Além da Língua Brasileira de Sinais (Libras), pessoas com dificuldade auditiva utilizam expressões faciais e leitura labial| Foto: Divulgação/Campanha Máscaras Amigas
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Antes da pandemia, bastava a psicóloga Celma Siqueira Gomes fazer leitura labial e analisar as expressões faciais de seus interlocutores para manter uma comunicação clara com quem não conhecesse a Língua Brasileira de Sinais (Libras). No entanto, assim que o uso de máscaras se tornou obrigatório como medida de prevenção contra a Covid-19, ela não conseguiu mais fazer isso, e atividades simples do dia a dia passaram a ser motivo de estresse. “Recentemente, por exemplo, precisei de um remédio e tive que pegar meu celular para mostrar o que eu queria, porque não teve outro jeito de nos entendermos”, relata a paranaense.

Só que a jovem de 31 anos não é a única a enfrentar essa dificuldade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 10 milhões de brasileiros possuem ausência total ou parcial da audição. Com isso, todos têm enfrentado dificuldades no atendimento em locais como supermercados, postos de saúde e outros estabelecimentos públicos que exigem uso de máscaras atualmente.

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“A gente até tenta escrever ou fazer algum gesto que o funcionário compreenda, mas eles costumam ficar nervosos e não têm paciência para tentar outra forma de comunicação”, lamenta a arquiteta Katherine Fischer. Com surdez bilateral profunda desde bebê devido a um quadro grave de meningite, ela aprendeu a conversar por meio de Libras e afirma que os sinais, sozinhos, não são suficientes para interpretar corretamente o que a outra pessoa quer dizer. Isso porque “as expressões faciais fazem parte da Língua Brasileira de Sinais”.

Com isso, diálogos simples entre pessoas da mesma família e até situações mais complexas – como o acesso às notícias –, têm sido prejudicados e fazem com que os deficientes auditivos se sintam em um isolamento mais intenso que o restante da população. “Não conseguimos entender os pronunciamentos dos governantes e acabamos perdendo muita coisa importante”, lamenta Celma, que considera a situação constrangedora e uma demonstração clara de falta de empatia.

Máscaras inclusivas

No entanto, ela garante que o problema não é o uso das máscaras, e sim o modelo adotado para proteção. “O ideal é que elas tenham uma tela transparente costurada ao redor da boca, permitindo a leitura labial”, explica. Por isso, como presidente da Associação dos Surdos de Curitiba (ASC), Celma decidiu se unir a outras entidades do país em uma campanha para arrecadação de máscaras inclusivas como essas.

A ação foi chamada de “Máscaras amigas” e pretende arrecadar cerca de 5 mil itens de proteção como esse para doar aos familiares de deficientes auditivos residentes no Paraná e em São Paulo. Além disso, a campanha tem o objetivo de estimular o uso desse modelo em comércios e outros locais de atendimento à população a fim de facilitar o contato com deficientes auditivos que cheguem ao local.

Para colaborar, basta realizar uma doação por meio da página da campanha ou entrar em contato diretamente com a ASC no Facebook ou pelo WhatsApp (41) 98761-8668.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]