Chega o fim do ano e os compromissos na agenda são quase sempre os mesmos: ceia de Natal na casa dos avós, almoço na casa daquele tio mais velho, virada do ano com toda a família reunida na praia e por aí vai. Sejam quais forem os costumes de fim de ano na sua casa, é fato que essa é uma ótima época para estar com a família. Mas será que você já olhou para todos esses eventos como uma oportunidade não só para estar junto, mas de realmente aproximar o seu coração daqueles que você conhece há tanto tempo?
É muito curioso prestar atenção nos sentimentos que essa época do ano desperta na maioria de nós. Segundo o teólogo e terapeuta familiar Claudio Ebert, especificar esses sentimentos e movimentos poderia soar como prepotência ou arrogância, mas eles podem, mesmo assim, nos levar a reflexões importantes.
“É bem provável que existam inúmeros motivos e razões para que, nessas datas especiais, sentimentos dos mais variados aflorem nas mentes e corações das pessoas”, opina Ebert. “Geralmente, parentes que se encontram em datas específicas trazem junto para esse encontro alguma bagagem de vivência histórica compartilhada. E nem sempre essa bagagem foi cem por cento positiva”.
Por isso, assim como essas ocasiões de convivência podem proporcionar momentos de muita alegria e descontração, por outro lado, assuntos mal resolvidos ou então desequilíbrios em razão de um exagero alcoólico, por exemplo, podem causar situações constrangedoras, fazendo com que “os freios éticos e morais fiquem desativados”, alerta o terapeuta familiar.
“Ainda assim, nesse ambiente em que a gente se sente livre para pôr para fora todos os nossos ‘cachorros’ seria bem-vinda e palatável uma atitude de autocontrole e moderação”, orienta Ebert. “Afinal de contas, somos seres humanos, racionais e sentimentais, mas que, via de regra, podemos ser controlados mais pela razão do que pela emoção”.
Exercitar o perdão
Para o especialista, essas comemorações de fim de ano são momentos propícios para o exercício do perdão, da misericórdia e do afeto que nos une como família. “Quem sabe, para que ocorra libertação de mágoas e de sentimentos que aprisionam, seja necessário sentar frente-a-frente e elaborar uma conversa assertiva”, sugere.
“Em muitas situações, o que a gente entendeu de uma palavra proferida por outra pessoa, pode não ser exatamente o que a pessoa quis dizer. São nossos filtros pessoais que atrapalham a comunicação”, afirma Ebert. “O que cabe bem nesses momentos de celebração, é um espírito perdoador e que aceita o diferente”.
Receita infalível
Em tempos de opiniões cada vez mais divididas e extremistas, as festas de Natal e Ano Novo em família podem se tornar até uma preocupação para quem muito discutiu sobre qualquer assunto mais polêmico durante o ano. A dica para essas pessoas é esquecer as provocações e ir ao encontro de seus familiares com o espírito desarmado.
“A tolerância é sempre bem-vinda e qualquer pessoa que resolver exercitar a paciência e a bondade para com seus semelhantes, enfrentará bem menos atritos”, afirma o terapeuta. “Apresentar-se com simpatia, e acima de tudo, com empatia, demonstrando mais interesse pelos assuntos dos outros e não disputando, contrapondo com seus argumentos, é uma receita infalível para evitar discussões vãs e tolas”.
“É sempre melhor perder a discussão, do que perder a comunhão”
Ainda segundo Ebert, caso haja alguns desacertos no passado, o espírito natalino e o espírito de virada de ano podem e devem ser bem aproveitados para as reconciliações. “Pedir perdão, em muitos casos, liberta mais até do que oferecer perdão. Isso demonstra uma disposição humilde de reconhecer que somos humanos, e como tais, ‘de vez em sempre’ vamos errar. E sempre dá para consertar”.