Qualquer mãe ou pai já passou por situações estressantes e até constrangedoras devido ao mau comportamento dos filhos. Muitas vezes, o adulto recorre a punições físicas por não saber utilizar outros métodos mais eficientes de educação. Educar uma criança é trabalhoso e envolve mais do que paciência – é essencial entender as fases do desenvolvimento infantil e ter autoconhecimento.
O que acontece no cérebro do seu filho quando você grita com ele
Segundo a assessora de famílias Mariana Zanotto, quanto maior a dificuldade do adulto em identificar e gerenciar seus próprios sentimentos, maiores são as chances de ele reagir de maneira desproporcional ao comportamento infantil desejado ou indesejado. Esta incapacidade resulta em duas posturas: agressividade ou indiferença. “O cuidador que agride normalmente enfrenta o desafio de reconhecer e trabalhar suas próprias limitações”, ressalta.
A falta de conhecimento sobre o desenvolvimento infantil também leva a agressividade. As expectativas impostas sobre a criança podem ser irrealistas em relação ao que ela de fato consegue fazer, o que gera hostilidade e insatisfação por parte dos adultos. Mariana lembra que as birras acontecem por inúmeras razões, como inabilidade de a criança compreender que suas vontades foram entendidas, impulsividade causada por partes do cérebro que se encontram mais desenvolvidas naquele momento, necessidade de controlar como e quando as coisas acontecem e dificuldade em dar sentido as emoções e sentimentos.
Punições físicas pioram ainda mais o comportamento infantil
Fernanda Lee, orientadora educacional e lead trainer em disciplina positiva, observa que as punições físicas não trazem resultados em longo prazo, pois o mau comportamento é encerrado por medo e não como resultado de um aprendizado.
Com base em princípios da neurociência e da própria disciplina positiva, a especialista explica que ao ser punida desta forma, a criança desenvolve o que é chamado de 4 Rs:
– Recuo: a criança pensa que é má e não vai querer tentar da próxima vez;
– Retaliação: tenta fazer escondido para não ser pega novamente;
– Rebeldia: busca “vingança”. Tentará fazer ainda pior da próxima vez para sentir que está ganhando;
– Ressentimento: pensa que não é justo e fica ressentida com o cuidador.
Mariana destaca também que a agressão ainda provoca diversos malefícios para o desenvolvimento físico e emocional do indivíduo, como problemas cognitivos, comportamentos agressivos, crises de ansiedade e baixa autoestima.
Disciplinar sem violência é um aprendizado constante
Fernanda salienta que os princípios da disciplina positiva são baseados em respeito mútuo e dignidade para educar de maneira firme e gentil, sem oscilar entre o autoritarismo e a permissividade. Os pais devem guiar seus filhos e ensinar habilidades de vida como paciência, respeito, autonomia e empatia, seja na infância ou na adolescência.
“É preciso aproveitar cada oportunidade, que são os desafios de comportamento, e analisar quais características tenho que ensinar para meu filho naquela situação para que ele aprenda e use durante a vida”, diz. “É resolver a questão no momento e ensinar para o futuro”, sugere.
Crianças que crescem em um ambiente familiar afetivo são mais bem-sucedidas no futuro
A ferramenta certa depende da circunstância, do ambiente e do que será ensinado com aquela situação. O primeiro passo é o adulto se acalmar, respirar fundo, dar uma pausa e voltar ao seu ponto de equilíbrio. Depois é preciso ajudar a criança a voltar ao seu equilíbrio, respirar junto com ela e levá-la para um ambiente reservado, para que haja uma conexão com o cuidador.
Só então é hora de falar do que aconteceu, perguntar para a criança o que ela queria, e como queria que tivesse acontecido, e esperar ela responder. “Assim podemos validar o seu sentimento, contar como uma história o que aconteceu, mostrar que ela também tem uma parcela de responsabilidade e buscar uma solução em conjunto”, ensina Fernanda.
Para auxiliar a criança a desenvolver habilidades e gerenciar suas vontades, emoções e impulsos, Mariana sugere também:
– Sirva de exemplo e não espere da criança o que você não faz.
– Não tome decisões durante um conflito.
– Veja as coisas pelos olhos da criança e meça a proporção de suas reações em relação ao comportamento dela.
– Admita seus erros e peça desculpas quando estiver errado.
– Mostre como você gerencia seus impulsos agressivos de maneira saudável.
– Fale sobre suas emoções de maneira aberta e cultive uma comunicação sem julgamentos.
– Busque suporte de um profissional e entenda que não adianta enviar a criança para terapia antes de você fazer o mesmo por você.
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