Bastaram três dias de conversa em um bate papo virtual voltado a pessoas com deficiência visual para que o aposentado Alex Correia de Mello, de 36 anos, e a cabeleireira Marlene da Silva Sousa Mello, de 30 anos, estivessem completamente apaixonados um pelo outro. “Parece um conto de fadas, em três dias a gente já estava dizendo que um ama o outro”, recorda Alex.
E a decisão de ficarem juntos para sempre foi tão rápida quanto a descoberta do sentimento. Em três meses, Alex viajou de São Carlos, interior de São Paulo, para Fortaleza, no Ceará, cidade onde Marlene morava, os dois se conheceram pessoalmente e se casaram no dia seguinte. “É uma história realmente engraçada, mas a gente já sabia o que queria e não tínhamos muito tempo a perder”, conta o aposentado. O que os dois não sabiam era que, poucos anos depois, teriam uma família linda que seria inspiração e exemplo de superação para tantas pessoas.
Juntos há 9 anos, Alex e Marlene hoje são pais da Ana Clara – mais conhecida como Clarinha –, de 3 anos, e do pequeno Antony Gustavo, de apenas 2 meses. Com a ajuda da mãe de Alex, o casal enfrentou junto todas as dificuldades que a deficiência visual lhes trazia naquela nova e emocionante experiência de se tornarem pais. “Minha mãe teve toda a paciência de nos ensinar a cuidar da Clarinha, a limpar, etc. Foi uma experiência linda e muito legal”, lembra o pai.
Deficiência visual
Alex nasceu com retinose pigmentar, uma má formação na retina que acarretou na deficiência visual. Já Marlene, teve neurocisticercose aos 17 anos. A doença provocou uma hidrocefalia e, ainda, uma lesão no tronco cerebral. Foram mais de dois meses internada à espera de uma cirurgia para drenar o líquido no cérebro. A cabeleireira teve convulsões e chegou a ficar sem andar por um tempo.
Apesar de os médicos afirmarem para sua mãe que a jovem ficaria em estado vegetativo depois da cirurgia, Marlene se recuperou bem e a única sequela foi a perda quase total da visão. Hoje, com apenas 5% da visão, ela busca ajuda de algum profissional que possa estudar o seu caso e dar a ela a chance de voltar a enxergar. “Meu maior sonho é poder ver o rosto da minha princesa e do meu príncipe, meus filhos”, afirma Marlene.
Devido a deficiência visual dos pais, Ana Clara e Antony Gustavo precisam fazer exames e acompanhamento com o oftalmologista a cada seis meses, mas até agora todos os exames estão ótimos. “Temos muita fé que Deus vai livrá-los disso tudo, pois só nós sabemos o quão difícil é ser deficiente visual”, afirma a mãe.
Mesmo com todas as dificuldades, o casal se supera a cada dia. Marlene, por exemplo, trabalha como cabeleireira profissional especialista em cachos e faz muito sucesso com seu trabalho. “Ela é a única cabeleireira deficiente visual do mundo. E além de tudo é uma excelente profissional”, afirma o marido orgulhoso da esposa.
Desafios e superações
Quando o casal descobriu que a Clarinha estava a caminho, Marlene quis criar uma conta no Instagram para poder compartilhar com amigos e familiares essa nova aventura que seria receber a primeira filha. Lá, os dois começaram a dividir com os seguidores seus desafios e superações diárias, que não são poucas. Em uma das publicações, Marlene confessou um de seus maiores medos ao descobrir que se tornaria mãe: conseguir cortar as unhas da bebê. “Esse sem dúvida foi um dos maiores desafios para mim, mas eu consegui”, comemora a mãe, que publicou um vídeo mostrando como corta as unhas de Clara.
“Um desafio que o Alex enfrentou esses dias foi ter que limpar e trocar a Clarinha sozinho, ele nunca tinha feito isso”, relata Marlene. “Precisei ir no médico com o Antony, a Clarinha ficou com ele e precisou fazer cocô. Ele me ligou desesperado perguntando o que tinha que fazer, falei que ele tinha que enfrentar esse medo, esse desafio e disse que sabia que ele iria conseguir. Quando cheguei, ele tinha limpado ela perfeitamente. Isso foi muito emocionante para a gente”.
Hoje, a conta da família no Instagram (@princesinhaclarinha) tem mais de 350 mil seguidores. “É um lugar onde a gente compartilha os obstáculos que enfrentamos, as lutas, as superações e até as palhaçadas dentro de casa”, conta Alex.