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A disparidade salarial entre os sexos na Austrália está diminuindo, segundo um novo relatório, mas alguns fatores que contribuem para a desigualdade parecem mais difíceis de superar do que outros. Para mim, as descobertas do estudo falam muito sobre o que vivi lá em casa.

O relatório diz que a diferença salarial caiu de 3,05 dólares australianos por hora em 2014 para 2,43 em 2017. As mulheres agora ganham 31,14 dólares australianos por hora em comparação com 33,57 no caso dos homens. O relatório divide a economia em alguns fatores muito específicos. No geral, dois terços do declínio são creditados à diminuição da segregação industrial e ocupacional.

Já a “discriminação de gênero” (que o relatório define como a parcela da diferença salarial que outros fatores não explicam) e o impacto de interrupções na carreira são obstáculos mais difíceis de superar. Para as mulheres, o tempo fora do mercado de trabalho geralmente é dedicado ao cuidado de crianças pequenas ou outros membros da família, afirma o relatório, que categoriza essas interrupções como sendo “de gênero e altamente persistentes”.

Como acadêmica, arquiteta e presidente de um comitê nacional para a equidade de gênero, tenho participado de discussões e pesquisas sobre o que retém as mulheres em suas carreiras. Os dados mostram que muitas mulheres deixam as suas profissões por volta dos 30 anos e nunca mais retornam. Isso não é incomum.

Fala-se muito sobre o que pode ser feito por meio de políticas governamentais e corporativas para devolver a essas mulheres seu lugar no mercado e combater a disparidade salarial. Tudo isso é muito bom, mas também tenho pensado em como podemos solucionar o problema de forma mais integral.

Tenho refletido sobre a súbita divisão de gênero que aconteceu quando dei à luz meu primeiro filho. Meu marido e eu tínhamos feito faculdade juntos e trabalhado juntos. Nós dois nos consideramos feministas ardentes. Mesmo assim, quando começamos a nossa família, assumimos quase instantaneamente nossos papéis de gênero: eu desisti do trabalho em tempo integral e ele permaneceu no trabalho em tempo integral.

Na época, pareceu a coisa mais eficiente a se fazer. Ambos vimos isso como apenas uma fase. Mas tem sido mais difícil sair dessa fase do que pensávamos. Enxergo quatro armadilhas em que caímos muito facilmente, tanto em casa quanto no trabalho, que reforçam a disparidade salarial entre homens e mulheres.

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1. Ser a rainha do lar

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A amamentação consolida o vínculo entre mulheres e crianças e garante a nossa proximidade. Porém, quando não realizamos esse milagre da nutrição, geralmente procuramos outras maneiras de ser a mãe e a dona de casa perfeita. Voltamos nossa atenção, energia e inteligência à conquista completa do cenário doméstico. Cozinhar, limpar, lavar e passar se tornam, devagar, mas firmemente, nossa responsabilidade como a pessoa que mais está ligada à casa.

Uma vez definido, o padrão é difícil de mudar. Estudos em países com licença parental remunerada, como a Suécia, mostram que, quando o trabalho doméstico e o cuidado infantil são divididos de maneira mais uniforme no início da vida de uma criança, é provável que essa divisão seja mantida de maneira mais equitativa a longo prazo – e isso está associado a uma maior participação da mulher na renda da casa.

2. Pôr na ponta do lápis o preço da creche

O retorno ao trabalho geralmente é precedido pela ponderação dos custos e benefícios relativos a ficar mais tempo longe do bebê e ao desejo de um trabalho remunerado significativo. A maioria de nós também levará em consideração os custos de uma creche.

Mas comparar o custo da creche com a quantidade de dinheiro que a mulher ganhará é um dos maiores erros que nós e nossos parceiros podemos cometer. Isso não é algo que deva ser considerado apenas como um custo imediato. É um investimento de longo prazo para garantir que ambos os pais tenham a chance de progredir em suas carreiras.

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3. Desvalorizar o trabalho de meio-período

Conheço muitas mulheres que voltaram a trabalhar em tempo parcial ou iniciaram seu próprio negócio porque queriam ter flexibilidade para conciliar o trabalho e o cuidado dos filhos. Enquanto isso, seu marido mantém o papel como principal provedor financeiro, trabalhando em tempo integral.

O perigo para as mulheres é que somos nós que abandonamos tudo. Nosso trabalho é, assim, desproporcionalmente afetado e desvalorizado.

4. Deixar-se permanecer em um sexismo reverso

A última armadilha é pensar que apenas as mães precisam de apoio para conciliar trabalho e família. Os pais também precisam disso – apenas de maneiras diferentes.

Já existem organizações que ajudam a garantir que haja um apoio fantástico para que as mulheres tirem licença-maternidade, retornem ao trabalho quando estiverem prontas e tenham acordos de trabalho flexíveis.

Mas precisamos também de mais apoio para que os homens se libertem das exigências de empregos em período integral – muitas vezes trabalhando horas extras e sacrificando o tempo com a família pelo bem da família.

Nossos filhos não precisam apenas de mães. Eles precisam de pais. Enquanto a licença-paternidade e a flexibilidade no local de trabalho não estiverem amplamente disponíveis – e não só, mas sejam realmente adotadas por homens e mulheres –, a diferença salarial entre os sexos persistirá.

Ao evitar essas armadilhas, podemos ajudar a desmantelar alguns fatores que teimosamente contribuem para a disparidade salarial entre os sexos. Mudar essas dinâmicas é algo que não está totalmente nas mãos dos indivíduos, ou das famílias, ou das empresas ou dos governos. Para o bem comum, é um projeto em que todos devemos trabalhar.

*Pesquisadora da Monash University, em Melbourne, na Austrália.

©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.