Com as roupas sujas e os cadernos dentro de uma sacola plástica, a argentina Johana Mercado saía diariamente do abrigo improvisado embaixo da Ponte Maipú, na cidade de Córdoba, para estudar. Dali, a menina de 12 anos caminhava cerca de dez quilômetros para ir à escola e, mesmo ajudando seus pais a cuidar das irmãs, realizava todas as tarefas com excelência e permanecia entre os melhores alunos da classe. O resultado? Ingressou no curso de Direito da Universidade Nacional de Córdoba em 2018 e hoje trabalha no Poder Judiciário da cidade.
Em entrevista ao jornal Infobae na última terça-feira (9), a jovem de 24 anos relatou as dificuldades que teve durante a infância e afirmou que tudo que enfrentou apenas a deixou mais forte. “Essa vida me formou”, disse a garota, que busca o título de advogada para defender pessoas como sua mãe, vítima da miséria.
Ainda segundo o site de notícias argentino, o pai de Johana trabalhava como engraxate e ganhava apenas o suficiente para alimentar a esposa e as sete filhas. Por isso, não tinha condição financeira de alugar uma casa e precisou levar a família para viver embaixo da ponte. “Foi o pior momento da minha vida, mas não permiti que me derrotasse. Enquanto contava estrelas sob a Ponte Maipú, decidi meu futuro: crescer, estudar e nunca mais voltar à rua”, afirmou.
O espaço às margens do Rio Suquía tinha apenas uma cama, que era dividida entre os nove membros da família. “Íamos trocando e alguns dormiam no piso”, contou a garota em um vídeo publicado pela Stalkeo TV. Além disso, a família nunca passava a noite tranquila porque o rio poderia transbordar, levar seus pertences e colocá-los em perigo.
“Enquanto contava estrelas sob a Ponte Maipú, decidi meu futuro: crescer, estudar e nunca mais voltar à rua”, afirmou.
Os estudos
Mas nada fazia com que a menina faltasse às aulas e, diariamente, ela caminhava mais de 50 quarteirões para ir e voltar da Escola Grécia, no bairro São Vicente. Lá, a garota recebia o apoio dos colegas e até chegou a trocar de roupa com uma amiga para não participar do hasteamento da bandeira — na frente de todos os estudantes — vestindo peças encardidas. “Minhas calças estavam sujas porque vivíamos debaixo da ponte e ela me emprestou as dela”, relatou ao site La Voz.
Com um boletim impecável em 2006, a garota também chamou a atenção dos professores, que decidiram enviar uma carta ao jornal local para mostrar o excelente desempenho acadêmico da moradora de rua. Na reportagem, a argentina mostrou sua vontade de se tornar advogada e emocionou milhares de pessoas.
Com apenas um artigo, esse jornalista mudou a vida de 5 mil moradores de rua
Voluntários a ajudaram com doação de roupas, livros e material escolar. Além disso, o então governador da província de Córdoba, José Manuel de la Sota, também lhe deu as chaves de uma casa no bairro Villa Bustos, onde ela viveu alguns meses com a família.
No entanto, eles precisaram vender a residência, o pai de Johana foi preso, a mãe ficou ausente por bastante tempo e a garota passou a cuidar das irmãs durante a adolescência. Ainda bem que “sempre tive pessoas que me ajudaram para que não fosse tão pesado “, afirmou ao La Voz.
A jovem também começou a trabalhar no contraturno das aulas do Ensino Médio e conseguiu uma bolsa de estudos em um colégio particular que a prepararia para concorrer à vaga na universidade. Hoje ela está no segundo ano do curso de Direito, é mãe de um bebê de oito meses chamado Augusto e garante que é feliz. “O importante é continuar. Eu segui, apesar de tudo”, finalizou.
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