Além de melhorar a proteção das vacinas, as medidas de proteção ajudam a reduzir o risco de surgimento de novas variantes.| Foto: Bigstock
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A principal tarefa das vacinas contra a Covid-19 está em reduzir o risco de que as pessoas desenvolvam formas graves da doença e acabem hospitalizadas ou morrendo por complicações da infecção. Mas prevenir a doença por completo e a transmissão para outras pessoas nem sempre é fácil, e não depende só das vacinas.

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No fim de julho, dados de um documento interno do Centro para Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) destacam que as pessoas infectadas com a variante Delta – mesmo aquelas vacinadas com as duas doses – poderiam transmitir o vírus da mesma forma que os não vacinados.

Esta variante, por ser mais transmissível, tem sido a mais prevalente nos casos recentes da doença nos Estados Unidos. No Brasil, há pelo menos 570 casos identificados da Delta em 14 estados, além do Distrito Federal. Nesta sexta-feira (13), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, disse que a cidade era o "epicentro da variante Delta" no país.

"As vacinas, neste momento, protegem a evolução para casos graves, mas não têm uma eficácia muito grande em termos de proteção da infecção. Então as pessoas vacinadas podem transmitir, e por isso a importância de usar a máscara, manter o distanciamento e o álcool em gel. Tudo isso é preconizado até que se consiga controlar melhor a infecção", explica João Viola, médico e pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e presidente do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.

Ainda que a transmissão aconteça a partir de vacinados, se o vírus encontrar cada vez mais pessoas protegidas – vacinadas com as duas doses e adotando os demais cuidados –, a tendência é de que, gradativamente, a transmissão também diminua, segundo o especialista. "A vacinação não protege 100%, mas melhora [a reduzir] a transmissão. Quanto mais pessoas vacinadas, vai chegar um momento em que diminui a transmissão e a circulação do vírus, prevenindo o surgimento de novas variantes", destaca.

Para acelerar esse processo, a vacinação deve ser mantida e associada às outras medidas, como:

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  • Uso das máscaras faciais: de preferência as mais reforçadas, como as PFF2 ou máscaras cirúrgicas associadas a outras;
  • Priorização de ambientes ventilados, para diminuir o risco da concentração do coronavírus no ar;
  • Distanciamento social;
  • Higienização das mãos.

Prevenindo novas variantes

De que forma as pessoas vacinadas, e adotando os cuidados como o uso da máscara e ventilação, colaboram com a prevenção de novas variantes? Para a resposta, é preciso entender como elas surgem.

Cada vez que o coronavírus entra nas células humanas para se replicar, erros no processo podem ocorrer, mudando algumas características dos vírus. Alguns erros levam a versões que conseguem se disseminar de forma mais fácil, ou se defendem melhor ou, ainda, se replicam mais facilmente. Outras, menos.

As versões que não favorecem a "sobrevivência" do agente patogênico acabam substituídas pelas variantes mais eficientes. É o caso da Delta, que tende a ser mais transmissível e cuja prevalência já substituiu outras variantes, como ocorreu no Reino Unido, África do Sul e nos Estados Unidos.

Quando há uma alta circulação do vírus em uma comunidade, entrando e se replicando em diferentes hospedeiros (no caso, o ser humano), maior o risco de surgimento destas variações – que podem ser mais transmissíveis ou causar doenças mais graves.

"Essas variantes surgem com a grande disseminação dos vírus. Como a gente diminui a geração de variantes? Diminuindo a circulação dos vírus. Quanto menos pessoas infectadas, menor a disseminação e menor a possibilidade de gerar variantes. Com mais vacinação, há diminuição na circulação e certamente ocorre a prevenção a novas variantes", explica Viola.

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Estou vacinado, mas estou protegido da Delta?

Nenhuma vacina vai garantir 100% de eficácia. Isso vai depender, além do esquema vacinal realizado (uma ou duas doses), de quais outras medidas de proteção foram adotadas e da carga viral à qual a pessoa foi exposta, ou da circulação do vírus naquele momento.

Com relação à Delta, alguns estudos demonstraram uma redução na eficácia geral dos imunizantes, o que gerou também o debate sobre a adoção da terceira dose, ou dose de reforço. Ainda assim, não está claro se a variante é responsável por uma Covid-19 mais grave, apesar de se mostrar mais transmissível que as outras, segundo explica Ana Karolina Barreto Marinho, médica imunologista e alergista, membro do Departamento Científico de Imunizações da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai), além de médica assistente no serviço de Imunologia e Alergia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Mas, de forma geral, as vacinas – principalmente as duas doses – têm se mostrado protetoras contra formas graves. Nos Estados Unidos, por exemplo, 97% dos hospitalizados por Covid-19 nesta nova onda da doença são pessoas não vacinadas. Vale lembrar que a variante Delta é a prevalente no país.

De acordo com João Viola, diretor do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, também não é do "interesse" do vírus se tornar mais patogênico, ou gerar uma doença mais grave. "É uma discussão de adaptação viral. Os agentes patogênicos [como os vírus] que são extremamente patogênicos, e que eventualmente levam o hospedeiro ao óbito, não vão ter uma adaptação. Quando o hospedeiro morre, ele também morre, e não tem uma disseminação. O Ebola é assim. O índice de mortalidade é de até 90%, e não há uma disseminação muito grande porque não dá tempo."

Para Marinho, apesar das incertezas com relação às variantes e vacinas, as medidas de proteção devem continuar. "O uso de máscara, o relativo distanciamento, respeitando a incidência da doença em cada cidade, são mandatórios. Não dá para tirarmos isso, até que a situação esteja sob controle. Vacinados ou não vacinados, o uso de máscara é fundamental, nesse momento, pensando não só no vírus clássico, mas também na variante", explica.