Donald Trump conquistou a Casa Branca e há quem saúde a sua eleição como uma vitória do cristianismo e do movimento pró-vida. O próprio Trump disse em maio que, se eleito, seria o “maior representante que os cristãos já tiveram em muito tempo”. Não é possível, contudo, fechar os olhos para as suas posições questionáveis a respeito de vários temas importantes para os cristãos.
Algumas dessas posições revelam-se contraditórias com o comportamento cristão, em especial o modo como se refere às mulheres. Outras evidenciam sua instabilidade e, em última instância, seu oportunismo. A sua própria história de afiliação partidária já atesta isso: Trump foi republicano de 1987 a 1999, do Partido da Reforma entre 1999 e 2001, democrata entre 2001 e 2009, republicano novamente de 2009 a 2011, independente entre 2011 e 2012 e finalmente republicano, pela terceira vez, desde 2012.
Sua posição sobre o aborto variou diversas vezes, em diversos aspectos da questão. Enfim, Trump merece confiança como arauto da defesa de valores ou, pelo contrário, se deixará sempre guiar pelo que for conveniente em cada momento?
Aborto
“Sou pró-vida com exceções”. Essa é a atual posição de Trump em relação ao aborto, que consta em um comunicado publicado por ele em março. Ainda assim, é evidente a sua falta de comprometimento com a questão e o aspecto meramente oportunista das jogadas que orquestrou a fim de ganhar os votos do eleitorado pró-vida.
Trump mantém que mudou de opinião sobre o aborto em algum momento da década de 2000. Ele chegou a patrocinar um evento em honra de um ex-presidente da organização a favor do aborto NARAL Pro-Choice America, em 1989. Em 1999, havia deixado claro em uma entrevista que era “pró-escolha”. Ao ser perguntado se proibiria o aborto por nascimento parcial – quando o médico mata o bebê depois que parte do corpo dele já saiu do útero da mãe – Trump disse que não.
Em fevereiro deste ano, diante das críticas ferrenhas à rede de clínicas de aborto Planned Parenthood feitas por Ted Cruz, que disputava com ele a vaga para concorrer à presidência pelo Partido Republicano, Trump saiu em defesa da rede: “Eu tenho muitas, muitas amigas que são mulheres que entendem a Planned Parenthood melhor do que eu e você jamais entenderemos. Eles fazem um trabalho muito bom. Mas não no aborto”.
Em março, ele disse que, quando o aborto é proibido por lei, as mulheres que o realizam deveriam receber algum tipo de punição. Poucas horas depois, porém, sua campanha emitiu um comunicado dizendo que é o médico ou aquele que efetua o procedimento do aborto que deve ser responsabilizado, não a mulher.
Em abril, Trump disse que as leis dos EUA a respeito do aborto devem ser mantidas como estão, mas, um comunicado, de novo, desmentiu sua própria posição horas depois – acrescentando “até que ele se torne presidente” à sua declaração.
Em setembro, enfim, o então candidato republicano se associou a várias lideranças pró-vida e assumiu diversos compromissos para o seu mandato: assinar o projeto de lei que proíbe o aborto após 20 semanas de gestação, nomear apenas juízes pró-vida para a Suprema Corte, retirar o financiamento público da Planned Parenthood e tornar permanente a Emenda Hyde, que proíbe que o aborto seja realizado com financiamento público.
Mulheres
“Seja convencido, confiante, inteligente e engraçado e você vai conseguir ter todas as mulheres que quiser”. Esse é o conselho que o novo presidente dos EUA deu em um livro de sua autoria publicado em 2008.
“Homens de grande status sempre exibiram suas proezas sem dar a mínima para o que as pessoas da tribo pensavam. Esse tipo de atitude foi e ainda está associada com o tipo de homem que as mulheres acham atraente. Pode não ser politicamente correto dizer isso, mas quem se importa. É bom senso e é verdade – e sempre vai ser”, continuou ele.
Trump foi dono dos direitos do concurso Miss Universo e admitiu que espreitava as participantes quando estavam nuas “porque é famoso”. Em uma gravação datada de 2005, ele diz ainda que “quando você é famoso, elas deixam você fazer tudo. Você pode fazer tudo. Pode agarrá-las pela b**eta”. Ele admitiu que disse isso, mas se justificou dizendo que era uma conversa privada.
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Drogas
Trump disse em 2015 que a legalização da maconha deveria ser assunto de cada estado. Em 1990, foi mais enfático: disse que a política americana de repressão às drogas era “uma piada” e que as drogas deveriam ser legalizadas “para manter o lucro longe desses czares da droga”. Ele defendeu que os impostos arrecadados com a legalização deveriam ser usados para financiar programas de educação sobre o assunto.
Pessoalmente, ele diz que nunca fuma nem bebe nada, pois ficou muito impactado com a morte do seu irmão, vítima do alcoolismo. “Nunca experimentei nenhum tipo de droga, nunca bebi um copo de álcool, nunca fumei um cigarro, nunca bebi uma xícara de café”, disse em várias ocasiões. Trump é favorável ao uso medicinal da maconha.
Liberdade religiosa
A derrota de Hillary foi louvada por quem acredita que sua eleição seria um risco à liberdade religiosa, mas as generalizações de Trump a respeito do Islã não ficam longe disso. Elas se tornaram um refrão – e promessa – de campanha.
Em março, ele disse que muçulmanos odeiam os EUA e propôs banir a entrada de praticantes da religião no país e criar um banco de dados nacional com todas as pessoas que se declararem muçulmanas. “As leis de imigração dos EUA dão ao presidente poderes para suspender a entrada no país de qualquer tipo de pessoa”, disse ele. Em junho, após o massacre em uma boate gay em Orlando, Trump declarou “ter razão”.
Trump defendeu ainda que poderia não haver outra escolha para os EUA a não ser “fechar algumas mesquitas”. No ano passado, porém, falando sobre a perseguição ideológica ao cristianismo, disse: “As mesmas pessoas que exigem respeito por suas crenças com frequência não respeitam as crenças dos outros”.
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