Para promover o bem-estar, uma importante iniciativa das empresas deve ser permitir aos funcionários uma melhor conciliação entre família e vida profissional.| Foto: Bigstock
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Como cultura, passamos a valorizar a produtividade, tornando o trabalho remunerado não apenas uma necessidade, mas a preocupação central de nossas vidas. No entanto, essa atitude em relação ao trabalho está nos prejudicando mais do que ajudando. Pesquisas já mostraram que o vício no trabalho é um problema crescente e, de acordo com as descobertas de um estudo recente, esse vício está relacionado a uma saúde mental mais fraca.

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A dependência do trabalho é uma condição clínica caracterizada por um interesse obsessivo e compulsivo pelo trabalho. As pessoas geralmente trabalham mais do que precisam, seja por estímulo do próprio local de trabalho ou por necessidade financeira. E elas são levadas a trabalhar excessivamente, apesar dos impactos nocivos que esse comportamento causa em sua saúde e bem-estar. Indivíduos com risco de desenvolver uma dependência do trabalho geralmente apresentam baixa autoestima, têm dúvidas sobre seu desempenho no trabalho ou apresentam traços de personalidade obsessivo-compulsivos.

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Recentemente, mais um estudo buscou encontrar respostas para essa situação. Realizada com trabalhadores na França, a pesquisa investigou por que o vício no trabalho acontece. Os pesquisadores analisaram um total de 187 trabalhadores de uma variedade de ocupações e demografias diferentes, que responderam a quatro questionários diferentes. 

O que se descobriu, é que altas demandas de trabalho e funções de alta pressão (como uma gerência, por exemplo) são os fatores mais significativos e que contribuíam para o risco de dependência do trabalho. E se essas questões são acompanhadas por jornadas maiores do que o necessário e uma abordagem obsessiva sobre realizações, o risco de aumentar esse vício no trabalho aumentava consideravelmente.

Outro ponto de destaque do estudo: mulheres mostraram ser mais predispostas a desenvolver dependência do trabalho do que os homens, embora não esteja totalmente claro o motivo para isso, mas outro estudo apresentou resultados semelhantes; ainda, trabalhadores com depressão tinham duas vezes mais chances de desenvolver dependência do trabalho em comparação com aqueles sem problemas de saúde mental. Má qualidade do sono, altos níveis de estresse e baixos níveis de bem-estar geral também foram identificados como fatores de alto risco.

Embora o tamanho da amostra deste estudo fosse pequeno, pesquisas anteriores já mostraram que o vício no trabalho está associado a depressão, estresse, distúrbios do sono e baixa saúde mentalBurnout e exaustão também foram relatados.

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Saúde mental

O vício no trabalho é mais comum em países industrializados, onde o desempenho no trabalho é uma medida de sucesso. E isso faz com que a carga de trabalho seja intensificada para promover o crescimento econômico.

Dados os malefícios do vício no trabalho, mudanças radicais nos locais de trabalho e na sociedade serão necessárias. Como já argumentei, isso exigiria que a sociedade parasse de ver o trabalho como uma ferramenta fundamental de desempenho e crescimento e, em vez disso, desse mais valor e importância à saúde e ao bem-estar do trabalhador, tanto individual quanto coletivamente.

O apoio e a mudança podem realmente acontecer no próprio local de trabalho. Por isso é importante que os empregadores reconheçam e atendam às demandas do trabalho de maneira positiva. Por exemplo: um estudo descobriu que aumentar a segurança no emprego e as oportunidades de desenvolvimento reduziu o risco de dependência do trabalho.

Outros estudos sugeriram que as intervenções de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal podem reduzir o risco de dependência do trabalho. Se as empresas reduzirem ativamente as horas de trabalho para dar aos funcionários a chance de passar mais tempo com sua família, isso pode realmente resultar em um melhor desempenho no trabalho. E, menos horas de trabalho também podem reduzir o conflito familiar para os trabalhadores, já que os funcionários são capazes de se envolver no tempo para a família de forma mais significativa. Promover esse equilíbrio também demonstrou aumentar a saúde física e psicológica, e a resiliência pessoal dos trabalhadores. 

Tudo isso sugere que os locais de trabalho devem desenvolver iniciativas de conciliação entre trabalho e família, oferecer oportunidades de desenvolvimento de carreira e aumentar a segurança no emprego, para prevenir a ocorrência de vício no trabalho. Essas mudanças também podem diminuir o estresse e o absenteísmo, melhorando o desempenho.

Mas nem todos os locais de trabalho possuem esse tipo de estratégia e elas podem ser difíceis de implementar devido ao foco de nossa cultura no desempenho e no crescimento econômico. Então, se você está preocupado se tem ou está desenvolvendo um vício no trabalho, resolva o problema agora, se possível.

Procure apoio conversando com superiores e colegas, se puder, peça feedback de desempenho. Se você não tem apoio em seu local de trabalho, procure um terapeuta, tente conversar com amigos e familiares e peça a ajuda deles para reorientar seu tempo (peça a eles que lembrem você de fazer pausas no trabalho). Se você conseguir equilibrar o trabalho com outras atividades, como estar com sua família e amigos, fazer exercícios ou desfrutar de hobbies, sua saúde mental e irá melhorar.

*Teena J. Clouston é professora de Terapia Ocupacional, Equilíbrio de Vida e Bem-estar, na Universidade de Cardiff.

©2021 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.