Theresa Vargas, The Washington Post
Para chegar ao norte da Virgínia a tempo de surpreender um garoto que ele nunca havia conhecido, Shannon Rogish não podia simplesmente sair da cama e dirigir alguns quilômetros. Foi preciso planejamento. Ele teve que tirar o dia de folga, acordar com um céu ainda escuro e dirigir por horas.
O aplicativo de localização dizia que o trajeto de sua casa em Staunton, na Virgínia, Estados Unidos, até lá, levaria cerca de três horas. Então, na terça-feira, ele foi dormir às 19h e, na quarta, acordou às duas da manhã e às três estava na estrada.
“Eu estava rezando o tempo todo, enquanto dirigia, para não bater em nada e para que o trânsito não estivesse tão ruim”, disse ele enquanto estava sentado no carro, com um refrigerante bem no centro do painel, caso ele precisasse de cafeína. “E eu tive muita sorte com tudo isso”.
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O Camaro 2015 de Rogish estava entre os mais de 100 veículos amarelos que contornavam vários quarteirões de um bairro da cidade de Alexandria, Virgínia, na manhã de quarta-feira, proporcionando um momento emocionante em um dia muito especial. Um pouco mais tarde, em todo o país, haveria homenagens para os que morreram no dia 11 de setembro de 2001. Mas por algumas horas, nesse ponto do mapa, estranhos se reuniram para celebrar uma vida.
Eles vieram surpreender um garoto que completou 4 anos naquele dia e que, pela primeira vez, estava saudável em seu aniversário.
“Estou fazendo isso porque quero ver o garoto sorrir”, disse Rogish, bombeiro voluntário e engenheiro de uma fábrica. “Só posso imaginar o inferno que ele passou”.
Esse inferno começou apenas algumas semanas após o primeiro aniversário de Whitaker Weinburger. Um exame de sangue levou a uma ligação preocupante de seu pediatra, e logo sua mãe, Erin Weinburger, estava sentada no hospital, ouvindo um médico lhe dizer que seu filho de 13 meses apresentava neuroblastoma no estágio 4.
Após um transplante duplo de células-tronco, apenas um ponto potencialmente preocupante ainda permanece nos exames de Whitaker, mas fora isso ele está saudável o suficiente para frequentar a pré-escola.
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Quando sua mãe e seu pai, Seth Weinburger, começaram a conversar sobre o que poderiam fazer para que a caminhada até escola fosse especial no dia do seu aniversário, a ideia inicial era chamar um único carro amarelo. Whitaker muitas vezes pede que eles dirijam um na vizinhança porque isso o lembra de Bumblebee, um personagem da série de filmes e desenhos animados Transformers. Eles pensaram em pedir ao vizinho que estacionasse em frente à casa no dia do aniversário de Whitaker.
Erin Weinburger levou a ideia adiante. Em uma página privada do Facebook, ela postou um pedido para as pessoas que tinham carros amarelos. Esse pedido foi parar em outras páginas, na mídia e nos calendários de mais proprietários de veículos amarelos do que ela esperava.
Quando ela pensou que poderiam aparecer cerca de 50 motoristas, ela me disse: “Espero que todas as pessoas que vierem se conectem também, porque elas estão vendo algo muito bonito. Estão vendo algo muito bonito um no outro”.
Na quarta-feira, mais de 100 carros chegaram. Eu gostaria de poder dizer exatamente quantos, mas era impossível contar todos. Havia escavadeiras e ônibus, Camaros e Corvettes. Táxis amarelos com balões de “feliz aniversario” pendurados nas janelas.
Havia até um Tesla amarelo do tamanho de uma criança com um símbolo do Autobots (um grupo de robôs do filme Transformers) no capô e “Whitaker” na placa do veículo.
Pratik Sharma, de Ashburn, Virgínia, disse que seu amigo o comprou para Whitaker como presente. Sharma me contou isso enquanto usava uma fantasia de Bumblebee da cabeça aos pés.
Você é um fã de Bumblebee? Eu perguntei.
“Estou hoje”, disse ele, “por Whitaker”.
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Doug Hoyles também veio com presentes para o menino. Ele colocou três carros de brinquedo, ainda em suas caixas, em uma carroça que ele anexou a um carro de controle remoto.
Hoyles, que vive em Ashburn, adora carros e ama amarelo, então quando o post de Erin no Facebook começou a se espalhar, ele ouviu falar de “talvez 70 ou 80 pessoas”.
Três dos carros que contornavam as ruas próximas à casa da família pertenciam a ele. Ele dirigiu seu Camaro, sua esposa dirigiu seu Charger e o amigo Pete Lapp dirigiu seu Ram.
Lapp, que é agente do FBI, descreveu a atmosfera comemorativa como um contraste bem-vindo com outras lembranças de 11 de setembro. Dezoito anos antes, ele passou o 11 de setembro entrevistando uma mulher que, durante uma estadia em um hotel, viu um dos aviões cair.
“Esta é uma boa memória para todos nós”, disse Lapp.
Quando Whitaker finalmente saiu pela porta da frente com sua mãe, pai e irmã, viu vizinhos acenando placas, pessoas com roupas amarelas em pé ao lado de carros amarelos e com suas câmeras, muitas câmeras, apontadas para ele. Ele se abaixou por um momento atrás de sua irmã, Lakeland, e então segurou a mão dela e caminhou até a frente do quintal.
“Vamos todos cantar!”, alguém gritou, e a multidão bradou “Feliz Aniversário”.
Logo, Whitaker estava sorrindo e vendo a cena surreal enquanto caminhava para a escola com uma comitiva de rostos familiares e estranhos.
“Bumblebee!”, ele gritou, seguido por “Bumblebee! Bumblebee!”
“Obrigado”, ele e seus pais disseram repetidamente.
“É impressionante. É incrível”, disse seu avô Terry Weinburger, enquanto caminhamos juntos em um ponto. “E é apenas uma demonstração do que eu chamaria de valor da comunidade, de pessoas cuidando”.
O Gabinete do Xerife de Alexandria assumiu a difícil tarefa de direcionar os motoristas para os estacionamentos ao longo da rota e, quando os veículos finalmente estavam no lugar, eles se estendiam por mais de um quilômetro e meio até a Escola Primária Charles Barrett. Quando Whitaker finalmente chegou, ele encontrou os alunos esperando do lado de fora para vê-lo e a professora Melissa Poggio direcionando o tráfego enquanto vestia a roupa de Bumblebee.
A multidão cantou “Parabéns a você” mais uma vez e, então, chegou a hora da celebração do grupo terminar. Whitaker teve que ir para a aula.
Os motoristas também tiveram que ir. Alguns tinham longos trechos de estrada pela frente.
Rogish, que participou de campanhas de caridade pelo Rally da América do Norte, planejava ir direto para casa. Ele disse que as três horas que passou dirigindo para chegar a Alexandria e as três horas que passaria voltando para casa certamente valeram a pena.
Ele mudou o carro duas vezes enquanto a família caminhava, para que pudesse vislumbrar Whitaker.
“Ele tinha um grande sorriso no rosto nas duas vezes em que passou por mim”, disse ele. “O garoto tem muita energia, e isso foi bom de ver”.
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