Empresa de mobilidade Grow criou programa para contratar egressos do sistema penitenciário para trabalhar na orientação a usuários de bicicletas e patinetes
| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Não existem dados mais precisos a respeito da ressocialização de detentos no Brasil. Estima-se, porém, que o percentual de pessoas que voltam a cometer crimes depois que deixam a prisão chega a preocupantes 70%. Além dos problemas já conhecidos do sistema carcerário brasileiro, como as condições precárias e a superlotação dos presídios, contribui para essas estatísticas a escassez de políticas para reinserir os egressos no mercado de trabalho. Mas algumas iniciativas encabeçadas por empresas e organizações não governamentais têm garantido oportunidades para que ex-detentos iniciem uma vida nova.

Uma dessas empresas é a Grow, startup de mobilidade que aluga bicicletas e patinetes compartilhados, resultante da fusão da brasileira Yellow com a mexicana Grin. No início do ano, a empresa iniciou em São Paulo um projeto para contratação de egressos do sistema penitenciário. Em um primeiro momento, foram contratadas 20 pessoas para trabalhar nas ruas orientando usuários do serviço. A experiência deu certo e hoje já são quase 100 ex-detentos empregados em sete cidades.

98 egressos do sistema penitenciário foram contratados pela Grow desde o início do ano em sete cidades.

Curitiba é o mais recente dos municípios a receber a iniciativa. Quatro egressos já estão nas ruas fazendo o trabalho que a Grow chama de rebalanceamento: orientar usuários sobre o uso correto dos equipamentos, intervir em caso de danos ao patrimônio e adequar bicicletas e patinetes que estejam atrapalhando o tráfego de veículos e pedestres. Segundo a assessoria de comunicação da Grow, já são 98 egressos atuando, além de Curitiba e São Paulo, nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Vitória.

O gerente de Comunidades da Grow, Johnny William Cruz Borges conta que a iniciativa surgiu, além da preocupação com a inserção de ex-detentos no mercado de trabalho, de uma demanda da empresa. “Trabalhamos com um produto no qual há interação direta com as ruas. Precisávamos encontrar pessoas com potencial para dialogar, que tivessem a expertise necessária para quem vai trabalhar nas ruas. E vimos essa possibilidade nos egressos, pessoas que têm um olhar para as ruas e uma maior conexão com esse trabalho”, diz.

Para Johnny, a experiência vivida por esses detentos é algo que conta a favor no trabalho de abordagem nas ruas. “O talento deles tem muito a ver com a resiliência e as habilidades emocionais que adquiriram nas ruas. Por exemplo: se esse trabalhador se depara com um jovem praticando vandalismo, ele consegue conversar com esse jovem, evitar que ele cometa um ato ilícito e sofra consequências mais duras. É uma conexão mais forte do que alguém que nunca tenha passado por esse tipo de experiência”, avalia.

Parceria

Em Curitiba, as contratações foram feitas por intermédio da Geração Bizu, uma startup de empreendedorismo social em atividade desde janeiro do ano passado. Além de promover a reinserção no mercado de trabalho de egressos e presos monitorados por tornozeleiras eletrônicas, a organização também realiza programas de treinamento e capacitação, fornece apoio psicológico e ministra consultoria para as empresas interessadas em contratar detentos e ex-detentos. Um dos objetivos é acompanhar os presos mesmo depois de terem conseguido emprego, até que conquistem a autonomia definitiva.

Um dos trabalhos encabeçados pela Geração Bizu foi no Café Sete Espresso, instalado em um antigo módulo policial na Praça Maria Bergamin Andretta, em frente ao Cemitério Água Verde. O espaço que estava abandonado foi reformado e, desde julho do ano passado, abriga o café, onde trabalham presas monitoradas por tornozeleira.

“É uma relação ganha-ganha. Tanto para os egressos, que têm uma segunda oportunidade, como para nós, que temos pessoas que se conectam com nosso público e ajudam o negócio.”

No caso da Grow, os contratados são todos egressos, pessoas que já cumpriram a pena determinada pela Justiça. Johnny garante que, até o momento, a experiência tem sido altamente positiva, o que faz com que a empresa planeje ampliar o número de cidades abrangidas pelo programa. “É uma relação ganha-ganha. Tanto para os egressos, que têm uma segunda oportunidade, como para nós, que temos pessoas que se conectam com nosso público e ajudam o negócio”, diz. “Enquanto as estatísticas mostram que a maioria das pessoas que saem da prisão voltam a cometer crimes, entre os nossos contratados esse índice está em zero.”

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