A partir dos 5 anos de idade, crianças do Pantanal de Paiaguás, no Mato Grosso do Sul, acordam às 2 horas da manhã para enfrentar o difícil percurso até a escola. Para isso, “seguem horas a cavalo e pegam pequenas embarcações, chamadas de rabetas, até o curso do Rio Paraguai, onde passa o barco-escola”, conta a professora Tatiane Zabala Gomes.
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Segundo ela, esse barco os leva por mais duas horas até a Escola Jatobazinho, onde começam as atividades após o almoço e continuam durante toda a semana, em regime de internato. “Assim, voltam para casa apenas no sábado e têm oportunidade de estudar”, relata a funcionária, que viu o índice de trabalho infantil na região diminuir, assim como as taxas de analfabetismo e de evasão escolar.
“Isso porque as crianças estudam até o 5° ano aqui, e depois vão para uma instituição parceira que oferece Ensino Médio e técnico”, afirma a pedagoga, que já tem até ex-alunos fazendo faculdade. “Um deles, por exemplo, está cursando Pedagogia e quer dar aula para crianças ribeirinhas”, conta, sensibilizada. “Me emociono ao saber que estamos formando pessoas que podem fazer diferença na comunidade”.
E esse é apenas um dos resultados do projeto Acaia Pantanal, que fundou a escola na região em 2008, e hoje realiza diversas ações socioambientais na zona rural do município de Corumbá. “Lembrando que estamos a cerca de 100 quilômetros do centro urbano e que leva 10 horas para percorrer essa distância por lanchas freteiras”, relata a diretora do projeto, Sylvia Helena Bourroul.
De acordo com ela, as águas do Rio Paraguai cobrem grande parte do município durante o ano, o que impossibilita a construção de estradas e dificulta o acesso à região. Por isso, a maioria dos moradores não têm energia elétrica, telefonia ou saneamento básico, e serviços relacionados à educação e saúde são escassos. “Os ribeirinhos acabam ficando isolados, têm poucas oportunidades de emprego e baixo desenvolvimento social”.
Além disso, a proximidade com a fronteira da Bolívia favorece a circulação de drogas, produtos roubados e contrabando pelo rio, tornando a população vulnerável ao envolvimento com atividades ilegais. “E é dentro desse cenário que o Acaia Pantanal desenvolve suas ações para ajudar essas pessoas”, explica Sylvia, ao citar o atendimento de 100 alunos que moram na Escola Jatobazinho e o acompanhamento de quase 300 ribeirinhos. “Tudo gratuitamente”.
Entre as atividades oferecidas pelo projeto estão “uma rica agenda pedagógica para os estudantes, uso da sala de leitura, biblioteca, brinquedoteca e diversas ações de lazer com direito à campo de futebol e piscina”, afirma a diretora. Já no entorno da escola, a comunidade participa de eventos, oficinas de geração de renda, orientações na área de saúde e também de educação contra o fogo, para evitar incêndios como os que devastaram o Pantanal em 2020.
Recursos
Para isso, o projeto conta com 30 funcionários – além de estagiários e voluntários –, e tem parcerias com a prefeitura de Corumbá, Fundação Bradesco de Bodoquena e com pessoas físicas e jurídicas que apoiam esse e outros projetos do Instituto Acaia. Para ajudar, basta entrar em contato com o e-mail admpantanal@acaia.org.br ou WhatsApp (11) 99681-6801.
“E nós recebemos visitantes o tempo todo”, afirma Sylvia, ao convidar pesquisadores, acadêmicos e turistas para também conhecerem a instituição. “Temos acomodações reservadas para essa finalidade, e um membro da equipe acompanha quem vem nos conhecer”.