É natural do organismo humano salivar ao ver um prato bonito sendo preparado – seja em um programa de culinária ou na sua própria cozinha. Errado é continuar comendo mesmo quando a fome passou faz tempo.
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"Comer errado é ir além da saciedade ou usar crenças como o senso de oportunidade. Algo como: 'eu não posso perder a chance de comer esse prato gostoso'. Essa é uma visão bem problemática da coisa", explica Priscilla Leitner, psicóloga especialista em Comportamento e Transtornos Alimentares e diretora técnica do Instituto de Pesquisa do Comportamento Alimentar de Curitiba.
Em geral, o ato de cozinhar, segundo a especialista, é potencializador de um bom comportamento alimentar. "Quando a pessoa prepara a própria comida, inclusive de forma intuitiva, conectada ao corpo, ela prepara em equilíbrio, e isso faz com que você coma sem exageros", explica.
Apetite hedônico leva em conta apenas o prazer
Isso não significa que uma pessoa jamais comerá sem sentir fome. Como lembra Cintia Cercado, médica endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), existe o comer por prazer, ou o apetite hedônico.
"Não comemos só porque temos fome. Veja o caso de alguém em uma churrascaria: ele come demais e acha que nunca mais vai ter fome, mas aparece a sobremesa e, de repente, vê que o estômago é capaz de aguentar mais, mesmo sem fome", diz.
Esse espaço "extra" se abre com mais frequência diante de alimentos mais palatáveis, ricos em açúcar e gordura. "Eles ativam a região de recompensa do cérebro, que aumenta a motivação para comer, mesmo sem a necessidade metabólica de energia", explica.
Perceba a sua fome
Para evitar esse tipo de situação, a psicóloga sugere uma retomada da percepção de fome. "Todo mundo ciente dessa desconexão com a fome pode buscar melhorar. Pode se perguntar, antes de começar a comer, 'eu estou com fome?' e, durante, 'será que estou saciada?'", explica Priscilla.
Outros sinais que podem indicar uma desconexão com a percepção da fome são:
- Não conseguir parar de comer, especialmente quando estiver comendo algo muito palatável, rico em açúcar e gordura;
- Ter uma alimentação muito bagunçada;
- Confundir fome com sede.
"O 'se alimentar' é algo muito primitivo nosso, mas vamos complicando ao longo da vida. Vamos criando crenças que nos afastam dessa conexão com o corpo, do que é saudável e do que não é, e até de quantidade. Há quem ainda acredite que o certo, sempre, é comer pouco, quando cada corpo exige uma quantidade diferente", reforça a psicóloga.