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“Não conseguíamos nem comprar comida para as crianças”, conta o venezuelano Ronny Cardozo. Morador de Caracas – capital da Venezuela –, ele e a esposa Joselyn Del Carmen administravam uma empresa de confecções e se esforçavam, ao máximo, para sustentar os pequenos Allan e Ethan, de 4 e 6 anos. No entanto, a crise econômica do país estava tão complicada que até comprar um pacote de arroz era motivo de angústia para o casal. “Decidimos, então, usar nosso Fusca 1972 para dar um futuro melhor aos nossos filhos no Sul do Brasil”.

Só que, assim que contaram aos familiares e amigos a respeito da ideia, Ronny e Joselyn ouviram apenas frases desmotivadoras, pois ninguém acreditava que o veículo da década de 70 aguentaria uma viagem de 6,5 mil quilômetros até Curitiba. “Mesmo assim, eu tinha certeza de que o carro nos levaria ao destino, e disse que faríamos a viagem”, conta o homem, que se despediu dos parentes no dia 16 de agosto de 2018. “Foi muito triste, mas faríamos aquilo por nossos meninos”.

Com uma barraca, um fogareiro e aproximadamente R$ 2 mil que conseguiram após a venda de todas as máquinas da empresa, eles começaram a jornada atravessando a Venezuela e ingressando ao Brasil pelo estado de Roraima. De lá, a família seguiu para o Amazonas e enfrentou mais de 780 quilômetros no difícil trecho da BR-319 até chegar em Rondônia. “Essa estrada é toda de chão, tem infinitos buracos e passamos por 55 pontes de madeira”, conta o motorista, que descia do carro em todas elas para verificar a segurança de cada travessia.

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Infelizmente, o tanque de combustível do Fusca furou durante esse percurso e Ronny precisou colá-lo manualmente para continuar o trajeto. A “gambiarra” os levou em segurança até a cidade de Ji-Paraná para fazer o conserto, mas o dinheiro restante não seria suficiente para concluir os 3,5 mil quilômetros que faltavam até Curitiba, mesmo que cozinhassem as próprias refeições e acampassem todas as noites. Então, depois de 18 dias de trajeto, a família permaneceu em Rondônia para conseguir o valor que precisava.

Ali, o casal vendia doces em uma das praças de Ji-Paraná, enquanto procurava emprego. “Demorou um pouco, mas achei trabalho em uma oficina e minha esposa conseguiu duas máquinas emprestadas para costurar”, recorda o venezuelano, que teve que esperar um ano e três meses até juntar R$ 1,5 mil para seguir a viagem. “Era para termos um valor maior, mas meu patrão não pagou o que eu esperava quando saí daquele trabalho”, conta.

Por sorte, o número de “anjos” cruzando o caminho da família para comprar os artesanatos que eles faziam ou para fazer doações superou a quantidade de pessoas que tentou prejudicá-los. “Teve até um grupo de pessoas que fez uma vaquinha para nos dar um tanque cheio de combustível”, recorda o homem, agradecido.

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“Teve até um grupo de pessoas que fez uma vaquinha para nos dar um tanque cheio de combustível”

Assim, com a ajuda de muitos brasileiros e a média de 16 quilômetros percorridos por litro de gasolina, ele chegou ao destino final no último dia 16 de janeiro. No entanto, em vez de estacionar de forma permanente na capital do Paraná, a família decidiu ouvir o conselho de um caminhoneiro e morar na região metropolitana de Curitiba. O local escolhido foi a cidade de Quatro Barras, e o resultado foi uma casa para morarem gratuitamente, diversos alimentos, eletrodomésticos e oportunidades. “Inclusive, minha esposa já conseguiu trabalho e estou aguardando o retorno de uma empresa”, comemorou enquanto conversava com a equipe do Sempre Família nesta sexta-feira (31).

Apesar das dificuldades enfrentadas em todo o percurso, Ronny garante que deixar a Venezuela com seu Fusca 1972 – chamado carinhosamente pela família de El Alemán – foi a melhor escolha que poderia ter feito. Além disso, agora ele tem certeza de que qualquer sonho pode ser alcançado quando o indivíduo realmente se esforça para isso. “E o nosso de ser feliz e construir uma nova vida aqui no Brasil só está começando”, finaliza.