Ao longo de 2020, as secretarias estaduais e municipais de Saúde no Brasil terão um desafio a mais, que vai além do controle do novo coronavírus. Como imunizar a população com as vacinas de rotina sem favorecer a aglomeração de pessoas e sem prejudicar o combate da Covid-19?
No fim de março, a Iniciativa Global de Erradicação da Poliomielite (GPEI, na sigla em inglês) orientou que todas as campanhas de prevenção à doença, causadora da paralisia infantil, deveriam ser postergadas para o segundo semestre de 2020. O objetivo é diminuir o risco de que o coronavírus se espalhe nas comunidades atendidas, bem como entre os profissionais de saúde que aplicam as vacinas.
O mesmo foi adotado por pelo menos 20 países no que diz respeito à prevenção do sarampo, conforme publicação da revista Scientific American. Embora a letalidade da Covid-19 seja pouco maior (3,4%) em relação ao sarampo (2,2%), a taxa de transmissão do segundo é consideravelmente superior. Uma pessoa infectada pelo novo coronavírus pode repassar a doença a outras duas a três. Já o sarampo é transmitido entre 15 novos doentes, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Vacinação de rotina continua no Brasil
Por enquanto, o Programa Nacional de Imunização no Brasil não sofrerá qualquer mudança, e as campanhas de vacinação, bem como as vacinas ofertadas, serão mantidas, conforme informações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
"Nós sabemos que a vacinação de rotina não pode ser abandonada. E ao mesmo tempo temos que considerar o isolamento social. Esse é o desafio", explica Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm e membro do grupo consultivo Vaccine Safety Net, da Organização Mundial da Saúde (OMS). A resposta, segundo a médica, está em ofertar estratégias diferentes para a vacinação de rotina, e isso será definido por cada município.
Caso haja uma redução ou paralisação das vacinas, os estados poderão sofrer com surtos de duas ou mais infecções. Vale lembrar que, conforme dados do Ministério da Saúde, em 2019 o país registrou mais de 18 mil casos de sarampo. Até o fim de março, a doença já havia atingido cerca de mil pessoas, sendo a maior parte no estado de São Paulo.
"Sabemos que, se pararmos a vacinação, podemos ter um retrocesso grande. Nenhuma doença que podemos prevenir pela vacina é leve. Todas são graves. Não podemos ter mais de um surto ao mesmo tempo", reforça a médica.
Vacinas nas escolas
Em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a SBIm lançou recomendações de como manter a vacinação em dia sem causar maior risco à saúde pública.
Dentre as sugestões, eles indicam a vacinação em escolas, clubes e igrejas (locais que possuam espaços amplos e que hoje estão fechados diante da pandemia), bem como horários diferentes para a vacinação de crianças e adolescentes.
"No Rio de Janeiro, a secretaria fez a vacinação de idosos por drive thru, e não fechou as UBS para a vacinação de rotina. Em Santa Catarina, alguns municípios optaram pela vacinação domiciliar. Não podemos negligenciar a Covid-19 de maneira nenhuma, e nem as condutas que precisam ser seguidas, que é não sair de casa. Mas as autoridades públicas devem buscar estratégias alternativas para que a campanha da influenza se mantenha, e vai ser mantida, além das outras", explica.
Vá de máscara
Caso seja necessário sair de casa para se vacinar, algumas medidas - já conhecidas do público - devem ser mantidas, como:
- Use a máscara quando sair de casa;
- Saia em um horário com menor movimento no posto de saúde ou onde a vacina será aplicada;
- Caso veja que há um movimento maior, mantenha-se distante e chegue mais próximo quando o local esvaziar;
- Siga as mesmas recomendações dadas a outras situações, como ida ao mercado ou à farmácia.