Foto: Arquivo pessoal/Rafael Bastos| Foto:

Diagnosticado com uma séria lesão ocular nos primeiros anos de vida, o deficiente visual Rafael Bastos impressiona amigos e colegas de trabalho com as imagens que desenha nas telas de pintura e em programas de edição no computador. “Essa é a forma de demonstrar para o mundo o que eu gostaria de enxergar”, afirma o pintor e design gráfico de 43 anos.

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Sem os braços, catarinense de 12 anos se destaca no xadrez e cubo mágico

A paixão pela arte, segundo ele, começou na infância ao assistir o programa televisivo “A Turma do Lambe-Lambe”, transmitido entre 1976 e 1986 pelas emissoras Educativa e Bandeirantes. “O apresentador Daniel Azulay era um artista plástico que pintava durante a programação e aquilo me encantava”, conta o paranaense, que usava os resquícios de visão central em seu olho esquerdo para acompanhar os traços. “Eu assistia com a carinha colada na televisão e rabiscava o papel tentando repetir”.

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Segundo Rafael, os médicos da época afirmaram que ele havia nascido com apenas 2% de visão devido a uma doença conhecida como cicatriz macular, caracterizada por lesões no nervo ótico e na retina do paciente. “Possivelmente minha mãe contraiu toxoplasmose [infecção transmitida por gatos que pode até levar ao aborto] e isso afetou meu desenvolvimento”, revela o design. Além do problema de visão Rafael também apresenta dificuldades respiratórias.

No entanto, a alteração nos olhos é o que mais preocupava sua família porque até hoje não existe cura e nem recursos como lentes de contato ou óculos capazes de corrigir sua visão. “Tive que me adaptar a isso e meu cérebro aprendeu, aos poucos, a enxergar desse jeito”, comenta o morador de Curitiba.

“Tive que me adaptar a isso e meu cérebro aprendeu, aos poucos, a enxergar desse jeito”

A fase mais difícil foi na escola, pois só conseguia ver borrões e precisava ficar bem próximo do quadro para copiar o que a professora escrevia. “Tenho a visão chamada de conta-dedos por não conseguir ver as letras apresentadas pelo oftalmologista nos exames de rotina”, explica. “Nessas consultas, só enxergo os dedos do médico bem na frente do meu rosto, então não conseguia ver o quadro inteiro na sala de aula e foi bem difícil aprender a ler”, relata Rafael.

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Além da complexidade para acompanhar o conteúdo na escola de ensino regular que frequentou, o garoto ainda precisou lidar com o preconceito. “Foi um período muito complicado, mas eu estava focado no sonho de ser um artista”, conta o paranaense, que não se desanimou com comentários negativos e focou seus esforços nas artes plásticas.

Muito talento

Aos sete anos, o garoto já tinha o traço de desenho mais desenvolvido que o das crianças de sua idade, e aos 13 estava matriculado em um curso de artes para aprimorar seu talento. “Lembro que a área dos pintores ficava perto de onde tínhamos aulas e eu fazia de tudo para ir lá”.

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Seus quadros favoritos eram os de paisagens, então ele se aproximava dos alunos enquanto pintavam imagens da natureza, prestava atenção à e maneira que trabalhavam e imaginava o dia em que faria suas próprias obras. “Comecei a treinar bastante e, com 22 anos, esse dia chegou”, recorda Rafael, que passou a pintar imagens com detalhes que não era capaz de enxergar. “O que eu vejo são manchas, então não consigo ter a visão do todo. Para mim, uma árvore fora da janela, por exemplo, é apenas uma variedade de tons verdes”.

Mas, ao se aproximar bastante da tela e usar sua baixa visão para pintar pedaço por pedaço dela, o artista consegue transmitir no quadro a imagem completa que cria em sua mente, como se montasse um quebra-cabeças usando tinta e pincel. “Não sei como faço isso, mas faço”, brinca o paranaense, que já deu aulas de pintura, comercializou inúmeros quadros e administrou um ateliê até 2008. Além disso, Rafael foi selecionado no processo seletivo de uma rede bancária naquele ano e passou a dividir a pintura com outro sonho: o de se tornar designer gráfico.

Por isso, participou de treinamentos, fez diversos cursos e agora trabalha na equipe de comunicação visual da instituição desenvolvendo comunicados, painéis, cenários e artes de uso interno. Segundo ele, sua principal aliada na profissão é a ferramenta “lupa” disponível em programas como Adobe Illustrator e Photoshop, que aproximam as imagens até o ponto em que ele consegue enxergar e evitam que seu rosto fique muito próximo à tela do computador.

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Além disso, ele aproveita o tempo livre para pintar, e entre suas obras mais recentes estão as paredes de uma igreja em Curitiba. “Fiz várias imagens bíblicas com quase três metros de comprimento cada, algo que até eu pensava ser impossível quando comecei a desenhar”, afirma o artista. E Rafael incentiva outras pessoas com necessidades especiais a também perseguirem seus sonhos.  “O que enfrentamos aqui com nossas ‘deficiências’ não passam de simples obstáculos que nos tornam mais fortes. Então, vá em frente e não desista de alcançar seus sonhos!”, finaliza.