O primeiro contato da paranaense Edna Nunes com os imigrantes aconteceu seis anos atrás. “Eu ia para o trabalho de ônibus e sempre encontrava mulheres haitianas no trajeto. Uma delas tinha um bebê pequeno, mais ou menos da idade do meu, e comecei a puxar papo para tentar me comunicar com ela”, conta.
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Das conversas iniciais – ainda sem muita intimidade – surgiu uma amizade que levou a jornalista, de 37 anos, para dentro da casa da estrangeira. “Ali eu pude ver o que ela passava para sustentar a família”, diz ao citar que Mevi ia até outra cidade trançar cabelos para, com o pouco dinheiro conquistado, alimentar o filho.
A dura realidade fez Edna lembrar de uma infância difícil, rodeada de pessoas, mas se sentindo sozinha. “Era como se eu estivesse em outro país. Tive muitos problemas para socializar, era uma criança tímida. Foi só depois que uma professora me incentivou a escrever que consegui me inserir em alguns grupos”, lembra.
O envolvimento virou missão. Logo, eram os próprios estrangeiros de Toledo (PR), no oeste do Estado, que iam atrás dela à procura de ajuda. “Comecei cuidando de cinco mulheres que, na semana seguinte, passaram a 15. Em um mês, já estava atendendo 800 pessoas [com aulas de Português, cuidados médicos e psicológicos] sem um real em caixa”, afirma. Uma verdadeira Embaixada Solidária.
Estrutura
Hoje, a iniciativa conta com sede própria (uma casa cedida pela Prefeitura) e um batalhão de 70 voluntários envolvidos nesse trabalho. “Nós gostamos de ser conhecidos como o primeiro abraço que essas pessoas recebem quando chegam aqui”, define a idealizadora.
Edna calcula que, em todo esse tempo, cerca de 2.800 estrangeiros de 14 etnias diferentes já tenham “passado pelas mãos” da Embaixada. Entre os serviços ofertados generosamente, o acesso à saúde, à documentação, à moradia, além de encaminhamento para o mercado de trabalho.
Na Embaixada Solidária são oferecidos, ainda, cursos e oficinas profissionalizantes para que os imigrantes se tornem donos da própria história e possam gerar renda pelas próprias mãos. O local também virou ponto constante de entrega de doações por parte de empresas e clubes de serviço da cidade. “Nós somos resultado da solidariedade da nossa comunidade”, conclui Edna.
Novo rumo
Em retribuição a tudo que recebeu, Mevi Leopold (a haitiana que Edna conheceu no ônibus) se envolveu de tal maneira no projeto que passou a ser uma das voluntárias da linha de frente da iniciativa.
“Eu vim para o Brasil sozinha tentar a vida. Passei muita coisa triste, solidão, necessidade, medo. Aqui encontrei uma família e tenho imenso orgulho de pertencer ao grupo de pessoas que não enxergam o mundo pela cor da pele ou pelo sotaque do idioma”, garante.
Sobre a relação com a jornalista, ela diz que era só uma menina com uma criança nos braços e que o encontro foi “uma avalanche de transformações”. Para Mevi, o convívio entre as duas ultrapassa a barreira do trabalho e as torna “mãe e filha” – tanto que, em um gesto de gratidão, Edna foi promovida à mãe da noiva no casamento da estrangeira e a levou até o altar.
Conquista
Já o senegalês Abdou N’diaye chegou à Embaixada Solidária com um sonho em mente: queria ser costureiro e mostrar sua arte. Lá, encontrou amigos, clientes e incentivadores. Tornou-se estilista e, atualmente, emprega outros estrangeiros no negócio.
“Eu estou muito feliz aqui no Brasil. Meu desejo é que cada um dos irmãos pelo mundo possa encontrar sua casa e seu povo, mesmo estando longe de suas pátrias”, anseia.