Fotos: divulgação/Redirect Life
Fotos: divulgação/Redirect Life| Foto:

“Se você separar 10 presos e oferecer a eles a possibilidade de estudar e mudar de vida, pelo menos oitos deles não voltam para a prisão”. Quem explica isso é o pastor Luis Carlos Magalhães, um dos organizadores do projeto Redirect Life e pastor da Capelania Prisional Batista. Ainda em fase estruturação, o projeto terá como objetivo principal ressocializar presos, para que ao sair do presídio eles possam contribuir com a sociedade por meio de um trabalho digno.

A criação do Redirect Life já é um sonho antigo do pastor que há 20 anos trabalha com o serviço religiosos em unidades prisionais do país. Em 2008, durante um evento, Magalhães conheceu Catherine Hoke, idealizadora do Defy Ventures, um programa americano de treinamento e empreendedorismo para presos. O trabalho feito por ela é referência e isso fez com que o pastor buscasse mais informações até que uma parceria fosse fechada. “Era o que eu queria fazer há muito tempo e saber que eu teria com quem aprender, facilitou muito, conta.

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O Defy Ventures promove cursos e palestras para transformar o potencial de liderança dos presos em algo útil a eles mesmos e à sociedade. Planos de negócio, empreendedorismo e orientação executiva são algumas das aulas ministradas a eles. O material, que foi preparado por empresários de Nova Iorque e Califórnia, está sendo dublado e será utilizado também no Brasil pelo projeto Redirect Life. “Foram cedidas 100 horas de vídeo-aula para utilizarmos com os presos aqui”, explica o pastor.

Além das vídeo-aulas, Magalhães espera conseguir apoio de voluntários que possam dar cursos e palestras nas mais diversas áreas de atuação para os presos. A ideia do voluntariado parte daquilo que já é desenvolvido por ele na Capelania Prisional Batista, onde cerca de 300 pessoas dispõem de seu tempo para auxiliar no serviço religioso em algumas unidades prisionais do país.

A Capelania Prisional Batista, por seu tempo de implantação, já tem uma boa estrutura. O papel do pastor Luis Carlos Magalhães, é justamente o de buscar voluntários nas igrejas Batistas espalhadas no Brasil e leva-los ao trabalho interno. Assim, cultos são realizados nas penitenciárias e há o acompanhamento espiritual dos presos. “Sou pastor da Junta de Missões Nacionais, uma seção dentro da Convenção Batista Brasileira, mas sou membro da Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba/PR. Isso faz com que minha atuação acabe sendo maior no Paraná, onde temos 200 voluntários”, diz. Entretanto, há pessoas trabalhando em vários outros estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande Norte.

 

Parceria

Uma das cidades onde a Capelania Prisional Batista já está bastante presente é Guarapuava, no Centro-Sul paranaense. Ali são realizados cultos e acompanhamento espiritual com os presos que trabalham em um parque industrial instalado dentro da Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG). A parceria foi feita com um advogado e empresário do estado, que há algum tempo sentiu a necessidade de oferecer aos presos mais do que trabalho e algumas palestras.

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São cerca de 100 homens que trabalham diariamente no espaço, a serviço da empresa Kadeshi. Eles produzem calçados de segurança e aprendem a conviver e cooperar uns com outros. O objetivo das tarefas realizadas em conjunto é o de ressocializar os presos e não somente ocupa-los durante o período da pena. “A questão é mudar o esquema de vida deles. Precisa ser um trabalho complexo e em equipe”, diz Luiz Carlos Leitão (54), gestor do projeto prisional.

Leitão explica que o trabalho em equipe coloca os presos novamente no seio da sociedade, já que entre as características das pessoas que são detidas estão o desejo de ser o centro das atenções, a arrogância e o individualismo. “ A fabricação dos sapatos necessita de 15 a 20 pessoas para fazer um par de sapato, por exemplo”, comenta.

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No meio desse processo de ressocialização, um fato mostrou que eles estavam no caminho certo, afinal. Em outubro de 2014 uma rebelião poderia ter sido o fim dessa parceria com a empresa de calçados, não fosse a atitude dos funcionários do parque industrial. “O pessoal que trabalhava naquele canteiro impediu o quanto pode, que o espaço fosse invadido”, lembra Leitão. Apesar disso, depois de algumas horas foi inevitável a depredação do espaço, mas o ato de coragem daqueles presos fez com que após os reparos feitos no galpão, que duraram quase três anos, a Kadeshi voltasse oferecendo novamente trabalho.

Com o tempo, entretanto, a equipe percebeu que alguns dos presos acabavam voltando, porque ao saírem da prisão eles retornavam para a origem. “Muitos deles caíam e voltavam. Concluímos então que algumas áreas da vida deles não seriam transformadas humanamente”. Foi então que o Luis Carlos do projeto prisional encontrou o Luis Carlos da capelania e uma nova parceria começou.

 

Trabalho modelo

Desde então a Capelania Prisional Batista tem estado presente na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG) e quinzenalmente acontecem cultos ali mesmo no parque industrial. O acordo entre Leitão, Magalhães, a empresa Kadeshi e a penitenciária é a que no dia de serviço religioso todos os funcionários parem e tenham um momento de reflexão, oração e louvor. “Na hora da música alguns deles até pedem para cantar e tocar algo. Em geral eles escolhem canções religiosas que tenham letras de superação”, comenta o pastor.

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O trabalho realizado em Guarapuava é o modelo e será um dos primeiros a receber os cursos de capacitação da Redirect. Já há dois espaços cedidos pela Kadeshi para que sejam instaladas mesas, cadeias e projetores para as aulas. Os cursos ainda não estão definidos e nem o início de fato. Mas como o Redirect Life já está registrado como uma ONG, depois de algumas burocracias resolvidas, o trabalho deve começar.

De acordo com Magalhães, um preso custa ao estado do Paraná cerca de R$ 3.500 por mês. “Se ele já tem esse custo vamos investir para ele sair e competir aqui fora devolvendo o que gastou no tempo em que esteve preso”, diz.  Por isso o pastor considera tão importante investir na ressocialização. “Vamos agora capitanear principalmente recursos humanos para que o Redirect Life caminhe, potencializar as unidades prisionais para receberem essa estrutura e seguir em frente”, conclui.

 

(A jornalista viajou para Guarapuava a convite dos responsáveis pelo projeto)

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