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Laura Jones*, The Conversation
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Um relatório sobre a diferença salarial no Reino Unido, divulgado em 2018, destacou que ainda há discrepância no pagamento feito pelo trabalho de homens e mulheres. Embora não seja uma métrica perfeita, o exercício de coleta desta vez focou na questão de uma maneira diferente.

O documento sugere que os empresários, para resolverem esse problema, passem a olhar para além dos dados e pensem: o que realmente faria diferença para reduzir essa disparidade salarial? A questão é ir além do típico “registro de emprego feminino” e perguntar que tipos de trabalho as mulheres estão fazendo. Pesquisas mostram que geralmente é um trabalho de meio período, mal pago e com baixo potencial de progressão, por exemplo.

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5 países que facilitam a conciliação entre trabalho e família

Além disso, segue o padrão de que o tipo de trabalho que uma mulher desempenha, e, portanto, a sua carreira, são extremamente afetados pela possibilidade da maternidade – 38% de mães trabalham meio período (comparado com 33% que trabalham período integral), comparando com apenas 7% de pais  na mesma situação.

O problema não é necessariamente com o trabalho de meio período – embora gostaríamos de saber o motivo pelo qual poucos pais passam a trabalhar durante meio período após o nascimento do primeiro filho. O problema está em como as empresas tratam os funcionários de meio período. Uma pesquisa surpreendente publicada pelo Instituto de Estudos Fiscais do Reino Unido, também em 2018, descobriu que, em média, trabalhadores de meio período recebem aumentos insignificantes em seus salários ano a ano – e sua desvantagem está longe do que poderíamos esperar se eles recebessem aumentos proporcionais aos funcionários de período integral.

Em 2012, outra pesquisa revelou que praticamente ¼ de trabalhadores de meio período afirmou não haverem chances de promoção. Essa porcentagem era ainda maior entre aqueles em empregos menos qualificados. Não há evidências de que, mesmo sendo assistentes de venda, enfermeiros ou professores, funcionários de meio período são considerados menos comprometidos e de que oportunidades para a ascensão de cargo sejam limitadas a funcionários integrais. Isso, no entanto, aprisiona trabalhadores de meio período – que são na sua maioria mulheres – em empregos menos remunerados.

Como é um trabalho de período integral?

Para diminuir essa diferença salarial é preciso considerar como os funcionários de meio período são tratados. Para começar, precisamos melhorar a qualidade desses empregos – incluindo as oportunidades e o suporte disponíveis para progressão e promoção. Mas, fundamentalmente, precisamos questionar o motivo pelo qual, para tantas famílias, a resposta para equilibrar trabalho e vida familiar envolva que a mãe precise retroceder a um emprego de meio período.

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Nossas convicções: o valor da família

Existem algumas respostas batidas para essa pergunta. A maior delas é que o custo de uma creche é alto demais, fazendo com que um dos genitores (normalmente as mulheres) comece a trabalhar meio período ou até deixe seu posto de trabalho por completo. Mas a outra diz respeito às expectativas em torno de como é um trabalho em tempo integral e as demandas que são exigidas pelas empresas, de seus funcionários.

Funcionários integrais no Reino Unido têm o período de trabalho mais longo da Europa – 42.3, comparado com apenas 37.8 na Dinamarca. No Reino Unido também está uma das maiores médias de mães empregadas em meio período.

Curiosamente, pesquisas indicam que as horas de trabalho entre homens e mulheres estão ligadas. Enquanto o total de horas trabalhadas por uma família varia na Europa, há um claro padrão mostrando que homens trabalham mais do que mulheres. Em alguns países, incluindo o Reino Unido e a Áustria, pais trabalham durante longas horas e mães têm altos níveis de empregos de meio período. Na Suécia, em contraste, pais trabalham menos horas – o que significa que a divisão de horas de trabalho entre casais é mais justa, embora ainda assim as mães estejam mais propensas a trabalhar meio período.

Uma pesquisa dos Estados Unidos também sugere que a cultura de um período de trabalho extenso reforça a desigualdade entre gêneros. Quando homens trabalham o tempo todo, há um aumento significativo no fato de que mulheres precisam abandonar o mercado. Considerando isso, precisamos ter cuidado com a tendência de um local de trabalho que demande mais horas.

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Enquanto otimistas repetem a previsão de John Maynard Keynes, a de um futuro com semanas de trabalho mais curtas possibilitado pela tecnologia, outros argumentam que a globalização, high-performance e a tecnologia levaram a uma carga extrema de trabalho. O que pesquisas deixam claro é que expectativas sobre períodos de trabalho não são neutras para gêneros. Elas se baseiam nas velhas e perpétuas formas de desigualdade.

Então para realmente progredirmos na diminuição dessa diferença salarial precisamos focar não apenas no padrão de trabalho feminino, mas também no número de horas trabalhadas por homens. Garantir que os funcionários de tempo integral não sejam obrigados a trabalhar longas horas é essencial e irá, de alguma forma, reduzir o estigma associado ao trabalho de meio período. E, à longo prazo, a semana de trabalho de quatro dias para todos pode ser o grande nivelador.

*Pesquisadora Associada no Instituto Global de Liderança Feminina, Kings College London

Tradução de André Luiz Costa.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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