Aos poucos, a variante brasileira do novo coronavírus — chamada como P.1. ou variante de Manaus — passa a ser melhor conhecida pelos especialistas. Dois estudos, realizados por pesquisadores brasileiros e divulgados no fim de fevereiro, mas ainda não revisados por outros pesquisadores, trazem algumas evidências, como:
- A variante teria emergido em novembro em Manaus;
- Seria até duas vezes mais transmissível;
- Aumentaria em até 10 vezes a carga viral no organismo humano;
- Poderia causar reinfecções.
Um dos estudos foi conduzido por pesquisadores do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE). Nas conclusões, os especialistas verificaram — a partir da análise genômica de 184 amostras de secreção nasofaríngea de pacientes com a Covid-19 — que a variante P.1. teria emergido em novembro em Manaus. Em sete semanas, tornou-se a linhagem do vírus mais prevalente na região. Os principais resultados foram divulgados pela Agência Fapesp.
Outra conclusão do grupo, coordenado por Ester Sabino, da USP, e por Nuno Faria, da Universidade de Oxford, foi com relação à maior transmissibilidade dessa variante. Por meio de uma modelagem matemática, eles calculam que a P.1. seja entre 1,4 a 2,2 vezes mais transmissível que as linhagens anteriores.
Sobre o risco de reinfecção, os pesquisadores estimam que, das pessoas que já foram infectadas pelo novo coronavírus, o vírus poderia ser capaz de driblar o sistema imunológico em 25% a 61% delas.
"Esses números são uma aproximação, pois se trata de um modelo. De qualquer modo, a mensagem que os dados passam é: mesmo quem já teve Covid-19 precisa continuar se precavendo. A nova cepa é mais transmissível e pode infectar até mesmo quem já tem anticorpos contra o novo coronavírus. Foi isso que aconteceu em Manaus. A maior parte da população já tinha imunidade e mesmo assim houve uma grande epidemia", explica Sabino, em entrevista à Agência Fapesp.
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Aumento da quantidade de vírus no organismo
Em outro estudo, divulgado no fim de fevereiro e conduzido pela Fiocruz Amazônia, os pesquisadores sugerem que, além de ser mais transmissível, a variante P.1. aumentaria a quantidade de coronavírus replicado dentro do organismo humano em até 10 vezes.
Para chegar a esse resultado, foram sequenciados os genomas de 250 amostras de pacientes diagnosticados com Covid-19 entre os meses de março de 2020 a janeiro de 2021.
"Os níveis do RNA do Sars-CoV-2 nas amostras de infecções com a variante P.1., especialmente entre adultos (18-59 anos), foi 10 vezes maior que o nível detectado em infecções que não eram da variante P.1.; isso sugere que indivíduos adultos, infectados com a variante P.1., são mais infecciosos que os que abrigam o vírus não-P.1.", destacam os autores no estudo, que foi publicado na plataforma Research Square.