Durante período em que ficou internada sem poder ver família e amigos, palhaços voluntários fizeram a diferença na vida de Priscila.| Foto: Gabriela Valiente
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Quem vê a doce e carismática “Esperanza” pelos quartos e corredores do Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba, nem imagina o que passou a professora Priscila Velozo Machado, voluntária que dá vida à personagem. Durante anos, ela lutou contra uma doença grave e – depois de recuperada – decidiu retornar ao ambiente que já foi hostil a ela, para levar alegria.

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Pelo que relata, tudo começou em 2010 com os primeiros sinais da anemia. “No início eram sintomas leves, como dores nas pernas e dores de cabeça, mas eles foram se agravando. Por último, comecei a ter hemorragias, manchas pelo corpo, confusão na mente e muita fraqueza”, lembra Priscila.  

Como, na época, ela estava sobrecarregada no trabalho, achou que poderia ser algo por conta do estresse. Depois de passar mal algumas vezes e de realizar exames, no entanto, veio o diagnóstico: Anemia Aplástica Severa (AAS), uma condição rara em que o organismo deixa de produzir uma quantidade suficiente de células sanguíneas novas.

“Eu não sabia nada sobre a AAS, por isso não imaginava a gravidade. Fiquei em isolamento por uma semana, já que minha imunidade estava muito baixa”, diz. Depois da primeira alta, veio a indicação médica para o transplante de medula óssea – única chance de cura. “Infelizmente nenhum dos meus familiares era compatível. Aí, me incluíram no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea”, explica.

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Só um ano e meio depois que Priscila ouviu a notícia que tanto esperava: haviam encontrado um doador 100% compatível. “A médica me explicou, porém, que apesar do transplante, eu poderia sofrer muitas intercorrências que também poderiam causar a minha morte. O jeito era enfrentar”, narra.

Após 10 dias de quimioterapia para “zerar” a medula doente e mais 40 de internamento, a professora deixava de vez do hospital. “Durante esse tempo, passei por momentos críticos, como dores muito fortes, sensações horríveis que não passavam, a queda do meu cabelo, das minhas unhas. Mas, também lembro que muita coisa ruim que poderia acontecer (e aconteceu com outros pacientes), comigo não aconteceu”, avalia.

Caminho sem volta

Foi durante o período internada e sem poder receber a visita de amigos e parentes, que Priscila teve o encontro que a marcaria para sempre. “A enfermeira estava me preparando para fazer mais uma transfusão de plaquetas, quando alguém bateu na porta: eram os palhaços. Eles entraram e, de um modo simples e moderado, tentaram interagir comigo. Eu não conseguia corresponder devido ao meu estado, então, eles se despediram e deixaram um pequeno vasinho de flor de plástico como lembrancinha para mim”, afirma.

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Priscila Velozo como "Esperanza". Foto: Gabriela Valiente 

Mesmo sob o efeito de fortes medicamentos, a experiência ficou registrada na mente e no coração da professora. “Apesar do meu estado, eu lembro muito bem da alegria que senti. Havia pensado que não receberia a visita por já ser adulta, mas me surpreendi, pois eles também olharam para mim. Foi algo muito diferente de tudo que acontecia lá. Da mesma forma que era uma visita diferente, também fez a diferença na minha vida”, considera.

Depois de ouvir dos médicos que teria uma “vida normal”, era hora de Priscila ir atrás dos novos objetivos, entre eles fazer visitas a doentes em hospitais. “Então, decidi procurar grupos de palhaços, impulsionada e inspirada pela visita que recebi quando estava internada. Aquela visita me marcou, me trouxe alegria e inspiração. Comecei a pesquisar e, após alguns meses, conheci o grupo Nariz Solidário”, conta.

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Mão na massa

Passado o tempo de formação, ela estava pronta para atuar. “Eu não fazia ideia que por trás de um nariz vermelho existia tanto estudo e dedicação. Por meio desses estudos, passei a ir além em muitas percepções. Olhar com o olhar do palhaço parece simples, mas diante do modo de vida que nos habituamos, torna-se difícil. O palhaço não coloca uma máscara para se esconder (o que é comum para as pessoas), mas para mostrar quem ele é, com ou sem medo, errando ou acertando”, destaca.

Hoje Priscila atua como voluntária no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba. Foto: Gabriela Valiente
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O trabalho de Priscila como Esperanza começou no Hospital infantil de Campo Largo e hoje é realizado no Hospital Cajuru. “Com esse trabalho, a gente desenvolve o lado humano em tudo, principalmente no fracasso, no erro, na fragilidade. Um olhar humano faz toda a diferença, principalmente dentro de um ambiente hospitalar. Fica mais fácil entender a dor e a fragilidade do outro”, classifica.

“Hoje, ao fazer as visitas, sei que não vou somente levar alegria, ou apenas estar ali no ambiente. Sei que é mais profundo do que isso. Hoje, eu sei que eu levo um significado que é potente para transformar: levo esperança”, conclui a voluntária.