Para muitas pessoas, escolher que profissão seguir é uma dificuldade. Para outras, é algo que vem naturalmente. O trabalho dos pais pode ter uma influência positiva ou negativa nessa busca a depender das expectativas e experiências de cada um, mas a opção de seguir os passos de alguém da família pode vir acompanhada de vantagens, mas também de muitos desafios.
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Para a depiladora Karen Goulart Ramos não foi de imediato que veio a descoberta sobre o que fazer da vida. Formada em administração de empresas, ela trabalhava na área financeira, mas se viu sem emprego e grávida. Foi quando a mãe sugeriu que ela começasse a aprender a depilar. Schirlei de Fátima Goulart já estava no ramo há cerca de 20 anos e sabia que a filha poderia ganhar muito melhor sendo autônoma.
Só que nada foi fácil. A mãe sabia que a Karen teria um longo caminho pela frente. Para a sorte dela, a Schirlei já tinha dado aulas de depilação e então ensinar não era o problema. “Eu fiz o curso com a minha mãe. Comecei depilando as colegas, minha irmã e fui trabalhando devagar, aos poucos. Comecei no salão de uma amiga e quando meu filho nasceu, deixava o bebê com a minha sogra”, relembra Karen.
Depois de alguns anos as duas foram trabalhar juntas, no salão Expert, em um shopping de Curitiba. Dividir o espaço foi tão natural quanto dividir a casa. “Foi muito legal porque eu dei muitas dicas pra ela. Só que era o meu jeito e ela precisava ter o jeitinho dela”, ressalta Schirlei, que acredita ser fundamental que cada uma respeite a outra como profissional dentro do salão. “Aqui dentro não tem família. Somos colegas”, completa.
Claro que, de vez em quando, uma acaba atendendo as clientes da outra, mas aí é só orgulho. “Ela me respeita como profissional e escuta minhas dicas. Dentro do salão tem o meu trabalho e o trabalho dela, mas é muito gratificante quando alguma cliente minha passa por ela e elogia o trabalho que ela faz”, conta a mãe.
Instinto protetor
Passar os ensinamentos a uma geração mais jovem é realmente um desafio, seja quando pais e filhos seguem a mesma profissão, seja quando o filho assume a empresa da família, por exemplo. Allan Inácio, professor e coordenador do curso de Administração da PUCPR, destaca o aspecto até psicológico por trás disso. “O pai se preocupa que o filho tenha uma profissão e uma boa carreira e o instinto protetor faz com que pense que o caminho mais seguro para o filho é o que ele conhece e viveu”, diz.
Por isso é tão comum que algumas famílias pressionem os filhos a seguirem os passos de alguém próximo, o que nem sempre é uma boa ideia porque pode gerar atrito e frustração. Só que se todos se entendem e têm uma meta em comum, a parceria pode dar certo. Foi bem o caso de Beatriz e Thábata Gulin Guarinello, mãe e filha que assumiram a empresa fundada pelo pai de Beatriz.
Sucessão familiar
O Grupo Noster surgiu na década de 1940 e, durante toda a vida, Beatriz trabalhou na empresa. Aos 17 anos, Thábata seguiu os passos da mãe que, recentemente, se aposentou. As duas moram juntas e por algum tempo conviveram na empresa e em casa. “Chegar em casa e não falar de negócios era um desafio, mas a gente se policiava”, conta Beatriz. Thábata revela que a convivência foi positiva. “Já compartilhávamos bastante coisa, mas deu uma aproximada porque os problemas que eu vivo hoje ela já viveu então ela me entende”, afirma.
Essa troca de experiências entre pais e filhos é o mais enriquecedor da relação, segundo Allan. “Muita coisa evolui ao longo do tempo, mas muita coisa clássica é muito produtiva e traz aprendizado. A troca é o melhor caminho. O problema é estabelecer o limite de não invadir o espaço do outro”, orienta.
Instituir princípios de Governança Corporativa, no caso das empresas familiares, é uma saída para quem não quer arriscar que os laços sanguíneos interfiram nos negócios, na opinião do professor. Por esse motivo, Thábata teve experiências profissionais fora da empresa antes de assumir o cargo que ocupa hoje. Segundo ela, tudo ficou mais organizado e até profissionalizou os processos.
Beatriz afirma que trabalhar ao lado dos familiares não tira a graça das festas de família e Thábata garante que tem muito orgulho de falar que seguiu os passos da mãe. “Se não fosse a influencia da minha família não seria tão gostoso trabalhar ali dentro. Eu via desde criança minha mãe falando o quanto meu avô batalhou. Então tem uma responsabilidade e um carinho”, conclui.