Foto: Luiz Costa/SMCS| Foto:

Aos 80 anos, o curitibano Braz Vieira se tornou um tricoteiro de mão cheia. Sem ao menos ter pegado em uma agulha durante toda sua vida, o aposentado não só aprendeu essa arte com uma rapidez inexplicável como também conquistou todas as suas colegas do grupo de convivência da terceira idade do qual participa há dois meses. A oficina de tricô promovida pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), no bairro Cidade Industrial em Curitiba, é uma das atividades do grupo – e a preferida de Braz.

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Fazer tricô não era, nem de longe, uma habilidade que Braz dominava, mas outras como arrancar um sorriso fácil dos filhos ao fabricar pequenos brinquedos ou cativar a esposa ao chegar em casa com alguma surpresa, ele foi adquirindo durante a vida. Para o idoso, a esposa, os filhos e os netos sempre foram sua maior essência, só que, de uma hora para outra, a família toda sofreu um grande baque. No ano passado, faleceram a esposa de Braz – sua fiel companheira por 50 anos –, um dos netos e uma bisneta.

Ponto a ponto

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O curitibano chegou a ficar depressivo pois não enxergava motivos para continuar, mas sua filha Roselys Kruger, de 59 anos, encontrou uma alternativa que transformaria os dias do pai para sempre. Foi ela quem levou Braz para conhecer o grupo de convivência da terceira idade que, entre outras atividades, participa da oficina do CRAS, aonde o aposentado começou a aprender, “ponto a ponto”, a tricotear.

“Ele já começou, logo na primeira aula, a fazer algo bem complicado. Não terminou ainda, mas a cada tentativa dele de acertar eu me emocionava demais. Agora ele já está até fazendo sacolas e outras peças com desenhos de coruja, cachorro e outros animais”, conta a filha orgulhosa.

Cada peça que o aposentado faz custa R$20 e já complementa a renda extra em casa. “Ele mora sozinho e sempre foi independente. Meu pai é muito proativo e nos surpreende com tanta vontade de viver”, revela Roselys. “Ele não para. De uma hora pra outra, sempre pega a bicicleta elétrica dele e gira o bairro todo”.

“É quase uma terapia. As pessoas são muito carinhosas comigo. Estou num mar de rosas agora”

Os cabelos brancos e passos lentos são alguns dos poucos sinais da idade do aposentado. Seu sorriso marcante estava sumindo aos poucos de seu rosto desde os acontecimentos do último ano, mas a oficina devolveu sua vontade de seguir em frente. “É quase uma terapia. As pessoas são muito carinhosas comigo. Estou num mar de rosas agora”, brincou o idoso ao lembrar que é o único homem em meio as 20 alunas da oficina comandada pelo educador Mario Vieira.

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“Quero me aperfeiçoar cada vez mais”

Segundo a técnica de referência do grupo da terceira idade, Noemi Lima de Sousa, Braz frequenta assiduamente a oficina. “Ele não falta uma quinta-feira. É sempre o primeiro a chegar”, conta Noemi. “Ele decidiu experimentar e superou a depressão porque é muito proativo e disponível”.

Quando Braz não está no CRAS, ele fica na área da casa fazendo tricô e artesanato. “Ele já fazia descascador de pinhão. Mas desde que perdeu a esposa, a vida dele era só chorar. Agora tudo isso mudou”, observa a técnica.

A energia é tanta que acordar às seis horas da manhã já se tornou um hábito diário para Braz. “Quero aproveitar bem o dia e me aperfeiçoar cada vez mais”, diz o curitibano. “Ele é um orgulho para nós. Está mais alegre e com mais energia para viver. A gente viu a mudança no olhar e a própria família reconhece isso. Conviver em comunidade tem dado um ótimo resultado para ele”, conclui Noemi.

Agora tem até gente inspirada no exemplo desse tricoteiro de mão cheia. Por causa da história e do trabalho do idoso, a mãe de um jovem que tem esquizofrenia também começou a levar o filho para uma outra oficina semanal e, agora, o rapaz já vem superando em passos mais largos sua dificuldade de conviver em comunidade.

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