Mais estudos ainda devem ser feitos para se entender o real papel da vitamina D contra a Covid-19| Foto: Anna Shvets / Pexels
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Ainda não é possível afirmar, com total certeza, que a vitamina D age contra a mortalidade da Covid-19 ou que diminui o risco de contaminação pelo Sars-CoV-2. Apesar de dezenas de estudos que avaliam a relação entre a doença e a vitamina – a plataforma ClinicalTrials.gov, que reúne os ensaios clínicos de todo o mundo, destaca 76 pesquisas –, por enquanto não há dados suficientes que respondam a esses questionamentos.

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A maioria das pesquisas, até o momento, aponta para o fato de que muitos pacientes com Covid-19 também apresentam deficiência ou níveis mais baixos da vitamina D. É o que os especialistas chamam de "associação", o que nem sempre indica uma "causalidade".

Não se sabe se os níveis de vitamina D mais baixos predispõem ao desenvolvimento da doença ou se a própria doença estaria prejudicando a síntese da vitamina D pelo organismo. É importante lembrar ainda que muitos dos pacientes que desenvolvem formas graves da Covid-19, como os idosos e pessoas com obesidade, também têm, por conta do envelhecimento ou das condições anteriores, maior prejuízo na síntese da vitamina.

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"Às vezes, as coisas se confundem. Se é a deficiência [da vitamina D] que causa uma forma mais grave da doença [Covid-19], ou se são duas situações que acontecem em uma pessoa com uma saúde mais debilitada. A grande questão com relação à vitamina D é essa", explica Marise Lazaretti Castro, médica endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que vem acompanhando a discussão sobre a vitamina D e Covid-19 desde o ano passado.

Segundo a especialista, os estudos que darão essa resposta são os chamados "padrão-ouro" da pesquisa clínica, os RCT – sigla em inglês para ensaios clínicos randomizados e controlados – desde que desenhados para avaliarem a ação da substância. Neste caso, milhares de participantes se dividem em dois grupos:

  • Um grupo recebe a vitamina D;
  • Outro recebe um placebo, ou uma substância inócua;
  • Nenhum participante, e nem os médicos envolvidos na pesquisa, saberia em qual grupo cada voluntário está. Neste caso, o estudo é chamado de duplo-cego;
  • Passado um tempo, os pesquisadores retiram o "cegamento" da pesquisa verificando onde cada participante está e, dependendo da quantidade de infecções identificadas em cada um, calcula-se a ação daquele medicamento, ou da vitamina, para o efeito avaliado.

Por exemplo, ao verificar quantos pacientes que receberam a vitamina D e desenvolveram formas graves da Covid-19, em comparação ao grupo controle/placebo, pode-se avaliar a ação da substância na prevenção de uma evolução severa da doença.

"O estudo randomizado, controlado por placebo, duplo-cego, esse é o modelo ideal e é isso que está faltando ainda. Até há dois estudos, um desenvolvido na Espanha e outro na Índia, que viram uma resolução mais rápida da doença entre pessoas que receberam doses mais altas da vitamina D, mas eram pequenos e feitos em um centro só. Precisamos de estudos maiores", explica Castro.

Vitamina D baixa? Alerta de infecções

Pesquisas clínicas que apontam para uma associação também têm valor importante, de acordo com Victoria Borba, médica endocrinologista chefe do serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (SEMPR/HC/UFPR).

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A especialista é uma das coordenadoras de um estudo conduzido do HC/UFPR que avalia a deficiência de vitamina D em pacientes internados no hospital por Covid-19. Até o momento, foram avaliados 90 pacientes, além de 30 no grupo controle, com uma média de 54 anos, característica de sobrepeso e com a vitamina dosada entre 24 a 48 horas após a internação.

A pesquisa ainda não foi concluída, mas resultados preliminares repassados por Borba indicam que a maioria (56%) dos pacientes tinham uma redução na vitamina D. Faltam ainda os dados do grupo placebo. As informações completas deverão estar disponíveis nos próximos meses.

Segundo a pesquisadora, o estudo não se propõe a mostrar uma interferência da vitamina D na evolução natural da doença, mas poderia transformar, futuramente, a deficiência da vitamina em um marcador de doença grave. "Nós temos enzimas que, quando temos doenças mais graves, elas entram em ação e degradam a vitamina D. Elas que controlam os níveis e, quando a pessoa fica doente, com alguma infecção, elas estão mais ativas", explica.

Vitamina D e a imunidade

É de conhecimento da comunidade científica que a vitamina D interfere no sistema imunológico, inclusive contra infecções respiratórias graves. De acordo com Marise Lazaretti Castro, médica endocrinologista, como a Covid-19 é uma infecção respiratória aguda, surgiu a dúvida se que a vitamina poderia ajudar.

"Mas também tem outro aspecto: a vitamina D funciona para quem tem deficiência. Para quem não tem, não vai ter benefício, ao que se sabe até agora. Como tem muitas pessoas com deficiência, especialmente os idosos, obesos, doentes crônicos e diabéticos, que são também grupos de risco para a Covid-19, poderia ter uma ação", destaca.

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Tomar ou não tomar?

Na dúvida, a orientação dos especialistas em Endocrinologia é: evite a deficiência da vitamina D no organismo com as medidas naturais, sempre que possível. Assim, exponha-se ao sol de maneira saudável, e suplemente se for necessário.

Segundo a especialista Marise Lazaretti Castro, pessoas que se encaixam em grupos de risco para a deficiência da vitamina, como idosos, obesos, diabéticos, gestantes, pessoas com doenças crônicas e doenças inflamatórias, devem buscar auxílio médico para a dosagem e possível suplementação.

"A suplementação com as doses habituais vão de 400 a 2 mil unidades. Cresce conforme a idade aumenta. Crianças podem tomar 400 unidades; adolescentes entre 600 a 800; adultos 800 e, no idoso, após os 60 anos, mil a 2 mil por dia", explica a especialista, que argumenta que esse valor, entre os idosos, não gera deficiência e nem intoxicação, porque os idosos tendem a não sintetizar a vitamina D de forma suficiente.

"Pessoas com obesidade precisam de doses até maiores, porque leva-se em consideração no cálculo o peso da pessoa. Outro grupo muito propenso a ter deficiência são das pessoas que se passaram pela cirurgia bariátrica, pois podem ter uma absorção ruim da vitamina D. O ideal seria que eles dosassem, e que tomassem a quantidade recomendada", reforça Castro.

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Intoxicação

A intoxicação pela vitamina D existe e pode gerar danos importantes à saúde da pessoa. Pessoas que ingerem valores 10 vezes acima das doses habituais podem ter sintomas como:

  • Náusea;
  • Vômito;
  • Emagrecimento importante;
  • Mal estar;
  • Poliúria (vontade excessiva de urinar);
  • Desidratação;
  • Aumento na quantidade de cálcio no sangue;
  • Insuficiência renal.

"A pessoa pode evoluir para uma parada cardíaca. É grave, porque a vitamina fica depositada no fígado, na gordura, e não consegue tirar do corpo rapidamente. Alguns pacientes precisam fazer diálise", lista Victoria Borba, médica endocrinologista.

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