Cresce nos Estados Unidos o número de empresas que investe em cursos de mindfulness (atenção plena, em tradução aproximada) para seus funcionários. Trata-se de uma forma de ajudar os empregados a encontrarem sentido naquilo que fazem. Embora a iniciativa possa contribuir de fato com a saúde emocional dos colaboradores, críticos têm apontado contradições nessa nova onda corporativa. No mês passado, o site da revista norte-americana The New Republic publicou uma análise sobre o tema. O texto mostra que ninguém encontra um sentido real para aquilo que faz se as horas de trabalho o impedem de ter uma vida fora do escritório.
No artigo, Joe Keohane cita o aumento de publicações voltadas ao mundo corporativo a respeito de mindfulness. Algumas defendendo os benefícios da meditação para a rotina de trabalho, outras apostando nas artes, como poesia, pintura e música. Em pelo menos duas dessas publicações (Mindfulness Work e The Business Romantic) se ensina a busca do “eu interior” e a valorizar virtudes como humildade e compaixão na vida profissional. A gigante da internet, Google, é uma das companhias que adotou a linha.
Para Keohane, no entanto, a preocupação em manter os funcionários motivados e felizes pode até ser autêntica, mas às empresas interessa, sobretudo, que esse bem-estar tenha consequências positivas na produtividade e nos resultados comerciais que a companhia busca alcançar.
Algumas estatísticas comparadas sobre jornada de trabalho ilustram a contradição que Keohane quer expor. Os norte-americanos trabalham em média 299 horas por ano a mais do que os franceses, e 400 horas a mais do que os alemães. Partindo de uma lista de 23 países, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) considera os Estados Unidos o pior país do mundo para se conciliar a vida profissional e a família.
Com isso, o autor afirma que, para a maioria das pessoas, o maior problema não é a falta de sentido que o trabalho possa ter, mas sim o fato de que “o trabalho monopolizou de tal forma nossas vidas que temos cada vez menos oportunidades de encontrar um sentido naquilo que fazemos fora do escritório”.
Contudo, é evidente que as empresas não são as únicas responsáveis por essa distorção. A cultura atual, tão incorrigivelmente voltada ao trabalho, diz Keohane, não está interessada em remediar o vazio existencial, mas sim em promovê-lo ativamente para preencher esse vazio com mais trabalho, como se isso fosse vida. “Talvez não seja sentido o que queiramos, mas sim descanso, e apenas nos faltem palavras para dar voz à temida heresia: trabalhamos demais”.
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