| Foto: Cristian Newman/Unsplash
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Avisos em elevadores, mensagens em redes sociais e um pedido: “quédate en casa” (fique em casa). Desde o início da quarentena, sexta-feira 20 de março, as pessoas na Argentina só podem sair de casa para ir ao mercado e à farmácia, salvo algumas exceções. A preocupação do governo é evitar um contágio em massa de uma doença ainda em fase de estudos.

Na Argentina são 13 mortes, e as vítimas fatais do país seguem uma tendência já registrada em outros países. Pessoas mais velhas estão mais vulneráveis ao novo coronavírus. Onze das 13 vítimas tinham mais de 60 anos. Se na Argentina a restrição do governo vale pra todo mundo, a capital Buenos Aires, encontrou uma maneira de evitar que os mais velhos precisem sair de casa, mesmo que para comprar comida ou remédios.

No site oficial da cidade foi criada uma seção chamada “Mayores Cuidados”, uma rede colaborativa para ajudar os que mais necessitam neste momento, as pessoas mais velhas, explica o texto oficial. Na página há um link para que os cidadãos que queiram ajudar se cadastrem, e o objetivo é que cada um ajude da maneira que pode. Quem tem mais tempo e disposição, pode se oferecer para fazer compras no mercado e na farmácia, quem gosta de animais pode se voluntariar para passear os cachorros, já quem não quer sair de casa, pode apenas se cadastrar para ser uma companhia à distância. A pessoa receberá o número de telefone de alguma senhora ou senhor que vive sozinho, e poderá ligar para conversar e diminuir a solidão nesses tempos de isolamento social obrigatório.

O prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, agradeceu o gesto de solidariedade de quem se inscreveu no programa. “Foi uma linda surpresa saber que mais de 10 mil pessoas se inscreveram nos dois primeiros dias do programa”. De acordo com o site oficial da cidade, até agora já são mais de 20 mil argentinos inscritos. Calcula-se que na Argentina 7,3 milhões de pessoas tenham mais de 60 anos, entre os 40 milhões de habitantes.

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Outras ações

A solidariedade argentina vai além dos cuidados com a população com mais de 60 anos. Em Villa Carlos Paz, na província de Córdoba, a prefeitura passou a alimentar os cachorros que vivem nas ruas da cidade. Com a quarentena obrigatória, as pessoas que tinham o costume de alimentá-los, passaram a ficar em casa, com isso a prefeitura tem alimentado os animais diariamente. “Alimentamos os cachorros que foram abandonados. Fazemos uma vez por dia e são 30 quilos de ração balanceada” contou um o veterinário Leonel Flamand, em entrevista ao jornal La Voz.

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Relato de um brasileiro

Na capital da província de Córdoba, mora o único brasileiro que atua no futebol argentino. É o ex-atacante do Coritiba, Guilherme Parede, que foi contratado pelo Talleres em janeiro deste ano.

Filho de mãe paraguaia, Parede se adaptou rapidamente ao futebol local, em 7 jogos marcou 4 gols e deu duas assistências. Mas agora com a paralisação do futebol e o fechamento das fronteiras, ele conta como tem vivido os dias de quarentena. “Já estamos isolados há 9 dias, não podemos sair para nada, somente supermercado e farmácia. Se a polícia vê alguém na rua que não esteja indo à esses locais, recebe uma multa, e há o risco até de ser preso”.

A Argentina foi o último país a suspender o futebol na América do Sul. E com a quarentena imposta pelo governo manter-se em forma é um desafio. Alguns países da Europa permitem que as pessoas saiam de casa para correr ou fazer exercícios ao ar livre, algo que não é permitido na quarentena argentina. “Os treinamentos já foram cancelados aqui, temos que ficar em casa, treinar em casa e está bastante complicado”.

O atacante vive em Córdoba com a esposa. Longe da família e sem poder viajar para o Brasil, os dois aguardam o fim da quarentena que esta prevista para o dia 31 de março, mas que deve ser postergada até meados de abril. “O mais triste de tudo isso é ficar aqui e não poder voltar pro Brasil. Mas se deram a ordem de ficar em casa, ficar aqui, vamos ficar aqui, temos que ficar, porque só assim vamos vencer isso juntos”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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