Começar o ano praticando uma atividade física é objetivo de muita gente. Entre os exercícios mais procurados, porque quase sem custos, está a corrida. Porém, quando alguém se decide pela modalidade, muitas das vezes ouve de outro praticante sobre a importância de se corrigir a pisada antes de começar o treino.
O teste da pisada costuma ser feito em uma esteira onde o indivíduo caminha e que pode ter câmeras e sensores que detectam o estilo da caminhada. Há a pisada supinada (cujo apoio se dá para o lado de fora do pé), a pronada (para dentro) e a neutra. Entretanto, após esse diagnóstico, muitas vezes o praticante recém-iniciado na atividade é encaminhado a buscar um tênis para “corrigir” sua pisada, principalmente quando não avaliada como neutra.
Para o médico ortopedista Leonardo Elias, do Hospital XV, que tem recebido no consultório cada vez mais gente preocupada com a pisada, o grande erro desse processo de ‘correção’ está no desconhecimento da biomecânica da marcha. “Quando você tem uma pisada pronada e usa um tênis supinado para fazer a correção, você leva a alterações biomecânicas que vão te levar, provavelmente, a lesões”, diz ele. “Para chegar àquela posição do pé, a dinâmica do corpo respeita algo que vem de cima: a pessoa pode ter um quadril mais antevertido ou retrovertido, o joelho pode ser vago ou valgo e o pé pode ser mais plano, resultando em um tipo ou outro de pisada”.
Desde criança, quando existe a formação óssea e de tecido músculo esquelético, ocorre toda uma compensação biomecânica determinada por fator genético. “Então, quando se tentar corrigir isso, você causa um distúrbio biomecânico para o joelho, quadril e coluna, causando dor em articulações por começar a pisar de forma diferente de como sempre se pisou”, diz.
Pisada não patológica
Os efeitos de uma ‘correção’ desnecessária são as lesões por sobrecarga, cujos principais sintomas são as dores. “Muitas vezes uma dor que o atleta não tinha quando corria, a partir dessa correção ele vai compensar e a dor vai começar a aparecer”, diz ele, que assinala que não existem, em geral, pisadas realmente problemáticas em relação a exercícios.
O médico ortopedista Leonardo Elias diz que, sim, quem tem pisada pronada ou supinada pode se beneficiar do uso de algumas palmilhas, não um tênis corretivo. “Mas apenas para aliviar um pouco, para se sentir mais confortável dentro da pisada dele, não como correção da pisada”, diz ele.
Quem pisa para dentro e sempre ouve de sua mãe para forçar a pisada para fora, o ortopedista diz que pessoas que pisam desse modo não significam problema, mas normalmente ocorre porque a pessoa tem um aumento da anteversão do quadril. “O problema não está no pé”, finaliza.
Tênis ideal
Independentemente da pisada, o tênis ideal, para o ortopedista, é o para pisada neutra. É importante ficar de olho em onde o calçado vai se gastando, então o ideal é trocar o tênis, o que acontece, mais ou menos, a cada seis meses, ou 500 km. “Quando fica gasto, ele perde a capacidade de dar um apoio completo ao pé e começa a te jogar e a forçar o teu joelho mais para vago ou valgo e aí você começa a ter problema”, diz ele.
Não exceda
O excesso da corrida não é bom tanto para a parte osteomuscular, quanto para a cardiovascular. Segundo o ortopedista, é comprovado que se você passar de determinada quilometragem por semana, em vez de você diminuir você aumenta a chance de eventos negativos cardiovasculares no organismo. “Cuidar do peso e segurar para não correr demais por causa da empolgação causada pela liberação de serotonina, é preciso”, diz ele.