Era mais um dia de plantão na pediatria quando as escolhas de um futuro médico fizeram todo sentido. Bruno Batista Valadares, de 26 anos, estudante do último ano de medicina na Universidade Federal do Mato Grosso, tem uma experiência pessoal que tornou o atendimento daquele dia um dos mais importantes da vida dele.
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“Peguei a ficha e era um bebezinho de 7 meses. Um menino. Chamei a mãe e a criança e, quando bati o olho, já identifiquei, clinicamente, que era um potencial síndrome de Down”, conta o estudante. Ao perguntar qual era o motivo da consulta, ela mostrou que tinha feito um exame para confirmar o diagnóstico e, sem coragem de abrir o resultado, caiu no choro.
Experiência traumática
Imediatamente, Bruno reviveu uma história muito particular. Ele tem uma irmã de 33 anos com síndrome de Down e pensou no que a mãe deles viveu ao ficar sabendo da doença da filha. Na época, a família, que vivia no interior de Minas Gerais, precisava viajar longas horas até o consultório médico. O diagnóstico era essencialmente clínico e só veio quando a Isabella já tinha alguns meses de vida.
“O médico falou que sentia muito, que a filha era mongoloide, que não era para esperar nada dela e que minha mãe teria que cuidar dela para sempre”, diz ele. A falta de empatia e humanidade fizeram com que a mãe dele vivesse praticamente um luto ao receber a notícia e viajar novamente para a cidade deles. Só que o amor falou muito mais alto e Isabella sempre foi muito querida e bem tratada por todos da família.
Atendimento humanizado
Bruno explica que quando viu aquela mãe em prantos no consultório, tinha certeza de que precisava fazer diferente. “Eu também fiquei eufórico, mas não transpareci. Porque se ela me visse chorando, não ia ter segurança no que eu ia falar para ela”, lembra. “Eu fiquei engasgado com o choro, mas respirei fundo e pensei em dar meu melhor. Eu só não podia traumatizar aquela mãe como a minha foi traumatizada”, completa.
Assim que abriu o exame que constatava o diagnóstico de síndrome de Down e explicou o resultado, Bruno não conseguiu segurar as lágrimas, mas tranquilizou a mãe ao mostrar várias fotos da irmã. “Eu falei que a Isabella tem a síndrome e é uma pessoa extremamente querida, e para ela não achar que isso vai ser um problema ou um limitador. Falei como minha irmã evoluiu, que foi para a escola, já trabalhou, namorou”, afirma.
Com os relatos, o futuro médico conseguiu acolher aquela mulher cheia de dúvidas e expectativas. “No final ela ficou ofegante, respirou fundo e ficou muito aliviada”, diz. “Ela recebeu uma mensagem de amor, de carinho e afeto de alguém que tem realmente contato com isso”, destacou também.
Sem romantizar a luta
Essa história Bruno dividiu nas redes sociais e recebeu uma enxurrada de mensagens exaltando a atitude e o acolhimento. Ele alerta, porém, que não quis romantizar a luta. “Cuidar de pessoas com deficiência não é fácil. É um grande desafio”, ressalta. Ele esclarece que hoje os exames detectam a síndrome de Down ainda na gestação, mas enfatiza a importância de humanizar o atendimento e, mais do que isso, de amar os filhos acima de tudo.
“Minha mãe conta que olhou para a minha irmã e disse que independentemente do que ela fosse e do que pudesse esperar ia amar e cuidar dela para sempre. Isso é inimaginável. Isso que ela fez transcende a relação mãe e filho. Você nem tem certeza do que o filho é ou tem, mas você está disposto a fazer tudo. É amor puramente aplicado”, conclui.