Arquivo pessoal| Foto:

Olhar para as provas da natação em que as maringaenses Beatriz e Débora Borges Carneiro, de 21 anos, estão competindo nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru, pode dar a sensação de vista embaçada. As gêmeas confundem a torcida e até mesmo os árbitros quando entram na piscina do Centro La Videna. Mas não é só pela semelhança física – as duas também mantêm o mesmo ritmo nas águas e geralmente registram marcas bem próximas.

CARREGANDO :)

A ginasta com deficiência que descobriu ser irmã da campeã olímpica de quem era fã

Carismáticas e ágeis, as atletas competem nas mesmas provas, nadam no mesmo estilo e desde os 13 anos revezam os pódios. Foi o que aconteceu, por exemplo, na prova de 100 metros peitos, que as duas competiram na estreia dos jogos. Com poucos milésimos de segundos de diferença, Débora ganhou a medalha de ouro ao marcar o tempo de 1min16s33. Já a irmã Beatriz ficou logo atrás, com 1min17s11, e assegurou a medalha de prata. A venezuelana Viviana Barreto marcou 1min28s57, completando o pódio.

Publicidade

Essa é a primeira vez das irmãs no Parapan, mas garantir uma dobradinha como essa na categoria S14, que engloba competidores com algum tipo de deficiência intelectual, não é algo inédito na carreira das brasileiras. Iguais até na paixão pelo esporte, Beatriz e Débora também têm o mesmo grau de deficiência intelectual e costumam bater juntas os próprios recordes na vida e na piscina.

“Elas duelam entre si e vivem oscilando nas diversas competições que participam”, diz Eraldo Volpato, pai das meninas. “Uma vez, no Ibirapuera, em São Paulo, registramos o mesmo tempo! Isso foi inédito nas competições da natação e por isso conquistamo o ouro juntas”, lembram as jovens.

Juntas para o que der e vier

Fora as características físicas que as unem, as meninas também tiveram que enfrentar muitas dificuldades juntas. Aos seis anos de idade elas foram diagnosticadas com uma deficiência intelectual. “Minhas filhas nasceram prematuras e sempre tiveram o desempenho escolar muito abaixo dos outros, com dificuldades básicas para ler e escrever”, recorda Volpato.

“Temos descoberto juntos o mundo através do esporte”

Publicidade

Não bastasse isso, quando as gêmeas  tinham 11 anos, elas perderam a mãe para um câncer e precisaram de um ânimo extra para atravessar essa fase. “Foi na natação que elas encontraram uma alternativa para superar esse momento difícil para nós”, diz o pai. “Temos descoberto juntos o mundo através do esporte”, vibram as nadadoras.

Desde que começaram a competir as jovens têm um regime de treino bastante intenso, com uma equipe multidisciplinar muito eficiente. “Por isso, se torna algo satisfatório, mesmo sendo exaustivo para todos nós”, afirma Volpato.  “Elas sempre precisam de um tratamento especial. Aliás, toda pessoa com deficiência requer um cuidado especial. Estou feliz demais com tudo que está acontecendo”, considera.

O amor pela natação virou “ouro”

Primeiro lugar no ranking mundial nos 200 metros, Beatriz acumula junto com a irmã uma coleção de medalhas. “Desde os 13 anos competimos juntas e já temos sacolas e mais sacolas de medalhas em casa”, conta Débora, que é recordista brasileira e sul-americana.

“É até difícil contar as medalhas delas. A cada ano são mais de 70 competições e todas com pódio”, destaca o “paitrocinador das irmãs”, como gosta de ser chamado Volpato. Com um currículo vasto, elas são campeãs brasileiras desde 2013. Em 2015, as duas participaram do Open Internacional, única competição internacional de natação realizada no Brasil e já venceram. Além disso, já ganharam competições na Dinamarca, Berlim, Itália e no México.  Só nos revezamentos brasileiro elas têm cinco recordes mundiais. E a Beatriz também conseguiu o vice-campeonato mundial, em 2017.

Publicidade

“Elas estão arrebentando aqui no Peru”, afirma o pai coruja. Além do ouro e prata nos 100 metros peito, especialidade delas, a Beatriz ganhou o bronze no 200 metros livre e a Débora ficou em quarta colocação nessa modalidade. Para Volpato, estar na competição já é uma grande realização. “Não é uma luta fácil, mas participar de um Parapan é olhar para trás e ver como elas de desenvolveram tanto para chegar aqui”, diz.

***

Recomendamos também:

Publicidade

***

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter.