Muito além de uma história de superação, a trajetória da estilista Juliana Pereira dos Santos, de 34 anos, tem se tornado um caminho para a representatividade das pessoas com deficiência. Segundo ela, uma das coisas que mais sentia falta em sua infância era de "se ver" em desenhos e filmes e, por isso, hoje ela se dedica em um projeto que pode mudar a vida de outras crianças com deficiência.
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A ideia, que já está em fase de produção, é o lançamento de um gibi que terá como personagem principal a super-heroína “Ju Sem as Mãos”, uma menina que passou por uma bola de fogo e adquiriu superpoderes e, com eles, passou a transformar a vida das pessoas ao seu redor. Nos quadrinhos, que serão assinados pelo cartunista Gabriel Rodrigues, as crianças também conhecerão outras histórias de deficientes bem-sucedidos.
Nascida em Belo Horizonte, Juliana sofreu graves queimaduras depois de um acidente doméstico aos 4 anos de idade e perdeu os dedos da mão esquerda e dos pés. Sua mãe biológica a abandonou no Hospital de Queimaduras em Goiânia, só que o destino, rapidamente, tratou de dar a essa trágica situação um final feliz. “Ainda no hospital fui adotada por uma família maravilhosa”, conta Juliana ao Sempre Família. “Meu pai me ensinou muito a não me vitimizar, a não sentir pena de mim mesma, sempre insistia para que eu fizesse as coisas sozinha, que eu descobrisse um jeito de fazer por mim mesma”.
Desmistificando
Para a estilista, uma das coisas que mais gera preconceito contra as pessoas com deficiência é a maneira como a mídia as representa. “É sempre uma pessoa coitadinha, que não consegue fazer nada e isso acaba propagando essa imagem de que quando uma pessoa com deficiência consegue fazer alguma coisa, ela é superpoderosa, ela está superando obstáculos, ela tem que ser um exemplo etc.”, observa Juliana.
“A ideia do gibi surgiu para desmistificar isso, tirar essa imagem de que a gente é superpoderoso por conseguir amarrar o sapato, fazer comida sozinho, andar na rua sozinho, se vestir sozinho”, explica. “A gente quer colocar personagens com deficiência, mas que vão mostrar que o superpoder delas é, literalmente, um superpoder. Um superpoder de atravessar parede, de ler mentes, de flutuar coisas. E que elas usam esse poder para ajudar o mundo a ser melhor”.
A história ainda está sendo construída e a expectativa é que o lançamento aconteça até o final de 2021 em edições bimestrais. De acordo com a estilista, a pandemia de Covid-19 acabou atrasando algumas etapas do processo de produção e, além disso, ela ainda está em busca de patrocínio.
É possível mudar o mundo
“Eu acredito muito na mudança do mundo a partir da educação e das crianças”, afirma Juliana, lembrando que o principal objetivo do projeto é educar crianças, com deficiência ou não. “Eu tenho três filhos e eles nunca passaram por nenhuma situação onde constrangeram alguma pessoa por ter deficiência, isso porque para eles é completamente normal. Eles não me veem como uma supermãe, uma supermulher”, conta.
“Então, se a gente começar a normalizar isso para as crianças, a gente pode mudar a próxima geração, o que vai trazer muito mais inclusão para as pessoas com deficiência, menos preconceito, mais oportunidades e, principalmente, a alegria de saber que crianças com deficiência olharão para a gente e poderão contar que conseguiram ser o que elas queriam porque se esforçaram e conseguiram”.
Visibilidade
Apaixonada pelo mundo da moda desde muito nova, a estilista também decidiu colocar esse seu dom a serviço do novo projeto. Ela está customizando e vendendo tênis e camisetas para ajudar a pagar os custos da primeira edição do gibi. Os produtos podem ser adquiridos através de seu perfil no Instagram (@jusemasmaoss) e também pelo TikTok.
Aliás, Juliana também tem usado o TikTok para dar visibilidade ao projeto. Em pouco tempo, ela alcançou cerca de 314 mil seguidores na plataforma com a série de vídeos “Peripécias da Ju”, onde conta suas histórias por meio do humor. “Quero mostrar que pessoas com deficiência são iguais a qualquer pessoa. Mesmo com nossas limitações, temos muito a oferecer e só queremos ser tratados com respeito”.