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Contribuir para a formação de pessoas moralmente melhores não é a única vantagem de se trabalhar as virtudes com os estudantes. A prática é também uma forma de aumentar as chances de sucesso tanto na vida escolar quanto na profissional. Esse é um dos fundamentos do Virtues Project, método reconhecido pelas Nações Unidas e presente em 95 países, que tem chamado a atenção de educadores por englobar ações aplicáveis à escola e às vidas profissional, familiar e comunitária.

Uma das caraterísticas do projeto é prever uma transformação no modo de agir de pais e professores. “O projeto trata de mudar o comportamento dos adultos para que possamos honrar a nobreza inerente nas crianças”, explica a norte-americana Dara Feldman, escritora e educadora que preside o Virtues Project e se dedica ao estudo das virtudes.

Para ela, a linguagem é a ferramenta crucial no desenvolvimento do método, que usa cinco estratégias comportamentais para despertar uma personalidade mais virtuosa. Uma delas é a de dar destaque, verbalmente, à presença das virtudes em situações cotidianas. “Em vez de dizer apenas ‘bom trabalho’, o adulto pode dizer que viu a determinação da criança em executar uma tarefa ou ir além do ‘muito obrigado’ e dizer ‘muito obrigado por sua gentileza’”, explica. Ao fazer disso um hábito, pais e professores levam o aluno a perceber e valorizar a virtude demonstrada, desenvolvendo o desejo de potencializá-la.

Desempenho escolar

Um questionamento comumente feito a Dara sobre o método é a relevância do ensino de virtudes na obtenção de melhor desempenho educacional. A esse respeito, a educadora tem a resposta na ponta da língua: “Do que um aluno precisa para ir bem em um exame? Determinação, perseverança, compromisso, excelência etc. Tudo isso são virtudes e podem ser estimuladas”. “Uma escola que não se preocupa com valores acaba por criar profissionais incapazes de ver significado ou propósito na vida”, completa.

Para o doutor em Educação João Malheiro, o método não chega a ser uma novidade, já que nos últimos anos houve um visível aumento na oferta de materiais didáticos que estimulam discussões sobre ética. Mesmo assim, o educador vê com bons olhos principalmente o enfoque dado à mudança de comportamento dos adultos. “Vejo a necessidade de se formar melhor pais e professores, de maneira que não só entendam a importância desse aprendizado, mas que se decidam a falar a mesma linguagem ética, com o exemplo e com a palavra”, diz.

Adesão

Embora o Projeto das Virtudes conte com um conselho de pesquisadores, não é preciso passar por nenhum procedimento burocrático para tornar-se um aplicador do método. “As pessoas podem entrar no site, ler sobre a metodologia, baixar o material e aplicar na sala de aula ou em suas vidas”, explica Dara Feldman. Ela é voluntária na posição de liderança que ocupa no projeto e diz que só se empenha em divulgar o método por “realmente acreditar no bem que as virtudes podem fazer ao mundo”. Mais informações nos sites do Virtues Project ou ou no da própria Dara Feldman.

Ensinar valores não é algo restrito a escolas confessionais

A possível subjetividade da formação moral é um ponto passível de discussão no ensino de virtudes na escola. Como instituições confessionais tendem a ser as mais lembradas na ênfase dada a um comportamento virtuoso, o termo quase sempre aparece na educação vinculado a princípios religiosos.

O Projeto das Virtudes, no entanto, não tem ligação com qualquer denominação religiosa. “Nos Estados Unidos, quando começamos, as pessoas pensavam que era alguma igreja ou até um partido político. Vemos as virtudes como qualidades de caráter universais”, explica a presidente do projeto, Dara Feldman.

Uma das caraterísticas do Virtue Project é prever uma transformação no modo de agir de pais e professores

A visão positiva do ensino de virtudes inclusive em escolas não confessionais é compartilhada pela pedagoga Ana Cristina dos Santos, orientadora disciplinar do Colégio Decisivo de Curitiba (PR). Para ela, a importância da formação moral não pode ser limitada às instituições que aderem a uma doutrina religiosa específica. “Valores regem o bom funcionamento da vida em sociedade”, afirma.

