idade”, recorda a especialista. Segundo ela, além das dificuldades gerais que a família enfrentava, a mãe não conseguia amamentar adequadamente, mas desejava manter o aleitamento materno.
“Então, usamos uma técnica chamada relactação para estimular a produção do leite enquanto também nutríamos a criança com fórmula infantil”, conta, afirmando que o resultado surpreendeu. “A produção de leite da mãe aumentou, o bebê cresceu bastante e recuperou seu peso”, comemora.
Como ajudar
Por essa e muitas outras histórias de sucesso, ela e os demais envolvidos com a ONG fazem questão de incentivar pessoas a também contribuírem com o trabalho. “Vale a pena fazer estágio aqui, ser voluntário e ajudar financeiramente pelo site do projeto”, garante a nutricionista, ao afirmar que a transformação realizada na vida de cada criança também mudará o futuro dela prevenindo doenças e trazendo qualidade de vida para sua família.