Um tumor cerebral mudou a vida de Bruna Heloise Gasparin. Em 2019, ela se tornou paciente em um hospital de Curitiba, foi atendida com carinho e pode voltar a viver sem dores de cabeça. Além disso, descobriu por meio dessa experiência seu propósito de vida, tornando-se técnica de enfermagem.
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Segundo ela, foram anos sofrendo com dores intensas e recebendo prescrições de todos os tipos de medicamento, até mesmo anticonvulsionantes para aliviar seu sofrimento. Mas somente quando deu entrada no Hospital Universitário Cajuru, na capital paranaense, Bruna descobriu que estava com um tumor de quatro centímetros no cérebro e que precisaria de cirurgia, às pressas. "Lembro até hoje do telefone tocando na UTI e deles chamando meu nome para o centro cirúrgico", recorda com emoção ao falar do acolhimento que recebeu desde sua chegada ao hospital.
A jovem já havia pensando em trabalhar na área de saúde, mas sempre fugiu da área por medo e insegurança. “Eu acreditava que não daria certo para mim e fui tentando ingressar em outras carreiras", relata a paranaense, que viu seus sonhos mudarem completamente após ser internada. “Depois da cirurgia e de observar o cuidado que aqueles profissionais tiveram comigo, eu soube qual caminho queria percorrer", conta a técnica de enfermagem, que decidiu, então, vestir o jaleco e também cuidar de pessoas.
Hoje, com 26 anos, ela atua na mesma instituição que removeu seu tumor e lhe devolveu qualidade de vida. “A enfermagem é a profissão da minha vida. Para mim, necessariamente, precisamos fazer as coisas com amor, não por amor", relata. "Temos que saber deixar nossos problemas de lado e abraçar a dor do outro, o que é absolutamente incrível!”, garante.
De médico intensivista para filho de paciente
E ela não é a única que já experimentou os dois lados do hospital e ressignificou sua vida depois disso. Assim como Bruna, o médico intensivista Jarbas da Silva Motta Junior também precisou vivenciar essa mudança ao deixar o trabalho de lado para se tornar familiar de um paciente. "Assim que meu pai chegou ao hospital, olhei para a equipe e disse que a partir daquele momento, eu era apenas filho", conta, ao lembrar das cenas desesperadoras que viveu em 2020.
Após descobrir o diagnóstico de Covid-19 do pai, de 69 anos, o coordenador da UTI do Hospital Marcelino Champagnat não pensou duas vezes. “Eu sabia dos fatores de risco que ele tinha, como diabetes, hipertensão, obesidade e sedentarismo, e que o quadro poderia evoluir mal, então o trouxe para Curitiba”, recorda o médico, que percorreu mais de 720 quilômetros até o município de Igrejinha, no Rio Grande do Sul, para buscar o pai e trazê-lo para ser tratado na instituição em que trabalha.
“E por questões éticas e também para evitar que as emoções atrapalhassem, eu já sabia que não lhe atenderia", conta Jarbas, que estava ciente das condutas que a equipe tomaria, principalmente se o quadro evoluísse de forma negativa. "Como, por um período, aconteceu".
Durante o atendimento, o intensivista assumiu o papel de filho e sentia na pele um pouco do que os parentes de seus pacientes viviam. “Mesmo sabendo o que estava acontecendo, eu tinha que me conter para não interferir nas condutas médicas, mas via que a equipe também sentia necessidade de justificar as condutas que tomava”, conta o paranaense, ao perceber a dificuldade nessa inversão de papeis.
Hoje, ele se sente privilegiado ao ver a transformação que passou durante essa experiência com seu pai e ao enfrentar a linha de frente no combate ao coronavírus. “Acredito que todos os profissionais de saúde deveriam, alguma vez, passar para o outro lado. Afinal, um exame que pedimos para ser coletado pode ser simples para nós, porém, para o paciente é mais uma picada e sofrimento”, destaca.
E a transformação foi tão grande que o médico segue transmitindo suas experiencias aos acadêmicos e residentes. "Sempre explico que, muitas vezes, a gente atua no automático, fazendo de tudo para salvar aquela vida, mas esquecendo da família que está aflita lá fora”, diz.
Por isso, além de cuidar de seus pacientes, ele faz questão de acolher aqueles que os acompanham e garante que os hospitais colecionam histórias de profissionais que também fazem isso. "Principalmente após estar do outro lado, porque ali a realidade é diferente", afirma, ao citar uma das mudanças na sua vida. "Eu nunca acreditei em Deus, mas agora sei que Deus é o amor que sentimos”, finaliza Jarbas.