Saúde, educação, cidadania e economia. Esses são os pilares que regem o trabalho da Haja, uma organização não governamental (ONG) que tem ajudado a tirar famílias inteiras da extrema pobreza. A filosofia de atendimento, que teve início em comunidades do Rio de Janeiro, chegou também ao Egito, onde 100 crianças são atendidas por voluntários.
“A gente costuma dizer que a nossa missão é construir pontes para que os moradores tenham acesso aos seus direitos”, diz Nadia Barbazza, uma das criadoras da iniciativa. Atraída pela causa da saúde pública, a suíça descendente de italianos desembarcou no Brasil, pela primeira vez, em 1992. E nunca se esqueceu do que viu. “Eu fui chamada para trabalhar no Morro do Borel e acabei descobrindo um mundo com muita violência e total ausência do poder público”, conta.
No morro - considerado o mais violento da América Latina, na época - Nadia conheceu outro visionário: Pedro Rocha Junior, o “Pedro do Borel”. Carioca da gema e membro da mesma ONG que trouxe a estrangeira para a América do Sul, ele se tornaria seu companheiro de empreitada e de vida.
Capítulo importante
Da zona norte do Rio, o casal seguiu para uma experiência de quatro anos no Egito, berço para que a metodologia de abordagem da ONG fosse criada. “Lá, nós começamos um trabalho com crianças em situação de rua e foi aí que criamos um manual para o desenvolvimento intelectual, físico, social e emocional delas, de acordo com o perfil e idade de cada uma”, recorda Nadia. Hoje, o trabalho é mantido por moradores locais treinados por eles.
De volta ao Brasil e com muitas ideias na cabeça, Nadia e Pedro decidiram que era hora de diminuir o tempo de espera e dar mais agilidade ao atendimento prestado às famílias. Surgiu, então, a Haja. “Nós somos relativamente novos, temos só dois anos de existência. Contamos com voluntários e pessoas físicas que colaboram muito com a gente”, descreve a suíça.
O local escolhido para “fixarem as raízes” foi a comunidade de Quatro Rodas, no Jardim Gramacho, município de Duque de Caixas (RJ). A área, que fica a 13 quilômetros da capital fluminense, circunda a Baía de Guanabara e já abrigou o maior aterro sanitário latino-americano.
“Hoje, 87% dos moradores ao redor do aterro vivem em situação de pobreza. Desses, 68% vivem em extrema pobreza, ou seja, com menos que R$ 118 per capita por mês”, destaca o site da Haja. A região também lidera os índices de violência no estado do Rio de Janeiro e concentra apenas 30% das crianças de 0 a 6 anos frequentando a escola.
Mão na massa
Para as crianças, o foco da Haja está na educação e no protagonismo social. Para os adultos, formação e geração de renda. “Nossa atuação é pautada no desenvolvimento comunitário, não de fora para dentro, mas de dentro para fora”, ressalta Nadia. Segundo ela, “não é só sobre aprender a ler e escrever, mas criar competências e investir nas pessoas”.
Como ações, ela cita a construção de creches, unidades de saúde, implantação de programas de ensino, apoio escolar e oficinas de economia solidária. Os indicadores dos primeiros 12 meses de trabalho também estão expostos na página da organização na internet: uma casa construída e mobiliada, 12 famílias fora da extrema pobreza, 50 crianças com acesso à educação não formal, 12 famílias inscritas no programa de geração de renda e um total de 201 pessoas atendidas.
Projetos
Vejo um Jardim
Junto com a comunidade, se torna um ponto estratégico para que crianças aprendam a construir e acessar sua identidade e cidadania. Ensina, também, a lidar e conviver em harmonia com seu micro e macro cenário. Por meio de ações na área da saúde, educação e economia e baseado em necessidades reais gera um cenário mais justo e transformador.
Tá limpo
O projeto tem como base a ecologia social que vê o indivíduo no centro, no maior foco. Nesse contexto, são criadas oportunidades que estimulam e apoiam a reciclagem e a redução do consumo, com palestras e pequenas ações. Como segundo objetivo, viabiliza os recursos necessários para que as famílias possam viver com qualidade de vida digna.
Cairo sem cárie
A iniciativa atende crianças em situação de risco com acesso a tratamentos odontológicos. Quase 70% das crianças no Cairo (Egito) têm histórico de cárie não tratada. Enquanto isso, 80% sofrem de alguma forma de doença periodontal. Atenção mínima é dada à prevenção primária, tanto em nível individual quanto profissional.
Pandemia
Por enquanto, o DNA da ONG (de promover geração de renda, acesso à educação, ecologia social, planejamento familiar e atenção à saúde) está comprometido por conta das restrições da Covid-19 – o que não quer dizer que as famílias do Gramacho deixaram de ser assistidas. “Nós temos abastecido eles com água, alimentos e o que mais conseguirmos providenciar. Estamos com eles durante a pandemia e vamos estar depois”, responde Nadia.
Entre as entregas de julho deste ano: 1,3 mil cestas básicas (com alimentos e produtos de higiene), 665 “cestas digitais” (crédito em cartão), 100 máscaras infantis e 140 mil litros de água, além da instalação e distribuição de canos para acesso à água potável, apoio escolar para 25 crianças e 40 vagas abertas no programa educacional. “Pobreza também é falta de acesso às oportunidades”, conclui a fundadora.