Passar tempo de qualidade em família, brincar com os adultos, conversar e receber muito amor não é um capricho da criança, mas uma necessidade dela. Afinal, não é à toa que o bebê consegue diferenciar a voz e o cheiro dos seus pais, emparelha seu batimento cardíaco com o deles e consegue melhor foco de visão quando está a 25 centímetros da mãe. “Essa é exatamente a distância do colo, ou seja, o bebê vem pronto para amar e precisa dos vínculos afetivos desde seu nascimento”, afirma a doutora em Psicologia e professora sênior da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lídia Weber.
Segundo ela, o contato familiar repleto de estímulos positivos e demonstrações de afeto é necessário para o desenvolvimento físico e emocional dos filhos, além de ser fundamental para a construção de suas habilidades sociais, linguagem e de sua identidade. “É isso que nos diferencia das outras espécies”, garante a especialista, que cita casos de crianças selvagens como evidência disso. “Meninos e meninas encontrados morando com animais não se tornaram ‘humanos’ porque precisavam de adultos que os ensinassem e ajudassem a se desenvolver”.
No caso da ucraniana Oxana Malaya, por exemplo, o crescimento no meio de cães — após ser abandonada em um canil, em 1983 — fez com que não aprendesse a falar, caminhar ou se portar com outras pessoas. O mesmo ocorreu com a moradora do Camboja Rochom P’ngien, que se perdeu na floresta aos oito anos de idade e viveu duas décadas na selva. De acordo com o canal de notícias Fox News, a mulher foi localizada em 2007 “borbulhando, resmungando e caminhando como um animal”.
E não são apenas situações extremas como essas que mostram a importância do contato e do vínculo familiar para o desenvolvimento do ser humano. Uma pesquisa coordenada por pesquisadores da Universidade de Harvard por 20 anos analisou o cérebro de vários órfãos da Romênia e provou que o abandono, a negligência, a falta de estímulo e de socialização entre 0 e 6 anos — e mais gravemente de 0 a 3 — trazem traumas emocionais e danos neurológicos como perda cognitiva, aumento de esquizofrenia, bipolaridade e crescimento nos índices de suicídio.
“A criança que não receber afeto e estímulos nos primeiros anos apresentará menos conexões neurológicas e seu cérebro será diferente para o resto da vida”, explica Sandra Sobral.
De acordo com a especialista em acolhimento familiar e neurociência Sandra Sobral, esses resultados comprovaram que as crianças que recebem atenção, abraços e outras demonstrações de carinho durante a primeira infância formam um número maior de sinapses cerebrais e conseguem mantê-las durante a vida.
“Por outro lado, a criança que não receber esse afeto e estímulos nos primeiros anos apresentará menos conexões neurológicas e seu cérebro será diferente para o resto da vida”, explica ao Sempre Família, ao citar que o vínculo desenvolvido com a criança nesse período – chamado de sensório-motor – pode afetar o indivíduo para sempre porque forma a base de sustentação para seus próximos aprendizados.
Como formar vínculos?
Segundo a doutora Lídia Weber, o ambiente familiar precisa ser positivo para manter as crianças seguras e fazer com que tenham certeza de que são amadas. “E isso é muito mais do que dizer ‘eu te amo’ porque só sabe dizer isso quem aprendeu na sua infância”. Portanto, com ou sem essas palavras mágicas em casa, os pais precisam participar da vida dos filhos, ajudá-los e demonstrar interesse pelo que fazem. “O simples ato de prestar atenção ao que estão dizendo já é uma demonstração de amor”, exemplifica.
Além disso, elogiar a criança, brincar, dar mais atenção a ela do que a itens eletrônicos e apresentar regras e limites bem claros durante o processo educacional também são maneiras de mostrar afeto. Isso porque, segundo a professora sênior da UFPR, a educação de sucesso precisa do equilíbrio entre carinho e disciplina para transmitir valores essenciais à criança e protegê-la. “São essas regras que demarcam até onde ela pode ir sem se machucar, seja física ou emocionalmente”.
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