Conforme o doutor em educação João Malheiro, as entidades confessionais fazem uso do ensino das virtudes porque elas dão fundamento para uma vida religiosa, mas as virtudes em si pertencem ao campo da ética e não da religião.

 

Na linha

Confira quais são as cinco estratégias do Projeto das Virtudes para trabalhar com os valores na escola e em casa:

  1. Falar a linguagem das virtudes. Evidenciá-las verbalmente quando se nota a presença de uma virtude em alguma situação.
  2. Usar a virtude como um guia. Ao dar instruções, cite a virtude a ser usada no cumprimento de uma tarefa.
  3. Estabelecer limites, tendo uma virtude como referência. Ao corrigir a criança, identifique qual a virtude está em falta e a convide a voltar a agir conforme essa virtude.
  4. Ser coerente em todos os ambientes. Uma verdadeira transformação da linguagem só ocorre quando ela não se limita a um espaço, mas sim quando se torna uma prática habitual em todos os locais de convívio.
  5. Mostrar-se presente. Ouça com atenção e ajude àqueles que o procurarem, buscando clareza a respeito das próprias virtudes.

 

Saiba mais

Veja algumas das virtudes listadas no site do Virtues Project. Lá é possível encontrar o significado das demais.

Assertividade

Ser assertivo significa ser positivo e confiante. Você é consciente de que que você é importante com seus dons especiais. Você pensa por si mesmo e expressa as próprias ideias. Você sabe o que defende e o que nunca defenderá. Você espera respeito.

Justiça

Praticar a justiça é ser justo. É resolver os problemas de forma que todos ganhem. Você não pré-julga. Você enxerga as pessoas como indivíduos. Você não aceita quando alguém provoca, trapaceia ou mente. Lutar pela justiça exige coragem. Muitas vezes quando você luta por justiça, você luta sozinho.

Autodisciplina

Autodisciplina significa autocontrole. É fazer o que você realmente o que quer fazer sem se deixar levar por seus sentimentos ou emoções como uma folha no vento. Você age em vez de reagir. Você consegue fazer as coisas de uma maneira ordenada e efetiva. Com autodisciplina, você toma conta de você mesmo.

Misericórdia

É abençoar os outros com nossa compaixão e perdão. É levar nossa sensibilidade para além do que é justo ou devido.

Modéstia

Modéstia é ter respeito próprio. Quanto você se autovaloriza deixando o orgulho de lado, você aceita o elogio com humildade e gratidão. Modéstia também significa estar bem consigo mesmo e colocar limites saudáveis sobre seu corpo e sua privacidade.

Lealdade

Lealdade é ser verdadeiro para alguém. É defender algo em que você acredita sem vacilar. É ser fiel a sua família, a seu país, a sua escola, a seus amigos e a seus ideais, tanto em momentos difíceis como nos fáceis. Com lealdade, é possível construir relações que duram para sempre.

Obediência

Seguir o que você sabe que é correto. Seguir a lei. Respeitando nossa mais profunda integridade e conquistando nossas paixões descabidas.

Idealismo

Quando você tem ideais, você realmente se importa com o que é certo e tem significado na vida. Você segue suas crenças. Você não aceita as coisas da forma como elas são. Você faz a diferença. Idealistas ousam ter grandes sonhos e, assim, agem para que eles se tornem realidade.

Presteza

Ter presteza é estar a serviço dos outros, fazendo coisas que fazem a diferença na vida deles. Oferecer sua ajuda sem esperar que alguém a peça. Pedir ajuda quando você precisa. Quando ajudamos uns aos outros, nós conseguimos mais e deixamos nossas vidas mais fáceis.

Flexibilidade

Ser flexível é ser aberto a mudanças. Você considera as ideias e os sentimentos dos outros sem tentar impor o seu ponto de vista.

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