As empresas familiares representam uma fatia importante dos empregadores no país e, também, uma parcela considerável na economia. São muitos os desafios de quem decide empreender e mesmo quando os negócios vão bem há uma série de preocupações com relação à saúde financeira da empresa e do quanto interfere nas relações dentro de casa.
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Era para ser uma transição simples, do pai, fundador, ao filho, que cresceu dentro da empresa da família. Só que deu tudo tão errado que Lucas Soares ficou quase dois anos sem conversar com o pai. “Por mais que eu estivesse preparado, com um bom currículo e uma visão parecida com a dele, os pontos em que divergíamos causaram um grande desgaste”, revela.
Só depois de passar um tempo fora da empresa e sem frequentar alguns almoços em família é que Lucas e o pai se entenderam e o administrador retornou ao trabalho. Hoje ele garante que os encontros são muito produtivos porque cada um entendeu o papel que precisa exercer no negócio e que os assuntos da empresa não são discutidos em casa.
Situações assim são muito comuns quando o controle da empresa é feito pela família. Fabio Vizeu, doutor em administração e professor da Universidade Positivo, explica que a principal característica de uma empresa familiar é ser longeva. Só que resistir ao tempo implica, justamente, planejar a sucessão. “As pesquisas revelam que o problema não é ser controlada pelo dono que também exerce o cargo de direção. O problema é passar o bastão”, diz.
Profissionalizar é a solução apontada pela advogada especialista em direito empresarial, Karin Bório. Segundo ela é possível manter a gestão familiar e agregar pessoas de fora, pensando a médio e longo prazo. “É como se fosse um segundo passo. Embora se mantenha a gestão familiar, chama um administrador que não é da família”, ressalta.
Há, ainda, outra possibilidade, quando a empresa passa a ser financeiramente interessante para investidores. É cada vez mais comum empresas de pequeno e médio porte se renderem à negociação de ações na bolsa de valores. E mesmo assim, é possível manter a característica familiar, como destaca Fabio. “Mesmo em Sociedades Anônimas você encontra muitas empresas cujo controle se dá por uma família e que tem características de gestão muito próprias de empresa familiar. Tem muitos bancos no Brasil que são assim”, exemplifica ele.
O professor revela que nem sempre os fundadores imaginam que a empresa vá crescer tanto e, por isso, é preciso fazer mudanças ao longo do tempo. Principalmente na documentação. E esse também é um alerta da advogada. À medida que a empresa cresça e necessite dessas alterações, que se deem de forma regular desde o início. “A informalidade ainda é muito grande, mas tendo alterações societárias, tem que ter a preocupação de regulamentar na junta comercial e contabilmente”, defende Karin.
Os dois especialistas concordam, por fim, que estipular os papéis de cada membro da família com clareza e implementar medidas de governança corporativa facilitam o dia a dia no trabalho e até no convívio em casa. Fabio ainda orienta a fazer uma reflexão sobre o real significado da empresa para a família conclui: “Às vezes é melhor preservar os laços familiares e contratar um profissional do que de fato forçar o membro da família a ser infeliz”.