A terrível sensação de ter sido enganada já havia virado um pesadelo para a norte-americana Barbara Hinckley, de 95 anos. A idosa caiu em um golpe e perdeu todas as suas economias, que somavam US$ 18 mil (cerca de R$ 76 mil). “Tudo o que restou em minha conta eram 8,75 dólares. Meu Deus, eu deveria ter sido mais esperta”, contou a idosa em entrevista ao The Washington Post. “Quando percebi que havia sido enganada, fiquei dizendo a mim mesma o quão estúpida eu fui por ter acreditado naquilo”.
No entanto, a generosidade de amigos, vizinhos e até de pessoas que ela sequer conhecia, devolveu-lhe o sorriso no rosto e a certeza de que, apesar de toda a maldade que há no mundo, a força do bem é sempre maior. No último dia 8 de janeiro, todas essas pessoas se mobilizaram e organizaram um jantar que rendeu à idosa exatamente a quantia que lhe haviam roubado.
Tudo começou em julho do ano passado, quando Barbara, que mora sozinha em Auburn, no estado de Maine, EUA, recebeu a ligação de um homem que se identificou como Dave Sayer, apresentador do Prêmio Publishers Clearing House, uma empresa que vende assinaturas de produtos diversos e promove sorteios e jogos com prêmios. No telefonema, o rapaz disse à idosa que ela havia ficado em segundo lugar no sorteio e que, por isso, receberia um prêmio de 2,5 milhões de dólares, além de uma luxuosa Mercedes.
Barbara participava dos sorteios dessa empresa há 15 anos e, em entrevista ao The Washington Post, contou que sonhava com o dia em que receberia uma ligação dizendo que ela foi a ganhadora do grande prêmio. “Fiquei emocionada, tudo parecia muito real”, disse a idosa ao jornal.
O vigarista, que usou o nome do verdadeiro locutor, começou a ligar para Barbara regularmente e depois da quarta ligação, disse a ela que, como eles estavam em Nova York, ela precisaria pagar algumas taxas para que o estado de Maine autorizasse o recebimento do prêmio, mas que depois ela seria reembolsada. “Ele fez tudo parecer muito lógico”, conta.
De acordo com a idosa, o homem chegava a ligar seis ou sete vezes por dia para perguntar sobre sua saúde, sobre o que havia jantado e até se estava tomando seus remédios. “Ele era muito esperto, agiu como se realmente se importasse”, disse ela. “Ele me garantiu que eu receberia meu cheque em breve. Mas geralmente havia outra taxa de algum tipo”.
De taxa em taxa, lá se foram todas as economias de Barbara. Foi somente no mês de setembro que seu neto percebeu que algo estava errado e contatou as autoridades. “Eu simplesmente não sabia quem procurar e isso me deixou vulnerável a uma fraude”, disse a idosa. “Não percebi os sinais de alerta e fiquei muito decepcionada comigo mesma”.
Do pesadelo à gratidão
Com o intuito de alertar outros idosos, Barbara superou a decepção e decidiu contar sua história em um jornal local, o Sun Journal. O caso gerou indignação em toda a população da região e chegou até aos ouvidos do ex-governador do estado de Maine, John Baldacci, que agora é consultor de um escritório de advocacia.
“Algumas pessoas no escritório me chamaram a atenção e disseram: 'Precisamos fazer algo para ajudar essa mulher', e eu concordei”, disse Baldacci ao The Washington Post. Segundo o ex-governador, sua família administra um restaurante italiano há muito tempo em uma cidade próxima e, para ajudar Barbara a recuperar o dinheiro, sugeriu um jantar que tivesse como prato principal o espaguete feito com a receita de sua família.
Foram mais de 400 pessoas que não só pagaram US$ 5 para participar do evento, que aconteceu em uma escola da cidade, como também fizeram doações de até US$ 1 mil. “Barbara é uma querida, ela é como a avó de todo mundo”, disse Baldacci. “Ver como todos se uniram para ajudá-la foi muito emocionante”.
Durante o jantar, alguns representantes do estado falaram sobre como identificar possíveis fraudes e evitar ser enganado. “Queríamos tornar o momento de aprendizado e informar às pessoas que esse é um problema comum. Ninguém precisa se sentir sozinho”, afirmou o ex-governador.
Para Barbara, o seu pesadelo se transformou em gratidão diante da ajuda de tantas pessoas. “Obrigada, obrigada, obrigada”, dizia a idosa à multidão que estava no jantar. “Até recebi um cheque de alguém no Alasca. Você pode imaginar? Alasca!”, celebra. “As pessoas têm sido absolutamente maravilhosas comigo”.