Antes que recebesse alta hospitalar, a dentista e atleta de alto rendimento Raquel Trevisi já se preocupava com as dificuldades que enfrentaria no processo de recuperação após a cura da Covid-19. “Isso porque a maioria dos brasileiros que consegue vencer o vírus fica com sequelas permanentes”, relata a mulher, que teve 85% dos pulmões comprometidos, enfrentou 20 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), perdeu 25 quilos e foi intubada duas vezes. “Sem contar as complicações como trombose, infecção no sangue e um quadro assustador de tetraplegia temporária”.
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Segundo ela, seu corpo não mexia do pescoço para baixo quando deixou o hospital, e foi necessário passar os primeiros dias em casa dependendo de familiares para ajudá-la a virar de um lado para o outro na cama, sentar, tomar banho, trocar de roupa e comer. “Foi muito difícil”, desabafa a paulista de 38 anos.
Diante da situação e com esperança de retomar sua rotina no trabalho e as competições de Cross Fit, a jovem passou a contar com acompanhamento diário de profissionais nas áreas de fisioterapia, enfermagem e nutrição. Assim, recuperou seu peso de maneira saudável, fortaleceu a musculatura e reaprendeu a andar. “Só que esse processo é muito complicado e quase não se fala nisso”, relata Raquel, que pensava no grande número de sobreviventes como ela que não têm assistência necessária no período pós Covid.
Por isso, ainda no início da sua recuperação, ela decidiu ajudar outros pacientes com sequelas relacionadas à doença, proporcionando atendimento com médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos e também medicamentos e exames, sem custo. “Assim, levaríamos esperança para aqueles que se viram diante da morte e que agora se enxergam diante de uma vida comprometida”, afirma a dentista, ao explicar o motivo do nome escolhido para o projeto: Com.Vida.
De acordo com ela, a iniciativa começou de forma pessoal com apenas duas famílias beneficiadas em novembro de 2020. No entanto, se tornou algo muito maior depois que entrou em um doloroso processo de luto. “Eu ainda estava em reabilitação quando meu pai contraiu o vírus”, conta, ao lembrar como o quadro de saúde dele piorou rapidamente. “Nos falamos pela manhã, pois ele estava bem, mas duas horas depois recebi a noticia de que meu pai tinha sido intubado”.
Raquel reviveu sua história durante os 45 dias em que o idoso enfrentou o leito de UTI e, logo após o falecimento dele, se comprometeu a adotar todas as famílias que procurassem seu projeto para enfrentar a recuperação ou para vivenciar o luto. “E choveram pacientes e voluntários para isso”, afirma Raquel, que atualmente contabiliza mais de 160 famílias atendidas como a da jovem Raira Pelegrine de Souza.
Com 27 anos de idade, a moradora do interior de São Paulo se recupera da Covid-19 após ser intubada, realizar uma traqueostomia e apresentar lesão renal aguda que prejudicou 90% dos seus rins. “Enfrentar tudo isso sem conseguir andar, comer sozinha ou ir ao banheiro não é nada fácil, e o projeto tem sido fundamental para minha recuperação”, garante a jovem, ao agradecer os voluntários que a atendem e convidar outros para contribuírem também. “Acho que todos deveriam ajudar”.
Como participar?
Para ser voluntário nas ações ou solicitar atendimento, basta entrar em contato com o Com.Vida por meio do Instagram da fundadora. “Lembrando que temos voluntários do Brasil inteiro atendendo de forma remota e que também ajudamos pacientes com alimentos e itens de higiene”, pontua Raquel. “O que fazemos ainda não é muito, mas, como dizia Madre Tereza de Calcutá: ‘o que faço é uma gota no oceano, mas, sem ela, o oceano será menor”.